Cultura organizacional
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Pressionar para agitar

Para ter alta performance, é preciso saber como se dá a química entre pressão e temperatura na sua empresa

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Tem de pressionar! Dar o gás! Quem nunca ouviu frases como essa na vida dentro e fora da empresa? Creio que ouvi, pela primeira vez, nas aulas de química e física, no ensino médio, quando era preciso determinar o volume de um gás a uma determinada temperatura. Tanto que havia a sigla CNTP, de condições normais de temperatura e pressão.

E como pegamos muita coisa de outras áreas de conhecimento e incorporamos ao nosso dia a dia na empresa, também passamos a usar mais “pressão”, “gás”, resiliência (não esquecer) e CNTP. Neste caso, essas quatro letras significariam um ambiente ideal para uma ação. O que, neste mundo, não existe – a não ser o termo “tempestade ideal”, mas isso fica para outra hora.

Aliás, para evitar um cenário de nuvens carregadas e trovoadas nos negócios, muitos gestores acabam pesando a mão no que se refere à pressão. Lembrando que pressão é a razão entre a força que um corpo exerce em uma área qualquer. Ou pessoa.

E quando a pressão é grande demais, a temperatura pode esquentar. Lembrando, ainda, que temperatura tem a ver com o grau de agitação de partículas que formam um corpo. Podem ser moléculas ou átomos. Sim, ou pessoas também.

Com muita pressão, as coisas se agitam – para o bem e para o mal.

Para essa química ou reação acontecer é preciso cuidado.

Em uma grande organização em que trabalhei, “pressão sobre os executivos” era um traço cultural. Vou sair um pouco do universo da química para trazer uma referência do cinema… Você já deve ter visto, em algum filme antigo, a cena clássica de um condenado à morte, amarrado a um poste, olhos vendados, barba por fazer e um cigarro na boca (talvez seu último pedido), esperando um grupo de soldados dispararem suas armas. Pois era mais ou menos assim que cada executivo daquela empresa devia se sentir quando tinha de fazer alguma apresentação ao board.

Quer dizer, a barba tinha de estar feita ou bem cuidada. Também não haveria a venda, a não ser “as vendas”, muitas delas. E muito menos cigarro em ambiente corporativo…, mas a sensação de estar preso, amarrado, era real.

Sabendo dessa “fama”, certo dia fui para a frente do batalhão de fuzilamento, digo, o board. Essa sensação de estar preso começou no primeiro slide. Sim, porque eu não conseguia sair dele tamanha era a carga de perguntas, críticas e observações disparadas contra mim e que exerciam uma forte pressão sobre o apresentador. No caso, eu.

Eram três ou mais pessoas ao mesmo tempo, em cima, criticando. Só faltou alguém dizer “Pede pra sair, Adriano!”. Foram minutos de muita tensão.

Mas fui preparado e, para me defender do batalhão – digo, board – usei as únicas armas que eu tinha: razão e bom senso. E eles tinham as mesmas armas. E foi exatamente nelas que mirei.

Perguntei se eles me viam ali, naquela hora, como um executivo daquela empresa ou de um concorrente. Foi um tiro no alvo! Sim, porque se me viam como um profissional da concorrência, fazia sentido tanta pressão. Mas eu era parte da mesma organização que eles, buscava os mesmos resultados que eles, eu defendia os mesmos interesses que eles.

De que lado eles estavam ou me colocavam?

Talvez a pressão em momentos como aquele os tenha cegado, deixando passar boas ideias e oportunidades que foram fuziladas e ficaram caídas pelo caminho, dentro de um talento que não suportou o impacto. Quando a pressão é descabida, rompe-se a linha da civilidade e cria-se uma zona de falta de respeito, de xingamentos, de humilhação.

Críticas são bem-vindas, assim como uma dose de pressão, claro. Mas para que a química organizacional aconteça é preciso saber a dose certa e conhecer os elementos dessa tabela periódica corporativa: saber os limites de cada um de sua equipe, as potencialidades escondidas e, sobretudo, como acessá-las. Assim chegamos à alta performance!

Saber a dose de pressão certa fará com que a agitação das pessoas seja a ideal. Ideal para pressionar e desestabilizar a concorrência com produtos melhores, serviços melhores e pessoas e ideias melhores. Essa pressão pode ser maior.

Mas, no mundo corporativo, em meio a um cenário volátil, incerto, ambíguo, complexo e também frágil, ansioso, não-linear e incompreensível (a soma de vuca com bani), lidar com pessoas nas empresas (e fora delas também) não é algo simples. Não existem condições normais ou padronizadas de temperatura e pressão que nos ajudem nessa tarefa.

Vai depender muito do talento do líder e da sua capacidade de se relacionar com os demais. Para que essa química aconteça, proponho usar outra sigla, curiosamente igual a que está no início deste texto: CNTP. Será “Condições normais de tratar uma pessoa”.

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