Estratégia e Execução
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Desenhe futuros, porque todo amanhã começa hoje

O design de futuros é um processo divergente-convergente, com fases exploratórias e decisórias; oito orientações ajudam a construir caminhos de futuro no curto, médio e longo prazo

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O campo multidisciplinar do design de futuros, que combina análise de dados, tendências emergentes, criatividade, desenvolvimento de cenários e capacidade decisória, cria uma base coerente e robusta para a tomada de decisões estratégicas envolvendo crescimento, inovação e perenidade. Mais do que antever o amanhã (não se deve confundir design de futuros com o que se denomina futurismo), essa abordagem visa moldar o próprio futuro como indivíduo ou organização por meio de visões analíticas, transformações suficientemente planejadas e ações concretas no hoje com impactos do curto ao longo prazos.

Um relatório do Fórum Econômico Mundial mostra que empresas que investem na exploração do futuro estão melhor preparadas para se adaptarem às mudanças rápidas e às incertezas do mundo atual. Ao invés de serem meras espectadoras, essas organizações se tornam agentes de transformação, determinando ativamente os caminhos que seguirão e que definirão o campo competitivo do mercado.

Em um mundo marcado pela velocidade e crescentes transformações, o design de futuros oferece uma bússola confiável para navegar o desconhecido de forma proativa e propositiva. Para além das competências técnicas e comportamentais tão amplamente discutidas e essenciais, o letramento em futuros (sim, no plural) foi apontado em 2022 pelo Fórum Econômico Mundial como a primeira de três competências-chave para o profissional do século 21 em um cenário pós-pandêmico, junto da esperança e da fraternidade.

As transformações e aumentos de velocidades recentes não permitem planejamento de longo prazo baseado na abordagem usual de forecast (previsão) lastreada por modelos calibrados por dados do passado e suas extrapolações; a mentalidade e os raciocínios devem migrar para o campo do foresight estratégico, que é muito mais voltado ao desenvolvimento de visões, cenários e então decisão estratégica, transposição a valor presente e implementação diligente e adaptável dos roadmaps resultantes (que podem envolver tecnologias, pessoas, modelos de negócio, mercados…). É um processo divergente-convergente, respectivamente nas fases exploratórias e decisórias, mas que resulta em portfólios que combinam o core business com novas iniciativas e fornece robusta base estratégica para a inovação e perenidade das organizações ou trajetórias profissionais.

## Oito maneiras de começar a construir o amanhã
Para auxiliar nesse processo, compartilho orientações iniciais para quem se interessar por conhecer o assunto e construir perspectivas no presente que vão ajudar a definir caminhos de curto, médio e longo prazos:

### 1. Entenda a perspectiva do letramento em futuros
Complementando o breve contexto apresentado, vale a leitura do artigo da UNESCO “Futures Literacy: An essential competency for the 21st century”.

### 2. Defina com clareza o escopo e horizonte de futuro que pretende vislumbrar
Por exemplo, você quer vislumbrar o futuro da mobilidade a caminho de 2050. Mesmo nas fases de exploração, nas quais a diversidade de perfis dos participantes do processo e mesmo as fontes e temáticas de pesquisa devem ser bastante amplas, é importante que todos tenham claro o objetivo a se desenhar, ou seja, o futuro de um setor (ou de uma tecnologia, ou de um profissional) e o horizonte temporal vislumbrado (idealmente décadas adiante, para ampliar a capacidade de inovação dos cenários). É recomendável, especialmente nos casos corporativos, que o processo seja conduzido em grupo e de forma participativa.

### 3. Explore os sinais do futuro
Nessa fase, o objetivo é ampliar a consciência sobre os possíveis futuros e compreender a dinâmica e os principais drivers das mudanças. Para tal, no macro, pesquise e mapeie as megatendências 2040 ou 2050 (também chamadas macro forças) de interesse, as quais fogem ao nosso domínio de influência – pense de forma ampla, considerando questões demográficas, tecnológicas, econômicas, geopolíticas, entre outras; em seguida, pesquise e documente os sinais e elementos de transformação (tanto explícitos como, principalmente, os mais disruptivos e menos óbvios) do setor de interesse e daqueles potencialmente sinérgicos. Somente ao final, e para estruturar e garantir a completude das influências identificadas, faça uma classificação dos drivers segundo uma análise PESTEL (Political, Economical, Social, Technological, Environmental, Legal). Garanta que não deixou nada de alta criticidade para trás. Também ajudará, para cada um, identificar os níveis de probabilidade, de impacto e se se relacionam a curto, médio ou longo prazos.

### 4. Passe então à construção de cenários
Construa cenários que representem visões alternativas e auspiciosas para o futuro, prezando por desafiar hipóteses correntes ou limitantes. Lembrem-se de que não há certo e errado no desenvolvimento de cenários, podendo ser altamente desafiadores, desde que consistentes e plausíveis. Desenvolva pelo menos quatro cenários, explorando de forma combinatória pares de dicotomias/polaridades – por exemplo para mobilidade: híbrido ou elétrico; propriedade ou as a service. A lógica pode ser adaptada a todas as polaridades que se desejar apreciar, gerando cenários variados – e não se esqueça de desenvolver um breve e envolvente storytelling para cada cenário, o que dá clareza e trará as equipes à discussão. Ao final, aplique a lógica dos cones de futuros, apresentada por Hancock & Bezold em 1994 no artigo “Possible futures, preferable futures”, o que ajudará na avaliação dos níveis de impacto, plausibilidade e incerteza envolvidos nos cenários.

### 5. Traga (os futuros) a valor presente
Selecionados os cenários de maior interesse, ou os preferíveis, busque trazer a valor presente conectando esse futuro vislumbrado com um timeline de grandes passos e/ou iniciativas a partir do hoje para que se possa entregá-lo com sucesso. Surgirá então um roadmap preliminar que pode incluir programas, projetos, pessoas-chave, tecnologias e iniciativas específicas necessárias em variados horizontes temporais, suportando a fase posterior de decisão e formulação estratégica. Vale notar que a mesma lógica pode ser aplicada a futuros indesejáveis, com ações para mitigação e gestão de riscos (corporativos ou pessoais de carreira).

### 6. Compreenda estrategicamente o cenário e tome a decisão
Avalie de forma crítica as implicações estratégicas e de mercado do cenário e roadmap desenhados, especialmente de longo prazo e impactados por eventuais fatores exógenos (uma espécie de stress test), e então tome as decisões para sequência. Favoreça que o processo seja dialógico com as equipes, garantindo que a visão seja compartilhada, influencie positivamente a cultura e cada um se sinta pertencido.

### 7. Detalhe a estratégia e faça uma execução diligente, com experimentação controlada
Nessa fase, é de grande utilidade desenvolver um Canvas para a Proposta de Valor e um segundo Canvas para o modelo de negócio, além das atividades típicas de detalhamento estratégico e tático-operacional. Durante a implantação, use a mentalidade de experimentação controlada e métodos ágeis, permitindo correções de rota e adaptabilidade.

### 8. Pratique o aprendizado contínuo
Cultive a cultura de aprendizado contínuo e aberto à mudança. Isso possibilita que a organização se adapte e evolua à medida que novas transformações de horizonte se apresentem.

__AO CONSIDERAR ESSES PONTOS__ para navegar pelas incertezas (e oportunidades, por vezes ocultas) de forma mais estratégica e inovadora, cria-se a consciência da necessidade de se desenhar futuros desejáveis para as organizações e profissionais, e as lideranças conseguem direcionar melhor os rumos e o atingimento dos objetivos propostos. Se você deseja se transformar e causar impacto de fato, fortaleça seu letramento em futuros e seja proativo, criativo e crítico, hoje, na construção de futuros auspiciosos para sua vida e seus negócios no amanhã.

Crédito da imagem: Shutterstock, com inteligência artificial (inspirada em Marc Chagall)

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