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A nova “velha” liderança

Na coluna deste mês, Alexandre Waclawovsky explora o impacto das lideranças autoritárias e como os colaboradores estão percebendo seu próprio impacto no trabalho.

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Em uma conversa informal com a Cecilia Pinaffi, coordenadora do curso de Liderança Criativa na Miami Ad School, onde sou professor, em preparação para a turma de julho, ao perguntar qual era o perfil das pessoas, ouvi: “outra turma ótima, mas que vem machucada em busca de novas formas de liderar”.

Curioso para entender o que esse “machucado” significava, enviei uma pesquisa anônima, para os 56 alunos, com 3 perguntas:

__1. Como descrevo a liderança na minha empresa em 1 palavra?__

__2. Como descrevo a minha forma atual de liderar em 1 palavra?__

__3. Como descreveria a minha forma desejada de liderar em 1 palavra?__

A resposta em 1 palavra era importante, para evitar divagações ou justificativas, capturando o que vinha à mente.

Abaixo, algumas das respostas, que recebi como um alerta silencioso, de que muito se fala sobre a extinção da modalidade de liderança, por “comando e controle”, mas que na verdade ainda segue presente e ativa.

![Liderança na minha empresa – Wacla](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/1Bqvzg9gOUGuTiKSfsp6Pn/8219810bb4af0877c81405074e274d9d/image.png)

Quase 90% das respostas à pergunta, que pede uma descrição da liderança atuais nas empresas, teve alguma palavra negativa ou desfavorável, o que remete a uma liderança confusa e desequilibrada, que se prende a uma gestão baseada em comando e controle, o que traz sobrecarga.

Quase 80% das respostas à pergunta sobre como “eu lidero atualmente”, vieram com palavras de conciliação ou colaboração, o que indica, que as novas lideranças estão sob pressão, ao tentar navegar entre suas lideranças, que ainda impõe práticas consideradas obsoletas e novas gerações ávidas por modelos mais abertos e participativos.

Note a diferença entre as respostas das colunas como lidero vs. como desejaria liderar, para confirmar essa pressão, especialmente, nos níveis médios das empresas.

Esse “miolo” de lideranças em formação, demonstra apetite para serem mais inspiradoras, engajadoras e equilibradas, mas esbarram num muro de velhas práticas e exemplos das lideranças anteriores, que aparentam grande desconforto em “soltar um pouco mais a corda” do controle.

Não é à toa, que problemas de saúde mental tem crescido e levaram o Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a ocupar o posto de 2º país com mais pessoas ansiosas e o 5º com pessoas em depressão no mundo.

# Algumas reflexões e provocações

__1. Em situações desafiadoras, nosso comportamento, tende a emular o que foi aprendido e “funcionou”__

Durante a aula, uma aluna comentou que estava sobrecarregada, pela baixa qualidade e proatividade de sua equipe. Ao questioná-la por que não dava mais autonomia aos seus liderados, veio a resposta: “se dou autonomia, preciso refazer quase tudo. Raramente, recebo algo com qualidade”.

Repare que essa é uma prática de comando e controle aprendida e praticada, como garantia de trabalho bem-feito. Em situações difíceis, nossa tendência é recorrer aos modelos conhecidos e já praticados versus buscar novas maneiras de atuação.
Dar autonomia, significa ensinar e calibrar o trabalho esperado, mas sem fazê-lo pela pessoa. Ao longo da carreira, aprendi que ao delegar e dar autonomia, não deveria esperar que o trabalho fosse feito à minha maneira, mas que entregasse o resultado esperado.

Parece fácil, mas a tendência em aplicar os nossos filtros de qualidade, nos leva ao microgerenciamento, “refações” e, consequente, desmotivação das equipes em tentar novas formas de fazer.

Notou a diferença? Ao nos colocarmos como filtros de qualidade, desmotivamos e desempoderamos nossas equipes, que ao constatarem que tudo o que fazem será revisado e corrigido, vão passa a devolver qualquer coisa, numa dinâmica de perde-perde e desmotivação.

__2. Quebrar esse molde ou forma, construídos por décadas e que ainda teimam em se manifestar é preciso, diria o Mestre Yoda__

Mudanças são desconfortáveis. Fato! Porém, se não dermos espaço à novas formas de fazer, colaborar e liderar, contribuiremos para a manutenção de espaços de pressão e insatisfação.

Gosto de fazer uma analogia da liderança a um maestro de uma orquestra. Se no passado era exigido que o maestro dominasse todos os instrumentos, preparado para fazer correções na maneira de tocar de qualquer instrumentista, hoje esse mesmo maestro precisa ter a capacidade de extrair o melhor som e talento de seus músicos.

Ao ser um condutor e líder inspirador, ele dará autonomia aos instrumentistas para tocarem de sua maneira, respeitando à partitura ou plano, se preferir.
Já que esse artigo foi elaborado, a partir de um papo com a Cecilia Pinaffi, nada mais justo do que convidá-la para uma reflexão. Aí vai:

__3. Existe uma pressão gigante na liderança por fazer o certo__

Fazer o certo significa atender às expectativas de resultados, o que elimina qualquer possibilidade de erro. Estamos em uma época em que as agendas são infinitas, uma época na qual temos que gerenciar mais e mais atividades ao mesmo tempo, uma época em que as estruturas nas organizações estão cada vez mais enxutas, e os recursos cada vez mais escassos.

Nesse contexto, percebo a liderança fragilizada e tendo que lidar com uma equipe na qual o absenteísmo por questões de saúde mental aumenta cada vez mais, ao mesmo tempo em que essas lideranças têm que lidar com sua própria saúde mental.

Uma possível saída para esse dilema é falarmos sobre emoções, e como elas impactam as relações nas organizações. O letramento emocional é fundamental para reconhecermos e lidarmos com as emoções da forma correta, e esse tema deve ter mais espaços de discussão nas organizações. Admitir suas vulnerabilidades e saber lidar com elas é o primeiro passo para diminuir a sensação da falta de um modelo que substitua o comando e controle

__Convido você a refletir sobre as 3 considerações acima, como forma de reflexão sobre como você é liderado, lidera e gostaria de liderar.__

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