Diversidade

2021, o ano da mulher olímpica, já é histórico

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, as mulheres deram visibilidade aos seus anseios e mostraram sua força nas competições: ganharam medalhas e questionaram quem determinar as regras do jogo, tanto no aspecto esportivo quanto moral
Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.

Compartilhar:

As Olimpíadas de Tóquio ficarão marcadas por alguns ineditismos, dentre eles, a paridade feminina com os homens. Nunca houve uma edição dos Jogos com tamanho destaque às atletas, a começar pelo percentual que ocupamos no Japão: quase 49% entre os participantes do maior evento esportivo do mundo – feito que promete ser replicado também nos Jogos Paraolímpicos, previstas para iniciarem no final de agosto.

Ao longo da história, atitudes pontuais e movimentos femininos foram, aos poucos, abrindo caminho para que, hoje, os Jogos Olímpicos chegassem mais perto do que nunca da igualdade de gênero.

No caso do Brasil e sua conquista inédita de 21 medalhas, encerrando a competição com a melhor campanha na história das Olimpíadas (12º lugar no quadro geral de medalhas), as mulheres trouxeram 41% dos pódios, mostrando que a representatividade também foi proporcional aos resultados.

O debate sobre a importância de mais [mulheres ocupando cargos de representatividade](https://www.revistahsm.com.br/post/reservado-para-a-cadeira-feminina) não é novo por aqui. Faço questão de abordar este tema em artigos sempre que posso. O que nossas atletas trouxeram para esta edição das Olimpíadas, contudo, foi muito além de resultados e pontuações.

## Lutas, visibilidade e referências

Se a pandemia da Covid-19 demonstrou a destreza das mulheres quando as coisas estão ruins, no esporte, a mensagem veio por meio do exemplo.

Da pausa necessária para ginasta americana Simone Biles, priorizando a saúde mental em detrimento dos esperados pódios, passando pela delegação de ginástica alemã, protestando contra a sexualização ao se apresentar com calças compridas, ao gesto feito com os punhos pela americana Raven Saunders, em apoio às minorias, ao receber sua medalha de prata no arremesso de peso.

As mensagens que as mulheres emitiram em Tóquio prometem ecoar e ultrapassar as competições olímpicas para desembarcar em nosso cotidiano. Um dos exemplos mais emblemáticos de manifestações pela [equidade de gênero](https://www.revistahsm.com.br/post/da-equidade-de-genero-a-lideranca-feminina) saiu, justamente, das quadras.

Billie Jean King é uma das maiores atletas de todos os tempos, com mais de 39 Grand Slams ao longo da carreira. A ex-tenista foi uma das primeiras mulheres a brigar por igualdade dentro dos esportes, principalmente no tênis.

Em 1955, Billie estava com 12 anos quando foi barrada de uma foto oficial de um torneio juvenil por escolher usar shorts, e não as saias, usadas por mulheres na época. Seis décadas depois e o debate sobre os uniformes em competições ainda continua.

Tomando como exemplo o caso dos vestuários, embora o Comitê Olímpico Internacional (COI) não controle diretamente estas políticas, ele defendeu regras mais justas em sua Revisão de Igualdade de Gênero de 2018 para “garantir que os uniformes de competição reflitam os requisitos técnicos do esporte e não tenham quaisquer diferenças injustificáveis”.

De volta às quadras depois de retornar de licença-maternidade, a estrela do tênis Serena Williams dedicou seu traje no torneio de Roland Garros em 2018 “a todas as mães que tiveram uma gravidez difícil”.

Serena teve complicações no pós-parto e sua experiência a fez investir US$ 3 milhões, por meio de sua ONG Serena Ventures, para melhorar os cuidados perinatais e pós-parto para mães e bebês.

## Quem determina as regras do jogo?

O que isso significa para todas as mulheres? O que podemos refletir nos nossos ambientes sobre mensagens dessa natureza? Uma das principais lições que temos de aprender é sobre quem dita as regras do jogo.

A pandemia acelerou tempos que já vinham mudando. As percepções de liderança eficaz mudaram visivelmente nos últimos 18 meses. Tenho esperanças de que o resultado será uma revisão dos comportamentos de todos os líderes de sucesso que irão trabalhar na cocriação de uma nova era.

No momento, porém, muitas empresas, por meio de critérios de sucesso desatualizados, seguem inadvertidamente incentivando as mulheres a se comportar mais como homens se quiserem liderar ou ter sucesso. Na década de 2020, que acaba de começar, isso deve ser revertido.

No ambiente dos negócios, por exemplo, pesquisas indicam que as mulheres tiveram uma classificação mais elevada em competências valorizadas em uma crise, incluindo tomar iniciativa, agir com resiliência, praticar o autodesenvolvimento e exibir integridade.

Podemos, de fato, estar presenciando uma transição entre os modelos tradicionais que recompensam as habilidades de comando, controle e de busca por resultados, para uma dinâmica que abre mais espaço para habilidades relacionais, como a conquista por respeito, inspiração para o alto desempenho e a trabalhar de forma mais colaborativa. Tenho certeza de que tanto eu, quanto minha filha Cora, hoje com 7 anos, veremos isto acontecer.

*Gostou do artigo da Elisa Tawil? Confira artigos e reportagens semelhantes assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e ouvindo [nossos podcasts](https://mitsloanreview.com.br/podcasts) na sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Já notou que estamos tendo estas sensações, mesmo no aumento da produção?

Leandro Mattos

7 min de leitura
Empreendedorismo
Fragilidades de gestão às vezes ficam silenciosas durante crescimentos, mas acabam impedindo um potencial escondido.

Bruno Padredi

5 min de leitura
Empreendedorismo
51,5% da população, só 18% dos negócios. Como as mulheres periféricas estão virando esse jogo?

Ana Fontes

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura