No universo corporativo, a busca incessante por metas e indicadores de desempenho muitas vezes parece mais uma corrida sem rumo, um esforço árduo em direção a alvos muitas vezes nebulosos. (Você já reconheceu a verdade desta afirmação provavelmente.)
Essa realidade ganha contornos nítidos nas páginas de um livro que li recentemente, o [*Bullshit Jobs*](https://en.wikipedia.org/wiki/Bullshit_Jobs), de David Graeber. O conteúdo tem um olhar crítico sobre trabalhos considerados inúteis e nos faz refletir sobre os objetivos sem propósito que envolvem muitas organizações.
Graeber, em sua obra que mesmo escrita em 2013 continua atual e provocativa, destaca a existência de empregos que, apesar de consumirem tempo e recursos consideráveis, não possuem um significado ou propósito real. Essa ideia pode ser aplicada ao contexto das metas empresariais, que frequentemente são encaradas como fardos desnecessários, sem uma ligação clara aos planos reais da empresa.
E a implementação de metas e indicadores de desempenho sem um propósito definido tem se mostrado uma prática mais comum do que se imagina. Uma pesquisa realizada pelo Gartner em 2022, com mais de 3 mil executivos de empresas de todo o mundo, revelou que 70% das empresas têm metas e KPIs inúteis.
O resultado é uma pressão constante sobre os colaboradores para atingirem objetivos que não contribuem para o crescimento genuíno da empresa ou para o bem-estar da equipe.
Ao relacionar as reflexões de Graeber com a realidade das metas corporativas é possível perceber os perigos invisíveis que contaminam muitos ambientes de trabalho. Segundo a pesquisa do Gartner, 35% das empresas pesquisadas têm metas que não estão alinhadas com os objetivos estratégicos.
E a situação pode piorar: 20% das organizações ouvidas têm KPIs que são difíceis ou impossíveis de atingir. Essas metas inalcançáveis criam um ambiente de trabalho tóxico, onde os colaboradores se sentem constantemente sobrecarregados e inadequados.
A falta de propósito nos KPIs estabelecidos é outro fator crítico. Metas que não estão alinhadas com a visão e os valores da empresa, ou que não contribuem para o desenvolvimento profissional e pessoal dos colaboradores, são como âncoras que impedem o crescimento saudável dentro da organização.
Metas “bullshit” não apenas prejudicam a qualidade do trabalho dos colaboradores, mas também são verdadeiros agentes nocivos. Quando os colaboradores não conseguem identificar um propósito claro por trás delas, a motivação e o engajamento diminuem.
O estresse resultante da perseguição incessante de objetivos inúteis pode levar a uma variedade de problemas de saúde, desde ansiedade até esgotamento profundo. Isso sem dizer de criar um ciclo vicioso de negatividade.
Quando os colaboradores percebem que dedicam tempo e esforço para alcançar objetivos que não agregam valor real, a sensação de desperdício pode levar à desilusão e à desmotivação. Esse desinteresse pode, por sua vez, afetar negativamente o ambiente de trabalho, prejudicando as relações interpessoais e a colaboração.
Para abordar esse desafio, as empresas devem repensar a maneira como estabelecem metas, priorizando aquelas que estão alinhadas com uma visão coerente e que contribuem para um ambiente de trabalho saudável. E os líderes desempenham um papel fundamental nesse processo. Eles devem ser sensíveis às necessidades e capacidades de suas equipes, evitando impor as que são desprovidas de propósito ou inatingíveis.
É hora de repensar o enfoque em indicadores de desempenho e priorizar metas que não apenas impulsionam o crescimento organizacional, mas também promovam a saúde e o bem-estar duradouros dos colaboradores.
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