Em quase todas as vezes em que estive à frente de um time, fiz tudo o que podia para colocá-lo no caminho certo. Como eu tinha acesso a mais informação e, também, uma visão mais apurada – caso contrário, não estaria na liderança –, sentia que esse era o meu papel: apontar a direção, orientar o caminho, monitorar os passos e corrigir os desvios e as resistências.
Se você se reconheceu no modus operandi descrito acima, dá a mãozinha aqui: você conta com minha compaixão. Porque hoje eu vejo que essa minha maneira de liderar era muito limitada, das premissas à execução, passando pelo planejamento.
Primeiro que eu não tinha acesso a mais informação, como eu pensava. Apenas tinha um conjunto diferente de dados. As pessoas do time tinham outro pacote, tão ou mais rico que o meu, apenas diferente. Ao privilegiar meus dados em detrimento dos deles, eu simplesmente desperdicei recursos.
Outra premissa equivocada é que me escolheram para liderar por conta da qualidade da minha visão sobre a equipe. Há muitas razões para alguém ser alçado a líder de uma equipe, desde a lealdade aos gestores até um conhecimento técnico da área. E eu não tinha nenhum indício de que enxergasse as coisas de um modo significativamente diferente dos demais.
Ao escolher tomar a frente e me propor a desbravar os caminhos, indicando a direção, eu estava condenando a mim mesmo e à equipe a depender de uma única visão – a minha. E me expondo desnecessariamente aos erros, fracassos e perigos que estivessem à frente, sem os olhos dos demais, que estariam atrás.
Por conta dessa atitude e posição, qualquer hesitação da minha parte pareceria dúvida, fraqueza ou ameaça às qualidades que eu acreditava ter como líder. Ou seja, o fato de eu acreditar que tinha uma visão melhor diminuía a motivação para rever as escolhas feitas. A chance de insistirmos no erro, dada a minha exposição à frente, era muito maior.
Você já entendeu a cena. Se refletir um pouco sobre ela, vai enxergar outras várias limitações dessa postura. Assim, em vez de continuar a desenhar esse cenário, vou usar outra metáfora, criada por Nelson Mandela, líder sul-africano que presidiu o país de 1994 a 1999.
Disse ele: “Um líder é como um pastor. Ele permanece atrás do rebanho, deixando as ovelhas mais velozes andarem na frente, enquanto as demais seguem, sem perceber que elas estão sendo guiadas por trás o tempo todo”.
Deixo essa imagem como reflexão: alguém que lidera da retaguarda, confiando na inteligência coletiva, que nasce tanto da coragem dos que desbravam o caminho quanto da cautela dos que escolhem a quem seguir. Que cuida para que todos sigam, sem deixar ninguém para trás. E que impede que o grupo fique parado.