Faz 15 anos que o Gallup mede algo inusitado: felicidade. E embora muita gente não leve o assunto a sério, a infelicidade global tem aumentado continuamente ao longo da última década – não só durante a pandemia –, e isso é preocupante. Como entendemos no artigo do CEO do Gallup, Jon Clifton, publicado nesta edição, a “desigualdade de bem-estar” existente no mundo é tão ou mais preocupante que a “desigualdade de renda”, além de ser algo bem menos compreendido. Esta edição trata, de muitas maneiras, do papel das empresas nesse território desconhecido.
Outro dia, estava pesquisando o que a Organização Mundial da Saúde diz sobre qualidade de vida, um conceito que considero irmão gêmeo do conceito de bem-estar: é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Fiz minha tradução para isso em duas palavras: qualidade de vida é “equilíbrio” e é “presença”.
Tem muita gente enfatizando a busca do equilíbrio, mas, a meu ver, a presença é o que merece ênfase dos líderes hoje. Estou convencido de que baixa felicidade e desigualdade de bem-estar têm muito a ver com a escassez de presença. E, conectando com esta revista, estamos falando no fundo de escassez de consciência numa era de abundância.
Bem, e o papel das empresas nessa história? Tanto quanto estamos fazendo com as tecnologias digitais, pervasivas e onipresentes, precisamos fazer com a consciência. São essas as duas faces da nova economia, e uma reforça a outra. Quanto mais tecnologia formos usar, mais necessário se torna tomar cada decisão com consciência de seus efeitos. Já sabemos (e quem não sabe ainda o saberá em breve) que, nesta nova economia, não existe outro caminho para a gestão que não seja ter a consciência em relação aos princípios da sustentabilidade como direcionador.
Isso pressupõe uma consciência madura e proativa, que não se concentra no departamento de ESG ou no jurídico/compliance; ela tem de se espalhar por toda a estrutura, todos os processos e todos os líderes da empresa. O pouco debate sobre as implicações éticas da inteligência artificial, como diz Antonio Alberti na seção *Contagem Regressiva,* evidencia nossa falta de maturidade no tema.
O *Dossiê* desta edição se dedica à construção dessa consciência. A reportagem especial sobre o rating 2023 *Melhores Empresas para o Brasil*, feita de organizações avaliadas por seus diferentes stakeholders, aborda consciência também. Conteúdos como o do artigo intitulado *Neurociência da mudança* facilitam a conscientização. E faço questão de citar a coluna da minha amiga Ellen Kiss, agora parte da liderança do Nubank, sobre o comportamento consciente do governo americano em relação a seus cidadãos. Parafraseando aquelas aspas famosas: é a consciência, stupid!
Artigo publicado na HSM Management nº 156.