Cultura organizacional

Para melhorar a comunicação interpessoal, design de relacionamentos

Relacionamentos saudáveis permitem que as pessoas se expressem genuinamente, reconhecendo e compartilhando esforços, mesmo quando o resultado não é alcançado. Com orientação e design intencional, o potencial de comunicação pode trazer boas conexões, crescimento e sucesso
Daniela Cais é consultora corporativa de comunicação interpessoal, mentora e palestrante.

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Quantas vezes você já ouviu ou leu que a comunicação eficaz é fundamental para o sucesso dos negócios e das organizações?

É comum enxergar o aprimoramento pessoal da comunicação como a alternativa ideal. Não tenho dúvidas sobre o valor das ações que nos aprimoram. No entanto, convido você a pensar um passo além do progresso individual.

Se ao invés de focar em você, pessoa comunicadora, que tal olhar para o ambiente de comunicação e incluir-se neste contexto? Afinal, são os relacionamentos, portanto, a comunicação interpessoal, responsável verdadeira pelo sucesso que se deseja.

Vale enfatizar que as relações fortalecidas entre equipes de colaboradores geram satisfação, engajamento, mais produtividade, mais rentabilidade e o desejo por comunidade no local de trabalho. Ou seja, um ambiente de relações saudáveis é o berço de muitos talentos que são desenvolvidos e evoluídos a partir das conexões entre as pessoas que ali convivem.

Embora pareça óbvio, não é nada simples, pois, por onde as pessoas passam, vão existir níveis diversos de complexidade, e é sobre eles que as empresas devem buscar conhecer e agir. Debruçar-se sobre a complexidade da comunicação é a maneira de fazer dela a chave estratégica que privilegia negócios e carreiras.
Há dois pontos fundamentais que precisam ser esclarecidos:

1. A prioridade das relações positivas é independente da hierarquia – um ambiente saudável pressupõe clareza e honestidade na comunicação, sempre prezando pelo respeito e bem-estar das pessoas, evitando uso de agressividade e exclusão como marcas de poder. Isto indica a necessidade de experimentar a diversidade nas relações profissionais.
2. A natureza da nossa comunicação é dinâmica, e os conflitos não estão descartados, por isso a necessidade de observação, intervenção e suporte. Bons relacionamentos não são somente os de concordância ou de passividade. A discordância é uma excelente professora para a saúde das relações, desde que haja disposição para aprender.

Dito isto, eu destaco que para que a comunicação seja um recurso potente é preciso cuidar dela, promovendo segurança e intimidade entre as pessoas, fazendo com que todos se sintam à vontade em suas atribuições.

Isto se faz com o estabelecimento de canais de comunicação, que podem ser por escrito, como e-mail, aplicativos de mensagens, caixas de sugestões para quem precisa de mais tempo para se manifestar, e oral, com conversas constantes que, melhor que os momentos pontuais de feedbacks, são rituais dialógicos que permitem o alinhamento e a autonomia dos colaboradores, que são aliados facilitadores da liderança.

Na minha opinião, conversas e rituais dialógicos são mais significativos que o feedback tradicional porque são capazes de gerar mais intimidade entre os times, as lideranças e os superiores, o que pode aumentar a motivação em contribuir para melhores resultados e incentivar iniciativas de melhorias; isto também é engajamento.

Metas e resultados alcançados são indicadores incontestáveis de produtividade, porém, com motivação, engajamento, pertencimento e celebração cria-se métricas afetivas e com continuidade, pois a equipe busca próximos passos, novos projetos e boas práticas em escala coletiva.

A cereja do bolo é que, como consequência da comunicação interpessoal, nasce o senso de comunidade, em que cada indivíduo compreende que o desempenho de sua função tem impacto no sucesso da organização. Em outras palavras, ver-se em condição real de contribuir para o crescimento de todos faz com que os sentidos positivos do trabalho sejam apropriados e amplificados.

Começa pela comunicação? Sim, as pessoas tendem a perceber que devem cuidar da forma de dizer, que devem escutar atentamente, responder após compreender, exercitar a gentileza, a empatia, a assertividade, o respeito acima de tudo. E aprendem que essas são atitudes de corresponsabilidade, pertinentes às relações e que isto não se faz de maneira solitária.

A partir deste lugar, social, quando o olhar retorna para si, há uma percepção valiosa sobre aquilo que é característica pessoal da comunicação e soma positivamente no ajuste das interações e aquilo que traz peso e dificulta a conexão com o outro, e precisa ser contornado, lapidado ou até extinto, conforme o desejo da pessoa.

Eu reforço que o desejo de mudança tem que atender à pessoa e nunca ao padrão ou norma social estabelecido pelo outro ou pela sociedade. A adoção de padrões externos, idealizados, promove assepsia e retira a espontaneidade e a identidade da comunicação, obstruindo a conexão.

Muitas vezes, para seguir tantas normas e recomendações do que se convencionou ser a boa comunicação, entra-se num estado de tensão para operacionalizar a fala, a voz, a postura, o discurso etc., que prejudica a autenticidade, esfria os afetos e, ao contrário do que se espera, desconecta a audiência.

Em contraponto, a comunicação interpessoal movimenta-se em eixos múltiplos, percorre e atravessa os indivíduos mutuamente. Para que a qualidade de falar bem seja favorecida, eu utilizo as lentes do design dos relacionamentos e enfatizo a interdependência dos interlocutores como razão para o despertar da atenção e conexão do outro.

Este é também um processo que se desenvolve à medida da confiança e que pede observação e escuta para viabilizar encontros, conhecimentos, negócios e redes profissionais.

## Por onde começar?
O ponto de partida é dar abertura para diálogos consistentes, onde é preciso evidenciar duas vias com acesso fácil: a primeira para que todos se vejam habilitados a dar opiniões sobre os diversos temas e assuntos de interesse (lembrando que se há interesse, há relevância e merece discussão); e a segunda para que não reste dúvida sobre a cultura que ampara as relações profissionais (seja uma empresa, organização ou interação comercial). Quais valores? Qual visão de futuro? Qual propósito?

Para o design, a cultura é a chama do envolvimento. Faz muito sentido que seja porque a cultura reflete o que move as pessoas e como elas se manifestam. No contexto profissional, desconhecer ou ignorar a cultura é um jeito perverso de apagar-se, de fazer sem ser, de perder os sentidos, de não se envolver e de não fazer parte, ficar de fora.

Essas duas vias que correm em paralelo, na mesma direção, são desenhadas com o ensejo da satisfação profissional, com o vislumbre do planejamento de carreira e com a possibilidade real de integração entre as pessoas, incluindo a valorização da vida e da saúde fora do ambiente de trabalho.

## Reflita sobre os seus relacionamentos
A verdade é que relacionamentos saudáveis permitem que as pessoas não precisem de máscaras e artifícios, que se expressem genuinamente com a intenção de pertencer e não de se encaixar em determinados lugares, permitindo fluência de pensamentos na elaboração de narrativas.

Além disso, a composição de ambientes saudáveis considera a sensibilidade das pessoas para não se esquecer de que todos os esforços devem ser compartilhados e reconhecidos, mesmo quando o resultado esperado não é alcançado.

Reservar momentos de acolhimento para revisão e alinhamento é tão importante quanto ter tempo e espaço para apreciações.

Agora, quando você ouvir sobre o papel da comunicação eficaz para o sucesso profissional, pense primeiro nos seus relacionamentos e em como articular-se para criar relações saudáveis e seguras.

Com orientação e design intencional seu potencial de comunicação ganha elementos de identidade e fluência, o que traz boas conexões e a perspectiva de construção de diferentes objetivos, inclusive de crescimento e sucesso.

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