Dossiê 1: Disrupção
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Um framework para redes colaborativas

Impact Hub desenvolveu oito passos desenvolvidos para hackear a gestão. Conheça três casos de sucesso, que dão visibilidade ao movimento e mostram como as redes colaborativas diversificadas podem afetar positivamente a inovação no Brasil, a saúde na Argentina e a economia circular na China

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A necessidade de gerir os riscos socioambientais é, também, uma busca por novas oportunidades para muitas corporações. Mas, para isso, é preciso haver um entendimento, entre as lideranças empresariais, de que muitas vezes seu jeito de fazer negócios precisa mudar. Algumas delas realizam essa transformação baseadas em um compromisso profundo com o futuro do planeta e uma compreensão de que elas têm um papel protagonista nesse processo. Outras são pragmáticas: sem essa transformação, sabem que simplesmente não poderão fazer negócios no futuro.
Em nossas interações, a pergunta agora não é por que fazer a transformação sustentável, mas como. De que maneira as empresas devem fazer essa virada, e qual é o risco para aquelas que ficarem de fora?

Independentemente da motivação, todos têm um desafio comum. Como gerir os riscos socioambientais de uma forma efetiva? Como identificar oportunidades de negócios que desaceleram as mudanças climáticas e que, ao mesmo tempo, possam integrar negócios e gerar um impacto socioambiental positivo? Para isso, diferentes estratégias de gestão estão sendo adotadas. Alguns desses desafios e oportunidades podem ser explorados envolvendo mais os colaboradores nos processos de inovação e na tomada de decisão. É a busca por uma cultura intraempreendedora, que estimula os funcionários a abraçarem a responsabilidade de criar inovações. Já outros desafios dependem de mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Entre essas estratégias, as redes colaborativas diversificadas são um caminho efetivo para integrar negócios e impacto. O Impact Hub surgiu em 2005 a partir de uma rede de empreendedores e lideranças empresariais e cívicas engajadas com temas socioambientais. A rede chegou a São Paulo em 2007 e depois se expandiu para mais de cem cidades em 60 países. Atualmente, são mais de 70 mil empreendedores engajados na construção de uma economia regenerativa.

No entanto, sem grandes empresas para levar essas soluções a um novo patamar, a transição não vai ocorrer na velocidade necessária. Felizmente, há organizações interessadas. Nos últimos anos, grandes companhias têm procurado o Impact Hub para solucionar desafios complexos e explorar novas oportunidades. A principal ferramenta usada é a metodologia de redes colaborativas diversificadas.

Para enfrentar esses desafios e explorar as oportunidades que estão surgindo, é fundamental alavancar as redes diversificadas e colaborar com diversas partes interessadas, como startups, institutos de pesquisa, organizações sem fins lucrativos, instituições acadêmicas e até mesmo concorrentes. Essa rede diversificada de conhecimentos e habilidades proporciona uma visão mais abrangente e criativa na busca por soluções inovadoras e sistêmicas.
A metodologia das redes colaborativas diversificadas consiste em:

1. Identificar o escopo do desafio alinhado com as prioridades estratégicas da empresa;
2. Definir metas e indicadores de sucesso;
3. Mapear a rede do ecossistema de inovação em torno do desafio da empresa;
4. Identificar as oportunidades a serem exploradas no processo;
5. Convidar os stakeholders estratégicos em torno de oportunidades;
6. Promover encontros para inovar junto com a rede mapeada (processo de coinovação);
7. Priorizar e implementar projetos-piloto;
8. Reunir aprendizados e desenhar planos para escalar.

Um ponto importante é que a metodologia só é efetiva quando a cultura da colaboração já está instaurada na organização. Portanto, em muitos casos, antes de iniciar a aplicação da metodologia das redes colaborativas diversificadas, é melhor realizar workshops e atividades para promover uma cultura alinhada a isso.

## Cases testados e aprovados
Vamos explorar a aplicação da metodologia em diferentes empresas, países e contextos. Selecionamos três casos, um no Brasil, um na Argentina e outro na China, para ilustrar como as redes colaborativas diversificadas podem ser um hack de gestão para ampliar o resultado econômico e o impacto das grandes corporações.

O Impact Hub foi convidado pela Basf para facilitar o Basf Summit e o Createathon no Brasil, durante as celebrações do 150º aniversário da companhia alemã, em 2015. O objetivo era não apenas comemorar esse importante marco, mas também orientar o olhar para o futuro, abordando temas críticos para a sociedade, como urbanismo e habitação, desperdício de alimentos e água. A proposta era engajar diversos atores na busca por soluções concretas para enormes desafios.

Isso envolveu diálogos e cocriações enriquecedoras com clientes, cientistas, startups e ONGs, todos unidos para enfrentar desafios complexos. No evento, realizado em São Paulo, o maior desafio trabalhado foi o desperdício de alimentos.

O Impact Hub conduziu a cocriação envolvendo diversos stakeholders na construção de uma interação multiatores. Isso não apenas demonstrou o poder das redes colaborativas, mas também gerou resultados tangíveis. De acordo com Cristiana Xavier de Brito, diretora de relações institucionais e sustentabilidade da Basf, o onono, hub de inovação da empresa, lançado em 2019, foi fruto da nova cultura de abertura e colaboração.

O onono é um ambiente em que clientes, fornecedores, startups, estudantes universitários e parceiros se conectam a fim de discutir novos modelos de negócio ou desenvolver projetos focados em impactar positivamente a sociedade, tanto do ponto de vista econômico quanto social e ambiental. Tudo isso via uma plataforma de conteúdo e eventos que, atualmente, atende um ecossistema de inovação aberta composto por mais de 50 mil pessoas – e que continua crescendo.

Essas iniciativas de redes colaborativas já geraram resultados muito concretos para a companhia. A Basf colecionou diversos cases de sucesso com o ecossistema do onono nesses últimos anos.

Um destaque é a parceria para um desafio de cocriação de uma ferramenta de eficiência operacional para o time agro da Basf. O projeto teve como resultado inicial a economia de mais de 800 horas de trabalho e gerou ganhos de ergonomia para os funcionários. A ferramenta, uma garra mecânica da linha de operações de peças de cerâmica, foi feita a partir de uma parceria com a startup Forge em manufatura aditiva (impressão 3D). A propriedade intelectual da solução foi adquirida pela Basf, que a implementou em escala no fim do ano passado.

Em 2023, a parceria com a Forge, uma empresa paulista fundada há apenas cinco anos e que tem a energia limpa como um de seus pilares, se ampliou para um programa de intraemprendedorismo em impressão 3D, em que os colaboradores da Basf são treinados e acompanhados para prototipar ideias em diferentes áreas de negócio e operações.

Na Argentina, o Impact Hub trabalhou junto com a gigante farmacêutica Roche e a Fundação Garra-han, uma instituição pediátrica do país vizinho, para desenvolver o programa “Transformar Salud”. O projeto promove a transformação digital e a inovação no sistema de saúde argentino se valendo das redes colaborativas diversificadas. Com objetivo de impulsionar a eficiência e a eficácia dos serviços no país e estender o programa para a América Latina, a parceria tem gerado resultados consistentes na Argentina. O programa foca a digitalização do sistema de saúde, a fim de elevar a qualidade dos serviços, mobilizando redes colaborativas e incorporando inovações desenvolvidas por diversos atores do ecossistema de saúde.

A Roche, ao assumir esse papel, se conectou a inovações e oportunidades de entrar em mercados que, até então, ela não explorava. O programa “Transformar Salud” foca a interoperabilidade entre soluções digitais de saúde para atuar nos níveis municipal, provincial e federal na Argentina. O projeto tem três objetivos essenciais:

1. Transformação digital: a adoção de soluções digitais é o núcleo do programa, visando melhorar a eficiência dos serviços. Foco em tecnologias como telemedicina, registros clínicos eletrônicos e aplicativos de suporte ao paciente.
__2. Sustentabilidade do sistema de saúde:__ o programa busca desenvolver ações que fortaleçam o sistema de saúde em seus objetivos fundamentais e garantam sua sustentabilidade em longo prazo.
__3. Promoção da inovação e da tecnologia:__ inovação é a chave para melhorar a qualidade dos serviços de saúde. Por meio do desenvolvimento e da implementação de ferramentas digitais, a ideia é incentivar a inovação e a tecnologia no setor.

Para alcançar esses objetivos a Roche realiza chamadas para projetos que abordam áreas críticas no sistema de saúde, incluindo:

– __Acesso aos pacientes:__ negócios que buscam democratizar o acesso a serviços de saúde, informações e ferramentas, independentemente do nível de atendimento necessário.
– __Qualidade do serviço:__ soluções que buscam melhorar as interações entre pacientes e profissionais de saúde, promovendo maior envolvimento e eficiência no atendimento.
– __Gestão das organizações:__ ferramentas de software que otimizam processos operacionais internos e externos das instituições de saúde, o que estimula a agilidade e a eficiência.

Este ano, cinco projetos se destacaram como vencedores do programa “Transformar Salud”:

– __Retinar:__ uma plataforma de telemedicina baseada em retinografias e inteligência artificial que identifica riscos de cegueira provocada pela diabetes.
– __Solución Digital Promotora de Conductas de Autocuidado en el Adolescente con Enfermedades Crónicas:__ um aplicativo para celular para apoiar o autocuidado em adolescentes com doenças crônicas.
– __Metapué:__ uma plataforma digital que simplifica a gestão do processo perioperatório.
– __Quirófano+:__ ferramenta online, destinada tanto a pacientes quanto a profissionais de saúde, que simplifica a gestão do processo perioperatório.
– __Mi Salud:__ uma plataforma digital projetada para monitoramento e automonitoramento de pacientes recém-hospitalizados.

O programa “Transformar Salud” é um exemplo de como a ativação de redes colaborativas diversificadas pode mudar radicalmente o sistema de saúde e gerar novas oportunidades de negócios sustentáveis. A Roche está ampliando suas referências e identificando novos nichos de operações ao interagir com diversos atores no ecossistema de saúde. Para a Argentina, cujo sistema de saúde é marcado pela fragmentação excessiva e pela sobrecarga de trabalho de profissionais como enfermeiros, a transformação digital pode ser uma ótima notícia.

Na China, o Impact Hub trabalha em Xangai com a Budweiser para identificar oportunidades de negócios sustentáveis envolvendo a cadeia de valor da empresa e uma rede diversa de atores. A cervejaria tem alguns desafios prioritários como o reaproveitamento de resíduos da produção de cerveja, a busca por embalagens mais sustentáveis, soluções para redução de emissões de carbono na sua cadeia e soluções sustentáveis para a operação de bares e restaurantes.

Esses desafios fazem parte do dia a dia das equipes internas da Bud-weiser China, mas a companhia entende que precisa de novas perspectivas, novos olhares, formas diferentes de entender e encontrar soluções. Por isso, a empresa buscou o Impact Hub Xangai para reunir uma rede diversificada de públicos que possam apoiar o processo de inovação e transformação.

O trabalho de redes colaborativas diversificadas deu origem a várias parcerias relevantes para a Budweiser China avançar na sua estratégia de sustentabilidade. Para ilustrar, apresentamos aqui dois casos. O primeiro é da Shianco, que trabalha com design e produção de móveis de alta qualidade. A empresa usa um material sustentável chamado agiowood, que substitui toras de madeira na construção de mobiliários.

A Shianco recicla cascas de arroz (uma das matérias-primas usadas pela Budweiser no país) para a produção de agiowood. Hoje, o material está presente no mobiliário das novas instalações e escritórios da Budweiser China, o que é um exemplo notório de economia circular. A tecnologia abre também um grande mercado a ser explorado, afinal as cascas de arroz eram um resíduo simplesmente descartado.

Outro caso interessante foi o da Snail Mom, dedicada à pesquisa, desenvolvimento e industrialização de materiais biodegradáveis que podem substituir o plástico. A Snail Mom utiliza a tecnologia de polimerização para processar produtos agropecuários secundários, como cascas e palhas, e transformá-los em novos materiais biodegradáveis.

A empresa recicla as palhas da produção da Budweiser China e cria um pó em nanoescala. O pó é então misturado com outros materiais poliméricos de base biológica para formar pelotas, que são de base biológica, ecologicamente corretas, 100% biodegradáveis e livres de componentes à base de petróleo. O resultado, agora, é o material-base usado para produzir embalagens descartáveis para os pacotes de latas de cerveja.

NOS CASOS DA BASF NO BRASIL, DA ROCHE NA ARGENTINA E DA BUDWEISER NA CHINA, fica claro o poder das redes colaborativas diversificadas como fonte de acesso a soluções inovadoras para desafios complexos. Essas redes materializam o valor da colaboração nos negócios e são parte importante das ações que as empresas devem liderar para reinventar a forma de fazer negócios.

__Leia também: [Sua organização é design-driven?](https://www.revistahsm.com.br/post/sua-organizacao-e-design-driven)__

Artigo publicado na HSM Management nº 160.

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