Carreira, Desenvolvimento pessoal

Quatro erros evitáveis (e três insights) na retomada da carreira

Com o relativo controle da pandemia e a volta maciça das atividades econômicas, é preciso atenção para não tropeçar em si mesmo na retomada da carreira
Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Compartilhar:

Muita gente não entende o motivo de, mesmo trabalhando tanto, não conseguir atingir grandes resultados. Em diversas casos, não é uma questão externa no mercado, na própria empresa ou no chefe, mas na própria conduta do profissional.

Neste texto, refletiremos sobre aspectos que estão ao alcance de cada pessoa, independente de fatores não controláveis. Evidente que há muitos erros evitáveis na carreira, mas gostaríamos de apontar quatro erros comumente identificados em nossas consultorias profissionais nos últimos meses.

## 1. Evite o descontrole emocional

Ninguém pode se controlar emocionalmente em seu lugar. Na retomada econômica após a pandemia, recrutadores afirmam que a capacidade de administrar as próprias emoções é um fator diferencial na análise do histórico de candidatos às vagas de emprego. Após um longo período de incertezas e mudanças bruscas no mercado profissional, há maior receptividade aos profissionais habilidosos em seus relacionamentos, empáticos, que não criam problemas desnecessários.

Assim, é importante compreender que o descontrole emocional pode afetar sua carreira de modo contundente. Em 2017, a revista Bloomberg divulgou um [vídeo](https://www.youtube.com/watch?v=gTEDYCkNqns) em que Travis Kalanick, então CEO da Uber, discutia com um motorista do aplicativo. Após o acontecimento, o executivo escreveu uma nota aos seus colaboradores: “meu trabalho como líder é liderar e isso começa com um comportamento que deixe a todos orgulhosos. Não foi o que fiz. As críticas que recebemos são um lembrete de que eu preciso mudar como líder e crescer. Esta é a primeira vez que admito que preciso de ajuda para liderar e pretendo obtê-la”. Daniel Goleman, escritor pioneiro sobre carreira e emoções, [comentou o episódio](https://www.linkedin.compulsewhat-ubers-ceo-needs-emotional-intelligence-daniel-goleman): “o executivo não precisava crescer, ele precisa de inteligência emocional”.

Portanto, seja inteligente, evite chegar ao ponto de estourar. Ao perceber o aumento da ansiedade, irritabilidade, impaciência, seja humilde. Pare um pouco, procure terapia, respire, repense seu comportamento e suas prioridades. Jean Greaves, no livro *Inteligência emocional 2.0*, chega a afirmar que 58% da performance profissional depende da sua inteligência emocional.

## 2. Evite a complacência

Nos anos pandêmicos, muitos negócios faliram por completo pelo desdém de seus empreendedores pelas mídias sociais. Apesar de inúmeros estudos, consultorias e publicações afirmarem a importância da presença virtual, muitos gestores simplesmente fizeram pouco caso da tarefa. Hoje, amargam prejuízos enormes que poderiam ser, ao menos, mais leves. Sem uma estrutura eficiente de e-commerce, sem inteligência de mercado virtual, sem setores ativos de inovação e tecnologia, muitas empresas encerraram as atividades com a irrupção da pandemia.

A complacência cobra seu preço. Um antiexemplo notório nos últimos anos foi a derrocada da Nokia. O grupo estagnou na inovação. O telefone Nokia 3310 já foi reconhecido como o melhor já produzido, pois nunca ficava sem bateria e era praticamente indestrutível. Contudo, o modelo foi completamente superado por outros aparelhos produzidos por empresas como Apple e Samsung. Hoje, a Nokia é uma história de sucesso – mas também a história de uma empresa que perdeu seu mojo – passando de 50% do mercado global para 3% em menos de cinco anos.

Rasmus Askersen, empresário no futebol europeu, afirma: “quando uma organização se torna bem-sucedida, ela não luta contra os concorrentes. Ela luta contra si mesma”. Não há dúvida de que no centro do sucesso está a razão do fracasso. A complacência muitas vezes segue como uma sombra do sucesso. Portanto, evite este erro. Os desafios impostos ao mercado de trabalho pela pandemia não podem ser superados com uma atitude acomodada e complacente.

## 3. Evite o supérfluo

Uma das principais discussões na pandemia ocorreu em torno da questão “o que é essencial?”. Nesta retomada de carreira, o tema não sairá de moda. Diante de tantas incertezas políticas e financeiras, não atire para todos os lados. Autores especialistas em minimalismo comportamental, como Leo Babauta, Carl Newport e Greg McKeown, são unânimes em ensinar que uma carreira relevante não é aquela que faz todas as coisas, mas sim aquela que faz as coisas essenciais.

O desespero em fazer tudo ao mesmo tempo simplesmente não leva a lugar algum. Com tempo, energia e oportunidades limitadas, os profissionais contemporâneos precisam investir no planejamento das atividades, separando o que é essencial para o desenvolvimento da carreira. Aqui vale um ensinamento de liderança atemporal: uma vez identificados e estabelecidos seus objetivos essenciais, é necessário manter a disciplina na execução dos projetos.

Há um exemplo marcante no célebre duelo entre os desbravadores modernos Roald Amundsen e Robert F. Scott. Em 1911, os dois pioneiros empreenderam uma corrida rumo à conquista do polo sul, no inóspito gelo antártico. Amundsen estabeleceu um alvo de percorrer 20 milhas por dia, independente do clima e da situação. A estratégia de Scott foi agressiva e errática, pois percorria o dobro de milhas em um dia, mas recuava em condições adversas.

O resultado é conhecido: Amundsen chegou primeiro, voltou vivo para contar a história e recebeu todas as honras. A condução irregular de Scott não só levou sua equipe ao polo sul depois, como terminou em tragédia. Infelizmente todos na equipe de Scott morreram de exaustão, fome e frio na volta para as embarcações. A disciplina naquilo que é essencial faz toda a diferença. Mais do que alcançar marcas pioneiras, Amundsen preservou o essencial, sua própria vida.

## 4. Evite o cinismo

Popularizou-se, no período pandêmico, o termo “positividade tóxica” para definir o comportamento de pessoas completamente alienadas do sofrimento real da sociedade. É óbvio que este tipo de otimismo infantilizado, vazio e infundado não é levado a sério por recrutadores. Contudo, o outro extremo é igualmente problemático.

Os profissionais que envenenam ambientes com cinismo são plenamente dispensáveis. Machado de Assis disse que o “cinismo é a sinceridade dos patifes”. Assim, evite uma atitude cínica, pois ela mina não só sua equipe, mas sua própria carreira. A psicologia social associa o cinismo e a desmotivação com a incapacidade de lidar com os desafios de modo emocionalmente saudável.

Vale ressaltar que, em 2018, [a OMS declarou que o Brasil sofre uma epidemia de ansiedade](https://exame.com/ciencia/brasil-e-o-pais-mais-ansioso-do-mundo-segundo-a-oms/). É necessário prudência, pois alimentar a ansiedade com cinismo pode tirar o sono, causar diversas fobias e chegar a incapacitar a pessoa para as tarefas do dia a dia.

## Insights para sua carreira

__Não perca energia com mudanças que não dependem de você__: é fundamental na carreira entender o que depende exclusivamente de você, o que depende parcialmente de você e o que não depende de modo nenhum de você. Quanto mais rápido você identifica o que simplesmente não depende de modo algum de você, mais rápido você deixa de drenar energia com atividades inúteis.

__Identifique quais destes erros você tem cometido__: cultive autoconsciência, converse com sua liderança, colegas de trabalho, pessoas de confiança, conselheiros, familiares, amigos, consultores para identificar quais desses sintomas eventualmente estejam atrapalhando sua carreira.

__Defina uma prioridade e crie um plano de ação para se desenvolver nesse ponto__: não esqueça que hábitos arraigados não são imediatamente removidos do nosso dia a dia. Portanto, entenda que é um processo e viva, passo a passo, o processo de eliminação dos erros evitáveis na carreira.

Compartilhar:

Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura