Carreira

Nomofobia e phubbing: cuidado com o vício tecnológico na carreira profissional

Dar mais atenção ao celular do que às relações com equipe pode provocar sérios danos ao ambiente de segurança psicológica
Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Compartilhar:

O objetivo deste artigo é apontar como o vício tecnológico pode comprometer as relações de confiança no ambiente de trabalho e minar a credibilidade de um profissional. Para isso, apresentaremos os conceitos de *nomofobia* e *phubbing*.

## Nomofobia

Nomofobia é a sensação de nervosismo, mal-estar, ansiedade e até angústia por não ter acesso ao próprio smartphone. O termo teve origem em 2008, no Reino Unido, com a contração da expressão “*No Mobile Phone Phobia*” e passou a ser aplicado genericamente em estudos sobre dependência digital e tecnológica.

No estudo “[O vício em smartphone é realmente um vício](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29895183/)?”, a professora Tayana Panova afirma que é precipitado rotular comportamentos desagradáveis como vício do ponto de vista patológico. Contudo, a experiência cotidiana revela um número crescente de pessoas com sérios distúrbios emocionais, mentais e relacionais causados pelo uso exagerado de aparelhos tecnológicos.

Assim, pessoas que nunca desligam o telefone, ficam aflitas se não dispuserem de um carregador, demonstram uma relação obsessiva com mídias sociais, acordando de madrugada para conferir notificações, dando uma importância desproporcional ao mundo virtual, já são chamadas de “nomófobas”.

O tema é muito recente e está em fase exploratória no campo acadêmico, mas estudos preliminares apontam o óbvio: o uso exagerado destes dispositivos pode amplificar desordens físicas e mentais já existentes no indivíduo, como fobia social e agorafobia. Sobretudo entre os jovens, a nomofobia é um desafio bem concreto.

No Brasil, pesquisas pioneiras foram realizadas pela equipe do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, resultando na obra *Nomofobia: Dependência do Telefone Celular?* e no [Instituto Delete](https://www.institutodelete.com/quemsomos) que tem o objetivo de promover o uso consciente de tecnologias, liderado pela Dra. Anna Lucia Spear King.

## Phubbing

O mal-estar tecnológico é um fato de amplas consequências: da depressão juvenil ao aumento dos acidentes letais com automóveis ocasionados pela distração do motorista ao telefone. Mas há um efeito muito comum no desenvolvimento de carreira: a quebra da confiança interpessoal, situação que pode ser examinada a partir do conceito de “phubbing”.

“Phubbing” é ignorar uma pessoa ao seu lado para mexer no telefone celular. A palavra é uma junção de “phone” (telefone) e “snnubing” (esnobar) e foi cunhada em 2013 na Austrália pelo *Dicionário Macquarie*. No phubbing, a pessoa simplesmente “desaparece” da interação social concreta para mergulhar em atividades virtuais.

Os estudos sobre o fenômeno entre crianças e adolescentes revelam que jovens praticantes do phubbing são predispostos ao comportamento não-verbal e regularmente demonstram falta de atenção, agressividade e ansiedade. A pesquisa de Jesper Aagaard revela que os próprios adolescentes consideram errado praticar o phubbing, por ser um desrespeito com a outra pessoa, mas que praticam mesmo assim, involuntariamente.

A prática do phubbing no contexto profissional é considerada prejudicial na relação entre gestores e colaboradores. James A. Roberts e Meredith E. David realizaram um estudo sobre o phubbing realizado por gerentes diante de funcionários direto, isto é, indivíduos hierarquicamente subordinados no quadro institucional.

Os resultados foram claros: líderes que ignoram interações sociais reais para dar atenção ao telefone celular causam danos à organização em, pelo menos, três níveis: confiança interpessoal, satisfação no trabalho e performance dos funcionários. Ou seja, muito mais do que simples “quebra de etiqueta”, a dependência tecnológica deteriora o ambiente de trabalho como um todo, comprometendo a qualidade das relações.

Observa-se o desenvolvimento de um círculo vicioso: as pessoas passam a combater “fogo com fogo”. Aquele que é ignorado sente-se à vontade para ignorar o outro do mesmo modo. Logo, a equipe toda não é capaz de interagir de modo produtivo e os recursos humanos não atingem seu pleno potencial.

## Insigths para carreira

1. Reassuma o controle do seu smartphone. Controle seu telefone, não seja controlado por ele. Reassuma o domínio dos seus dispositivos tecnológicos. Autocontrole é uma virtude essencial em profissionais bem-sucedidos.

2. Organize melhor a quantidade de tempo que utilizará seu smartphone. Os maiores especialistas em gestão de tempo afirmam que não se deve usar o smartphone nos primeiros 30 minutos do dia após acordar, nem nos últimos 30 minutos antes de dormir. Telefone bom é telefone longe da cama.

3. Esteja presente. Nada pode arruinar mais uma reputação profissional do que a quebra de confiança. É a velha história: é difícil conquistar confiança e credibilidade, mas é muito fácil perdê-las. Em seus compromissos profissionais, sobretudo em momentos-chave da carreira, não arrisque sua reputação para atender uma notificação inútil em seu smartphone.

Compartilhar:

Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Artigos relacionados

Superando os legados de negócio e de mindset

Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

O RH pode liderar o futuro do trabalho?

A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Cultura organizacional, Estratégia e execução
Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

Norberto Tomasini

4 min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura
Liderança
O problema está na literatura comercial rasa, nos wannabe influenciadores de LinkedIn, nos só cursos de final de semana e até nos MBAs. Mas, sobretudo, o problema está em como buscamos aprender sobre a liderança e colocá-la em prática.

Marcelo Santos

8 min de leitura
ESG
Inclua uma nova métrica no seu dashboard: bem-estar. Porque nenhum KPI de entrega importa se o motorista (você) está com o tanque vazio

Lilian Cruz

4 min de leitura
ESG
Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.

Gisele Schafhauser

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O futuro da liderança em tempos de IA vai além da tecnologia. Exige preservar o que nos torna humanos em um mundo cada vez mais automatizado.

Manoel Pimentel

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura