Uma tragédia que deixou mais de 500 mil pessoas desabrigadas, causou mais de 150 mortes e atingiu 446 municípios gaúchos, se tornando o pior desastre climático da história do Rio Grande do Sul. Eventos climáticos extremos estão cada vez mais intensos e frequentes e não se restringem somente ao sul do Brasil. Na segunda semana de maio, as chuvas intensas castigaram também o Maranhão e vários municípios entraram em estado de emergência. Dados da Organização Meteorológica Mundial, agência especializada da ONU, registraram 12 eventos climáticos extremos no Brasil em 2023, entre eles o de ano mais quente já registrado.
As emergências climáticas afetam os direitos humanos, atingem o direito à vida, moradia, alimentação e saúde. Elas parecem “gritar” que precisamos urgentemente acelerar a mitigação de riscos climáticos, o que envolve repensar a forma como vivemos, como fazemos negócios e nossas atitudes como clientes, que influenciam, inegavelmente, em como as marcas se posicionam no mercado.
Elas nos mostram de uma vez por todas que atuar de acordo com as boas práticas ESG se tornou urgente e emergencial. As empresas que não seguirem essa cartilha vão cada vez mais estar sujeitas a riscos reputacionais, de mercado, regulatórios e legais.
No que diz respeito à legislação, ela avança em uma direção sem volta. Destaco as principais iniciativas no Brasil:
– A PL 2148/15 que regulamenta o mercado de carbono e estabelece tetos para a emissão de GEEs (Gases de Efeito Estufa) e um mercado de venda de títulos.
– O BNDES suspendeu os investimentos em térmicas a carvão e reduziu juros de empréstimos a setores que se comprometem com o corte de emissões de carbono, além de exigir contabilidade de carbono para liberar empréstimos.
– O Bacen e o Conselho Monetário Nacional passaram a exigir reporte climático no padrão TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosure), que tornam mais efetiva a divulgação de informações relacionadas a riscos e oportunidades climáticas.
– A B3 exige que empresas listadas incluam ao menos 1 mulher e 1 minoria sub-representada em seus Conselhos de Administração ou equipes executivas. A parir de 2026, as que não o fizerem vão ter de se explicar publicamente.
Para além da legislação, a tragédia do RS também levou algumas empresas a começarem a mapear os riscos climáticos em seus ativos físicos. Elas estão investindo em estratégias de resiliência climática para ter maior previsibilidade e atuar de forma a mitigar riscos para o negócio.
Todos esses fatores conduzem a uma questão que quero deixar para reflexão: ou as empresas reconhecem definitivamente a importância de adotar práticas sustentáveis “para ontem” (especialmente se ainda não iniciaram o movimento), ou elas terão de investir nessa mudança por força da legislação, ou, no pior dos casos, para reparar eventuais danos que podem ocorrer no negócio devido ao impacto dos eventos climáticos extremos.
Para finalizar, quero reconhecer a grande mobilização nacional, vinda de todos os cantos do Brasil, em prol das vítimas da tragédia do RS, o que mostra um senso de coletividade e de colaboração que, para mim, é a marca dos negócios do futuro.
Adotar práticas ESG implica em critérios de governança transparentes e éticos e um olhar para os interesses de todos os atores do ecossistema. Isso implica em novos valores, novas relações e novas estratégias que levam em conta o interesse coletivo além do individual. Só assim a empresa consegue viabilizar um negócio sustentável em todas as frentes: na relação com os colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros e comunidade, na harmonia com o meio ambiente e no resultado financeiro.