A falta de profissionais qualificados no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) é um problema bem conhecido por gestores da área há anos. Em 2022, estima-se que a carência no setor deve passar dos 400 mil postos de trabalho, segundo a Softex, organização que atua em prol do fomento da transformação digital no Brasil.
Apesar do cenário de desemprego crescente no país, cerca de dois a cada cinco brasileiros não consideram atrativas as carreiras em tecnologia, de acordo com uma pesquisa da Morning Consult e da Salesforce. Isso ocorre por desinformação ou por falta de interesse próprio. Assim, empresas de todos os portes lutam com unhas e dentes para contratar e, principalmente, reter profissionais que são cada vez mais assediados no exterior.
É um ambiente hipercompetitivo. Mas existem algumas atitudes e práticas que as empresas podem adotar para se tornar mais atraentes.
A primeira delas é a questão da adequação salarial. Por mais que seja um assunto considerado delicado para muitos negócios, ele precisa ser abordado. Os salários dos profissionais de tecnologia já vinham em uma crescente nos últimos anos, e foram impulsionados ainda mais após a pandemia, que forçou muitas empresas a acelerarem seus projetos de transformação digital. Por mais difícil que seja equiparar os salários no Brasil aos oferecidos pelas empresas estrangeiras, os negócios nacionais precisam ao menos tentar oferecer uma remuneração que chegue perto.
O ambiente de tecnologia vive em constante estado de evolução, fomentando a colaboração e troca de conhecimento no ambiente digital. Basta olhar para a infinidade de projetos open-source, repositórios públicos do GitHub, artigos no Medium e tutoriais no YouTube nas plataformas digitais.
A empresa que espera reter seus talentos e se tornar mais atraente para os profissionais que estão no mercado precisa ser um reflexo desse cenário. Deve incentivar a realização de painéis de discussão, apresentações e muito mais. É importante que os colaboradores sintam que estão em um ambiente de trabalho no qual podem continuar aprendendo e se desenvolvendo.
As empresas devem também se tornar mais atraentes para os talentos que estão no mercado ou para as muitas pessoas que saíram de suas antigas carreiras em busca de uma transição. Um dos principais pontos que devem ser considerados é o “employer branding”, ou a forma como seu negócio é visto pelos potenciais candidatos.
Pergunte para dez profissionais de tecnologia onde eles gostariam de trabalhar e a maioria deles responderá uma destas três opções: big techs, fintechs e unicórnios. Isso se dá pelo fato de que empresas de outros setores fora de TIC não conseguem comunicar com sucesso quais tecnologias e ferramentas utilizam no dia a dia.
Muitas delas aproveitam o que existe de mais novo e avançado em seus processos, mas falham na hora de exteriorizar esses pontos para o mercado. O potencial candidato precisa saber que, mesmo que esteja indo para uma indústria que não é a de tecnologia, ele vai continuar usando soluções e metodologias atualizadas.
Outra forma de encontrar novos talentos é olhar para dentro da própria companhia. Com o mercado aquecido e a alta demanda por profissionais supercapacitados, procurar profissionais de outras equipes internas que estejam interessados ou mostrem aptidão e potencial para tecnologia é uma alternativa efetiva para suprir necessidades, ao mesmo tempo em que melhora a imagem do negócio e fomenta a troca de conhecimento e de experiências entre os profissionais.
Nesse ponto, é importante ficar atento também às soft skills dos candidatos internos, assegurando que eles consigam buscar informações, saibam se comunicar e tenham interesse em aprender. É preciso também garantir que os novos profissionais sejam acompanhados por um mentor – uma pessoa com mais senioridade e que seja capaz de transmitir seus conhecimentos – para que eles se desenvolvam mais rapidamente.
Com o mercado aquecido e a ampla oferta de vagas, cada vez mais pessoas estão deixando suas antigas carreiras de lado e buscando uma recolocação. Com diversos bootcamps, tutoriais, documentações e até mesmo organizações como o PrograMaria, voltado à capacitação de mulheres (que ainda são sub-representadas no setor), é importante que as empresas se atentem aos pontos previamente mencionados para receber melhor os recém-chegados.
Outro ponto fundamental que deve ser continuamente avaliado é o quão atualizada sua empresa está em relação às novas tecnologias, sejam ferramentas ou linguagens de programação, ou específicas do setor de atuação. Ao fornecer o que há de mais novo para seus colaboradores e ajudá-los em seu desenvolvimento, a empresa não queima as pontes com esses profissionais quando e se eles resolverem partir para outras empreitadas.
Por fim, sempre que possível, deve-se estar atento aos novos modelos de trabalho que a pandemia transformou em realidade. Muitos candidatos a vagas em tecnologia desistem antes do fim do processo seletivo quando descobrem que a vaga é 100% presencial. Trabalhos remotos e híbridos têm mais chances de reter esses profissionais.