Reportagem – Planejamento de carreira
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Para onde eu vou – agora?

Quando há tantas possibilidades de escolha, isso exige ainda mais que planejemos as carreiras – e que revisitemos o planejamento com frequência

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Quem já visitou Londres, na Inglaterra, deve ter tido a experiência única que é passear por aquela cidade usando o metrô. Pois o mapa do Tube londrino se aproxima muito de um template de desenho de carreira profissional que parece estar ganhando mais e mais adeptos.

A movimentação é cíclica: há períodos em que os usuários vão dia após dia para um mesmo lugar no Norte. Em outros, todas as viagens se dirigem a outro lugar no Sul. Alternam-se destinos centrais e periféricos. Os trajetos podem ser verticais, em linha reta e ininterrupta, ou ter paradas nas estações para formar ângulos de 180 e 270 graus. Nas baldeações, a sensação costuma ser a de perda de tempo – exceto quando, em alguma delas, decidimos sair do Tube para uma breve exploração dos arredores e termos insights.

Agora, o ponto mais importante desse paralelo: o novo modelo de carreira também prevê um bilhete Oyster, aquele que autoriza viagens ilimitadas em certo período de tempo. Nossa empregabilidade é o Oyster de nossa carreira daqui por diante; e, assim como o bilhete, precisa ser constantemente renovada com curiosidade, novos conhecimentos, um portfólio de atividades e experiências.

A analogia acima lhe permitiu visualizar a carreira? Se sim, você começou bem. Visualização é um dos segredos menos compartilhados do sucesso no planejamento de carreira.

Outro fator de sucesso é entender por que um plano de carreira importa, em uma época em que as carreiras se parecem com o mapa do metrô de Londres. Quando há um plano, fica mais fácil a identificação dos tipos de atividades, projetos, desafios e experiências que darão ao profissional mais competitividade, dentro do que ele gostaria de fazer, no mercado de trabalho. Um plano também desdobra tudo em pedaços – no caso, etapas –, fazendo com que as coisas fiquem mais fáceis de fazer. “O direcionamento central e as etapas aumentam as chances de sucesso na carreira”, diz Karin Parodi, fundadora e partner do Career Group.

O terceiro segredo do sucesso é o aprendizado constante e com prazer – assim como o atleta que gosta tanto ou mais do treino quanto do jogo, o profissional hoje deve apreciar aprender na mesma medida em que aprecia trabalhar. Segundo Maíra Habimorad, CEO do Inteli – Instituto de Tecnologia e Liderança, que oferece graduações nas áreas de tecnologia, inovação e negócios –, as mudanças no contexto em que trabalhamos nos exigem isso. Um exemplo que ela compartilha é uma descrição de cargo que, no passado, tinha prazo de validade de uma década ou mais e hoje muda a todo momento. Só se faz frente a isso aprendendo sempre.

A seguir, abordamos o processo de planejar a carreira e os comportamentos de empregabilidade, e compartilhamos as mais novas visões da área – a de portfólio de atividades e a de ciclos. Ao final, contamos como os jovens nativos digitais estão se preparando para seus Tubes londrinos. Afinal, “já vemos possibilidades de mudança de carreira se multiplicando em ritmo exponencial”, diz Habimorad.

## Como planejar, passo a passo
Comecemos por entender como são feitas escolhas de carreira nos tempos atuais. É um processo que fazíamos uma vez na vida, mas que provavelmente ficará mais frequente. Um bom exemplo é o planejamento que o Massachusetts Institute of Technology (MIT) sugere a seus estudantes, em sete passos:

1. Liste opções de carreira para si.
2. Liste – em ordem de prioridade – suas habilidades e valores.
3. Compare a lista das opções de carreira com a lista de prioridades pessoais – onde dá match?;
4. Ponha na balança possíveis alavancas, como a demanda pelas carreiras finalistas no mercado (não significa que todo mundo tem de ser cientista de dados) e barreiras (exige fazer cursos extras? fica muito longe? vai impactar a vida familiar?).
5. Reúna todas as informações anteriores, até visualmente, e escolha a carreira – sem medo, porque medo só atrapalha.
6. Faça um exercício de definir metas específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e com tempo definido para atingir (a sigla em inglês é Smart), e coloque por escrito metas e prazos.
7. Crie o plano de ações detalhado para a carreira como se fosse a única que você terá; se precisar, converse com um consultor.

Vale a pena fazer suas listas com calma e aprofundar-se em cada uma. O item nº 3, por exemplo, vai lhe dar uma boa ideia do tipo de empregador que espera. “Fatores intangíveis, como modelo de governança, valores, cultura, imagem da empresa, agenda ESG, são fundamentais”, diz Parodi. O item nº 5 pode incluir perguntas como: quero uma posição específica? Faço questão de trabalhar em home office ou presencialmente? Quais são minhas metas de remuneração hoje e em um ano? Em que tipo de empresa quero estar: uma startup? Uma multinacional? Uma empresa familiar?

Isso é diferente do plano de carreira de uma década atrás. Não muito. Mas duas diferenças são marcantes. A primeira está nos prazos para atingir as metas da trajetória profissional que, no passado, eram mais longos. “Hoje a tendência é pensar no curto e médio prazo tendo em vista a velocidade das mudanças”, afirma Parodi.

A segunda diferença está no fato de que esse planejamento, antes feito de uma a três vezes na vida, torne-se hábito, rotina, como defende Maíra Habimorad. Se as mudanças no contexto em que trabalhamos são contínuas, o planejamento também precisa ser.

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O processo aqui descrito deve ser “temperado” por algumas rotinas; confira sugestões do MIT e de Parodi.

__1 – BUSCAR AUTOCONHECIMENTO__. Você realmente conhece todos seus interesses, habilidades e valores hoje? Nós mudamos. Essa autoavaliação é o que pode dar clareza aos pontos fortes pessoais, capazes de nos levar às escolhas profissionais que trazem mais realizações. Parodi também recomenda monitorar as próprias competências – seus conjuntos de conhecimentos, habilidades e atitudes que geram resultados positivos tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Com elas, hoje você tende mais a posições de liderança ou a fazer carreira técnica? Ou ainda é um profissional T, generalista (o eixo horizontal de letra) mas com uma especialidade como âncora (o eixo vertical)? .

__2 – ACOMPANHAR TENDÊNCIAS.__ Se você conseguir manter-se ligado no que está acontecendo com o mercado em que atua e com aqueles em que gostaria de atuar, isso é o ideal, como recomenda Parodi. Ela sugere, inclusive, que sempre busquemos insights de futuristas profissionais *{veja artigo no final desta página}* e exercitemos nossa porção futurista também. O foco nas boas promessas é agradável, mas, segundo Parodi, não se pode esquecer de olhar para armadilhas – negócios em declínio que limitam nossas ambições ou carreiras que podem desaparecer no médio prazo.

Parodi fala que “não adianta desenhar algo que não seja realista em termos de ambição x mercado x prazo”. Significa que expectativas e cronogramas precisam ser realistas. Além disso, ela recomenda que sejam anotadas as etapas de ação específicas a ser executadas para atingir os objetivos e que a pessoa deve se manter organizada e comprometida, marcando ao completar cada etapa. Além disso, não há nada de errado em alteração do plano de ação de carreira, conforme necessário, já que os objetivos e as prioridades podem mudar.

__3 – TER RECURSOS PARA INVESTIR EM SE PREPARAR__. Estamos falando tanto de tempo (quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro, dizem as más línguas, nem de realizar sonhos) quanto de energia e financeiros. Esses recursos devem ser direcionados para cursos, livros, viagens, eventos, hobbies, networking, além do envolvimento em mais atividades, inclusive voluntárias, criando um portfólio de atividades abordado mais adiante.

4 – __TER MENTORIA.__ Além de ele poder ajudar no momento do plano especificamente, vale manter conversas regulares com alguém de maior senioridade e experiência no segmento/área/porte que o interessa. “Um bom mentor sabe dar apoio, orientar e encurtar o aprendizado. Também ajuda a pessoa a transpor barreiras políticas e amplia suas oportunidades de desenvolvimento.” A escolha do mentor deve levar em conta sua experiência, confiança e empatia que exista entre os dois.

## Comportamentos de empregabilidade
__HSM Management__ adapta a seguir orientações da London Business School (LBS) para quem quer “conseguir o emprego ideal”, incluindo visões de profissionais brasileiros.

### 1. Identifique suas habilidades transferíveis e o estilo de liderança.
Apesar de as habilidades técnicas serem importantes, as habilidades transferíveis são as competências não técnicas que facilitam a pessoa a progredir e fazer a transição de carreira. Habimorad as chama de “habilidades portáteis”, porque permitem ao profissional fazer diferentes carreiras. Elas ficam cada vez mais importantes com a transformação de mundo, empresas e estruturas organizacionais. Veja quais são:

– __Relações interpessoais__. Permitem gerar confiança e desenvolver relacionamentos, tais como o trabalho em equipe e a gestão de stakeholders.
– __Comunicação__. Não é só saber falar e ouvir, mas também ter a capacidade de captar a linguagem corporal e as expressões faciais.
– __Insight__. Inclui capacidade de inovação, pensamento estratégico e solução de problemas, e ainda como o conhecimento do profissional é usado para beneficiar a empresa.
– __Julgamento__. É o modo de pensar e de tomar decisões. O profissional pode ser atencioso, minucioso, baseado em fatos ou mais intuitivo.

Já o estilo de liderança é o que define como uma pessoa inspira as outras a fazer coisas. Um profissional pode ser visionário, democrático, empoderador, autoritário, decisivo, desafiador. Para identificar seu perfil, suas habilidades e estilo, anote tudo o que realizou e como. Em seguida, pratique a articulação de suas principais habilidades e estilo em intervalos de 90 segundos. Isso o preparará para redigir currículo e cartas de apresentação e para networking e entrevistas.

### 2. Acredite que pode causar impacto
Ter confiança nas próprias habilidades técnicas e transferíveis é crucial na busca pelo emprego que almeja. Se o profissional está inseguro quanto a suas capacidades – incluindo as que pode adquirir facilmente caso não tenha –, ele não vai convencer o entrevistador.

Para uma pessoa ficar mais confiante, a LBS recomenda encontrar um fio condutor nas funções ocupadas anteriormente – será seu conjunto de habilidades transferíveis, que deve ser somado a seu interesse nos negócios da organização-alvo. Aí a equação mágica acontece: __Habilidades + comprometimento = funcionário ideal!__

Em seguida, pense: quais foram minhas realizações e como atuei? Qual foi meu impacto nos negócios e como eu e minha organização crescemos em resultado disso?
Por fim, pergunte a si mesmo o que deseja alcançar em sua próxima função. De quais ferramentas você vai precisar? Quanto tempo vai demorar? Como isso beneficiará seu possível empregador? Definir e articular o impacto que você pode causar ajudará a demonstrar que você entende as necessidades da empresa onde quer trabalhar.

### 3. Seja curioso
A LBS sugere a divisão da busca por emprego em quatro categorias:

1. o que tenho certeza de que quero fazer;
2. o que mais eu sei que posso fazer;
3. recomendações de outras pessoas que me conhecem; e
4. oportunidades alternativas que parecem interessantes.

Essas opções não estão em ordem de prioridade; são alternativas igualmente válidas.

Ao pesquisar e identificar funções e oportunidades dentro de cada uma dessas categorias, atribuindo probabilidades a elas de acordo com seu conjunto de habilidades transferíveis, abrem-se mais opções de carreiras. Ao olhar para as funções em qualquer uma das categorias, destaque em verde as habilidades que você possui e em vermelho as que você não possui. Você provavelmente é o candidato ideal para muito mais empregos do que pensa.

### 4. Networking para insights
Relacionar-se com pessoas é o eixo central de qualquer boa carreira. Deve-se olhá-lo como construção de relacionamento, em vez de procura por emprego, como sugere a LBS. “Construir uma rede de contatos leva tempo e dedicação. Doe seu tempo para pessoas que precisam de alguma ajuda e construa relações que sejam baseadas na confiança”, diz Karin Parodi.

A especialista do Career Center explica que o foco do networking verdadeiro é conhecer o outro e ser conhecido, o que exige periodicidade. “Pessoas que não cuidam da sua rede de contatos e só acionam quando precisam de algo em benefício próprio terão poucas chances de sucesso para conseguirem o que querem do outro.”
Por isso, na opinião de Habimorad, o networking deve ser algo contínuo, inclusive para entender o que está acontecendo no mercado. “Com a volatilidade e as mudanças constantes, as necessidades (ou oportunidades) de posições dentro das organizações são cada vez mais difíceis de definir. O networking ajuda a identificar problemas, dores e desafios.”

Agora fica melhor: se você conhecer suas habilidades portáteis e os desafios das empresas, sua própria rede de relacionamentos pode lhe trazer uma oportunidade de trabalho. “Até mesmo antes de ela existir, antes de ser publicada no portal de carreiras ou no LinkedIn”, como diz a CEO do Inteli.

### 5. Deixe o trabalho encontrar você
Candidatar-se a empregos anunciados é uma espécie de loteria, pois é provável que você esteja competindo com vários candidatos, de acordo com a LBS. Aqui o networking ganha relevância, porque é por meio dele que uma pessoa coloca seu nome no mercado de trabalho oculto – aquele em que os candidatos são encaminhados a empregos, por recomendação. É também o caminho para que seu nome chegue até os headhunters. Não é quem você conhece que importa, e sim quem conhece você.
Uma recomendação é escrever e publicar conteúdos nas redes sociais, manter a página do LinkedIn atualizada, comentar, interagir, o que torna a pessoa “lembrável”. Aumentar sua exposição aumenta a chance de seu nome ser lembrado quando surgir uma oportunidade de trabalho.

## Portfólio de atividades
Cada vez mais, posições poderão ser desenhadas dentro de uma estrutura organizacional, no famoso “job crafting”. Para fazer isso, não bastará pensar na função que você vai exercer e nos desafios que terá de resolver, ou nas entregas a fazer. Isso é o que fazem as descrições de cargos e, com as mudanças crescentemente velozes, essas descrições são mais perecíveis. É fácil entender: um advogado que devia trabalhar com contratos de importação e exportação para o Reino Unido teve seu escopo de trabalho totalmente alterado quando houve o Brexit, que foi a saída do país da União Europeia, não?

Então, no job crafting, mostrar habilidades portáteis que você tem para oferecer e incluí-las no desenho é muito importante, assim como trabalhar como um “portfólio de atividades”. Quem usa essa expressão é Joseph Teperman, CEO da Amrop Brasil e autor do livro Anticarreira, para quem “o desenho de uma carreira deve ficar cada vez mais parecido com um pente com diversos dentes”.

O especialista explica: “Hoje uma pessoa não deve tomar o caminho estreito da carreira, mas um caminho largo, que eu chamo de anticarreira. Então, além de seu trabalho ‘oficial’, esse indivíduo é mentor, professor, participa de conselhos de administração, dedica-se a um trabalho voluntário, transforma hobby em negócio, repassa seu conhecimento para os demais, dá palestras etc.”. Várias atividades são várias experiências; uma empresta insights à outra, e o resultado é o que o especialista chama de “interceptação do futuro”, seja por criar produtos inéditos ou novas formas de resolver problemas existentes.

É importante entender, segundo Teperman, que não se trata mais de escolher uma atividade ou outra, mas de juntar várias atividades, com e sem fins lucrativos. “As pessoas felizes e plenas têm essa visão”, descobriu o especialista na pesquisa que fez para seu livro. Tendo várias atividades, “os anticarreiristas são mais criativos; não buscam pensar dentro ou fora da caixa; eles questionam a existência de uma caixa e a explodem”.

E os representantes dos grupos minorizados?
Negros, mulheres, PcD, LGBTI+ e outros têm de checar a capacidade de inclusão das empresas

O planejamento de carreira e as habilidades comportamentais valem para todos, independentemente de gênero ou etnia. Entretanto, como diz Maíra Habimorad, CEO do Inteli, pessoas de grupos minorizados devem dar um passo além e sempre investigar mais a empresa-alvo em relação à diversidade. Mesmo que ela divulgue estratégias de aumentar a diversidade, é preciso conferir suas práticas, políticas e dinâmicas de trabalho de inclusão e retenção desses talentos. “A cultura corporativa tem de ajudar essas pessoas, depois de contratadas, a florescer e a crescer na organização, para que a inclusão realmente aconteça; se não ajudar, não vale a pena ir para lá.” Habimorad diz ver empresas mais maduras no tema diversidade e inclusão, também com estratégias de permanência e de progressão de carreira dessas pessoas. (SRS)

## Carreira em ciclos, na prática
O pensamento de que o mundo evolui em ciclos é muito aplicado a estudos político-econômicos e ajuda os futuristas a construir cenários. Como o professor Paulo Vicente Santos Alves já escreveu em HSM Management, divisamos pelo menos os ciclos influenciando a história humana: os de hegemonia e os de tecnologia.

Os ciclos de hegemonia duram de 100 a 140 anos, intercalados por guerras de transição de cerca de 30 anos. Definem-se pelos povos que são hegemônicos no período, como foram os holandeses, os britânicos e os americanos. Os ciclos de tecnologia se prolongam por 54 a 60 anos, marcados por mudanças na economia e no trabalho, como as provocadas pelas quatro revoluções industriais. Referem-se à plataforma tecnológica dominante no período e têm quatro subfases cada, de 10 a 15 anos – recuperação, crescimento, esgotamento e crise.

Por que é importante falar desses ciclos do mundo? Porque a carreira profissional está, de certa maneira, tomando o mesmo caminho. Quem serve de exemplo é Anderson Godz, professor da HSM, que vê sua carreira tendo sido dividida em três ciclos, cada um bem diferente do outro. O primeiro foi de 1992 a 2009, quando atuou em grandes empresas, liderando projetos e transformações. Suas experiências em empresas como Unisys, PwC, BRF, Correios e Caixa Econômica são contadas em seu primeiro livro (Lessons Learned em Projetos). O segundo ciclo se estendeu de 2010 a 1016 e foi marcado pelo empreendedorismo, em que criou e fez um exit de uma jovem empresa com um sócio 20 anos mais velho. Agora, seu papel é mais de investidor em startups, conselheiro de administração e membro ativo da comunidade de governança e inovação reunida na edtech Gonew.co, que Godz criou em 2018 e conta com cerca de 25 mil participantes de sete países.

Godz está convencido de que as carreiras agora funcionam em ciclos, e estes vêm encurtando. “Vejo os ciclos encurtando, como consequência de vários fatores de pressão – como menor ciclo de produto, que reduz o ciclo de projetos e, como consequência, os ciclos de vida empresariais”, comenta. Para ele, um grande exemplo disso é o MVP (produto mínimo viável), algo de um ciclo curtíssimo que no passado era inconcebível.

Obviamente, isso impacta o planejamento de carreira. Então, como ele, Godz, se planeja ao longo desses ciclos? Enxergando apenas dois ou três degraus de cada vez, garante, e replanejamento. O planejamento como rotina citado por Maíra Habimorad, lembra-se?

“O comportamento de ir trabalhando na incerteza é desafiador, admito. As pessoas não estão preparadas para o ambiente de incerteza. Mas eu me apoio em oito habilidades, sobre as quais escrevi um livro”, comenta Godz.

Dentre as oito, Godz destaca duas habilidades: inquietude (aventurar-se por novas tribos, desafiando as próprias convicções) e poder referencial (evitar entrar no jogo de coisas certas e erradas versus sua própria identidade). Sobre esse tópico, inclusive, ele sugere que nós nos posicionemos em terceira pessoa em relação a nossos valores e contradições, em um exercício constante de empatia. Fica mais fácil planejar a carreira dessa forma.

NESTA ERA DE CONTRADIÇÕES, duas palavras finais sobre planejar carreira. Devemos fazer tanto planejamento quanto desenvolvimento de habilidades. E, na dúvida (e sempre haverá dúvida), o melhor comportamento dentre todos é se jogar nas oportunidades, porque não existe mais receita de bolo.

Como os jovens estão se preparando
As principais instituições de ensino, privadas, ajudam o planejamento de carreira dos alunos

Imagine se, no último ano de faculdade, você pudesse ter escolhido uma trilha de aceleração de carreira? Os alunos do Inteli podem fazer isso, escolhendo entre três opções: acadêmica (para ser professor, pesquisador), corporativa/mercado (para aqueles que já estão trabalhando) e empreendedora (para quem quer abrir o próprio negócio). Olhar para como essa e outras instituições estão apoiando o planejamento de carreira das próximas gerações do mercado de trabalho nos dá ideia de como todos devemos planejar nossas carreiras.

O Inteli, que nasceu com a vocação de formar futuros líderes para transformar o Brasil com tecnologia, nas palavras da CEO Maíra Habimorad, coloca o planejamento e a orientação de carreira, assim como o desenvolvimento de competências comportamentais, não como elementos periféricos, e sim curriculares. “Aproximadamente 400 horas, ou 10% do currículo, são dedicadas a atividades e iniciativas de desenvolvimento de competências comportamentais curricularmente”, conta a CEO.

Já no primeiro dia de aula, cada um tem uma devolutiva apontando pontos fortes e o que precisa desenvolver, a partir de seu processo seletivo, que é diferente, pois conta com prova, redação de história de vida e uma dinâmica de grupo para se observar comunicação, colaboração e pensamento crítico. A instituição ainda faz articulação da carreira com o mercado e coaching individual e em grupo com os alunos.

O Insper tem o Núcleo de Carreiras só para o desenvolvimento profissional dos alunos. Oferece sessões de aconselhamento profissional e a atividade “Pra Onde Vou?”, em que os alunos entram em contato direto com executivos, headhunters, empreendedores, pesquisadores etc. Por isso, a taxa de empregabilidade de egressos do Insper é medida e motivo de orgulho: chega a 94%. Similarmente, na ESPM, a área “Carreira e Mercado” se dedica à jornada profissional dos estudantes. Além de um setor de oferta de vagas, segundo Adriana Gomes, sua coordenadora nacional, há muitos serviços para o planejamento de carreira, incluindo atendimento individual para dúvidas quanto à gestão da carreira, elaboração de currículo, informações sobre mercado, como utilizar o LinkedIn adequadamente, entre outros.

Reportagem publicada na HSM Management nº 155

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