Desenvolvimento pessoal

2020: o ano que não aconteceu

Sobre baratas, Marlon Brandon e outras revelações nada sabaticosas deste nosso não-ano
Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Compartilhar:

Assim como um inseto asqueroso, não somos mais do que hóspedes de passagem por este ‘pálido ponto azul no universo’, como diria o astrofísico Carl Sagan. Mas a nossa (pretensa) inteligência superior nos ilude, e damos por certo que a Terra gira ao redor do umbigo humano.

O avanço científico e tecnológico que nos permitiu voar, alterar cadeias genéticas, curar doenças e aumentar nossa longevidade contribui com essa sensação de onipotência. Temos poderes dignos de deidades, ora! Somos até capazes de ensinar máquinas a raciocinar como gente e.. ops, isso já seria suficiente para colocar em dúvida toda essa nossa inteligência…

Vivemos o mito de Narciso, sem nos darmos conta de que somos apenas um mísero ser entre os mais de 8 milhões que habitam – temporariamente – o planeta. O mundo perde três espécies por hora, segundo a ONU. Nem sempre por causa de um meio ambiente hostil. Há vezes em que o fim está ligado ao desrespeito aos limites. E isso não acontece apenas com animais dito irracionais.

Dá pra dizer que, à nossa maneira, estamos cometendo os mesmos erros que os Maias, Rapa Nui, Khmer, Caetés: invadimos espaços onde não somos bem-vindos, mudamos a paisagem e o relevo com edificações e desmatamento; transferimos plantas e animais de seus habitat naturais; descartamos lixo desordenadamente; consumimos bem mais do que precisamos. Agredimos o planeta. Vai ter revide.

A redução da atividade econômica e o isolamento social causados pela pandemia de Covid-19 tiveram muitos impactos sobre o meio ambiente. Positivos e negativos.
Durante esse período, multiplicam-se fotos do pôr do sol e de praias que exibem um espectro inédito de cores. Também estão aparecendo animais silvestres que não costumavam se aproximar de áreas habitadas por homens. Bichos recuperando domínios perdidos? Eu mesmo já me surpreendi com tucanos e araras na minha vizinhança. Os noticiários mostram jacarés, pacas e lobos se deslocando em cidades pequenas ou invadindo residências.

### Menos poluição do ar, sonora e visual. Mais vida e diversidade.

Até a qualidade do ar melhorou, sobretudo nas grandes cidades. Usamos menos energia elétrica, o que permitiu a recuperação dos níveis dos reservatórios de água. O consumo de gasolina baixou 35% e o de diesel, 25%. As emissões de carbono caíram 5.5% durante a pandemia – leia-se 2,5 bilhões de toneladas de CO2 a menos. Maravilha, não fosse o fato de a ONU estimar que seria necessária uma redução de 7,6% da emissão de CO2, por 10 anos seguidos, para evitar desastres ambientais…

### E o efeito no meio ambiente é apenas um aspecto.

Obviamente, a perda de vidas humanas é a consequência mais lamentável. Mas ainda vamos conviver por algum tempo com os impactos na atividade econômica, o aumento do desemprego e seu desenrolar sociológico (escalada da violência doméstica, feminicídio, casos de divórcio, abandono de animais domésticos). E, no meio disso, fraudes para todos os gostos: superfaturamento na gestão da crise da saúde, malversação de recursos públicos, desrespeito às determinações para combater a evolução da pandemia por parte da população.

Minha desesperança atinge o limite, quando vejo comportamentos como o revenge buying, fenômeno que está lotando o comércio na retomada à normalidade de alguns países. Pensemos juntos: depois de tanta privação, sofrimento e reinvenção pessoal, tudo o que a gente sonha é simplesmente retomar a vida? Vamos descartar esse monte de lições, que pode nos levar a um outro patamar evolutivo, pra descer o lance de escadas que restabelece uma realidade que não nos representa mais?

Não sei exatamente o porquê, mas o filme Apocalypse Now, que tem a guerra do Vietnam como cenário, me veio à mente esses dias, como uma analogia ao que estamos vivendo. O que me toca em especial são as aparições de um Marlon Brando – vaga lembrança do que ele foi na juventude – no papel do Coronel Kurt. E, na sequência, me vêm também cenas de um mundo tipo Mad Max e todas essas produções com temática de fim de mundo.

Talvez um dia alguém faça um filme sobre 2020 – o ano que não aconteceu. Não tenho ideia de como será, mas as críticas que li sobre Apocalypse Now são bem
apropriadas ao atual reality show da pandemia:

*“Não é tanto sobre a guerra, mas sim como a guerra revela verdades que ficaríamos mais felizes em nunca descobrir”.*

O planeta e as baratas sobreviverão à espécie humana.

Compartilhar:

Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados

ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura
ESG
Atualmente, 2,5% dos colaboradores da Pernambucanas se autodeclaram pessoas trans e 100% dos colaboradores trans da varejista disseram que se sentem seguros para ser quem são dentro da empresa.

Nivaldo Tomasio

5 min de leitura
Marketing
A integração entre indicadores de trade marketing e inteligência competitiva está redefinindo o jogo corporativo. Monitorar a execução no PDV, antecipar tendências e reagir com agilidade às mudanças do mercado não são mais diferenciais, mas exigências para a competitividade. Utilizar dados como fonte de insights estratégicos é o caminho para decisões mais rápidas, investimentos otimizados e resultados superiores.

Arthur Fabris

4 min de leitura
Liderança
O novo capítulo do mundo corporativo já começou a ser escrito. Sustentabilidade, transformação digital humanizada e agilidade diante das incertezas globais são os pilares que moldarão líderes visionários e organizações resilientes. Não basta acompanhar as mudanças; é preciso liderá-las com ousadia, responsabilidade e impacto positivo.

Luiz Soria

3 min de leitura
ESG
Apesar dos desafios históricos, as mulheres seguem conquistando espaço no setor de tecnologia, enfrentando a falta de representatividade, dificuldades de financiamento e preconceitos. Iniciativas como o W20 no G20, o PrograMaria e o RME Acelera impulsionam essa transformação, promovendo inclusão e igualdade de oportunidades.

Ana Fontes

4 min de leitura
Marketing
Segundo pesquisa do Instituto Qualibest, houve um aumento de 17 pontos percentuais no número de pessoas assistindo ao programa, em comparação à última edição. Vamos entender como o "ouro televisivo" ainda é uma arma potente de marketing brasileiro.

Carolina Fernandes

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Estratégia e execução, Gestão de pessoas

Lilian Cruz

5 min de leitura
Inovação
A inovação é uma jornada, não um destino. Evitar esses erros comuns é essencial para construir um caminho sólido rumo ao futuro. As empresas que conseguem superar essas armadilhas e adotar uma abordagem estratégica e sistêmica para a inovação terão uma vantagem competitiva significativa em um mundo cada vez mais dinâmico e imprevisível.

Guilherme Lopes

6 min de leitura
Empreendedorismo
Insights inovadores podem surgir de qualquer lugar, até mesmo de uma animação ou evento inesperado. Na NRF 2025, aprendemos que romper bolhas e buscar inspiração em outras áreas são passos essenciais para lideranças B2B que desejam encantar, personalizar e construir conexões humanas e estratégicas.

Fernanda Nascimento

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
O setor de Recursos Humanos enfrenta um momento crucial de transformação, equilibrando inovação tecnológica, diversidade e bem-estar para moldar uma cultura organizacional mais ágil, inclusiva e orientada ao futuro.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura