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A economia da criatividade exponencial

Computação na nuvem, ecossistemas colaborativos, códigos abertos, inteligência artificial. Graças à tecnologia, vivemos o melhor momento da história para gerar ideias

Eduardo Ibrahim

Especialista em Economia Exponencial na Singularity University Brazil e professor convidado da Escola de Economia...

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Faz tempo que a palavra exponencial tomou conta dos artigos e das palestras sobre tecnologia. Mas será que entendemos seu poder em outros contextos, como na economia e na criatividade? Se pensarmos no aumento do processamento computacional e na digitalização que provocou o rápido crescimento dos negócios nos últimos anos fica fácil ver uma curva de crescimento exponencial surgir, mas nem sempre ela é tão evidente. Essa curva representa, antes de tudo, um acúmulo, seja de riquezas, seja de tecnologias, seja de ideias.

A moeda britânica de duas libras traz a inscrição “Sobre os ombros de gigantes” em sua borda, uma referência à citação de Isaac Newton quanto à importância de outros pesquisadores para que ele chegasse às suas descobertas científicas disruptivas, que ampliaram a habilidade tecnológica do mundo. É possível que não tenha sido mera homenagem ou coincidência, talvez parte do governo do Reino Unido já soubesse a importância da acumulação de ideias criativas para a economia (e vice-versa). Nunca saberemos, mas fico feliz em poder usar a criatividade para imaginar tal visão de futuro.

## Acumulação de ideias
A máquina econômica funciona sob a pressão das urgências do gerenciamento de escassez. Quando uma ideia criativa resolve um problema parece que algo mágico e inesperado aconteceu, mas olhando de perto vemos a mágica se tornar ciência, e ela então passa a criar os avanços que fazem a economia tornar o mundo mais abundante e as nossas vidas mais seguras e confortáveis.

A enxurrada de ideias ao redor do mundo tem ganhado vida por meio da tecnologia e proporcionado um entendimento maior da importância da criatividade para a economia. Em vista disso, ao invés de marginalizar áreas de pesquisa aos distantes laboratórios, muitas empresas estão dando assento estratégico aos executivos de inovação.

A criatividade tecnológica tem impactos reais no futuro e requer investimento de capital, mas o aspecto mais importante da tecnologia é que ela permite criar inovações que impactam a maneira como vivemos. A infraestrutura tecnológica que construímos até aqui nos permite enxergar um potencial de crescimento muito maior do que no passado, e isso proporciona um ambiente atraente para investir em empresas que desejam ser criativas. A computação na nuvem, por exemplo, oferece uma infinidade de ferramentas que vêm democratizando a tecnologia e ajudando empresas criativas a combinarem soluções prontas para gerarem inovações no mercado. É a arte de criar um novo produto e adicionar valor econômico a ele.
As nuvens de gigantes como Microsoft, Amazon e Google mais parecem um parque de diversões para quem tem ideias e criatividade. Novas empresas surgem todos os dias ao redor desse ecossistema, e códigos abertos viram produtos de prateleira, proporcionando uma espécie de comoditização de algoritmos em que a criatividade se traduz na capacidade de combinação de partes construídas e acumuladas por outras pessoas. A troca de dados pelo modelo de APIs (Application Programming Interface) e os movimentos de descentralização como o Open Banking facilitam a criação de novos arranjos e arquiteturas econômicas que parecem não ter limites. É o melhor momento da história para ser criativo e usar a criatividade para transformar a economia.

Uma economia pujante incentiva a geração e a implementação de ideias inovadoras por meio de uma orquestração harmônica de instituições que ajudam a criar o balanço perfeito entre competição e colaboração. Se a proteção intelectual incentiva inventores a monetizarem ideias antes mesmo de elas serem implantadas, esse instituto também pode atrasar o tempo para que uma ideia chegue ao mercado e beneficie toda a sociedade. Empresas como a Tesla, montadora de carros autônomos elétricos que se tornou a quinta maior empresa em valor de mercado do mundo, optam por abrir mão de patentes em prol do poder cumulativo de ideais em plataformas abertas e ecossistemas colaborativos, fortalecendo o ambiente capaz de gerar a criatividade exponencial.

A hiperconectividade e a hiperautomatização devem nos levar a um crescimento econômico autoincremental, ou seja, o uso cada vez mais intenso da tecnologia nas indústrias fará nascer uma quantidade ainda maior de soluções criativas, e essas soluções criativas acumuladas (digitalmente) servirão como base para que novas soluções sejam criadas a partir da tecnologia, sem a necessidade de intervenções humanas. Afinal, a mágica da criatividade se revela a partir da criação de novas associações e combinações de informações, tarefa que os modelos de inteligência artificial têm se tornado cada vez mais precisos em fazer. O receio dos riscos de algoritmos de inteligência artificial desconhecidos nos leva à seguinte pergunta: uma máquina pode ser mais criativa do que um humano?

## A criatividade das máquinas
A OpenAI, empresa sem fins lucrativos criada por Elon Musk para realizar pesquisas abertas em inteligência artificial, afirma em seu site que “avançará na prosperidade sustentável em face do risco e das oportunidades globais”. A equipe está investindo pesadamente em IA, e o vice-presidente de engenharia da empresa, Ben Lillie, disse que a decisão veio em um momento em que a empresa deseja assumir um papel de liderança na orientação do campo. “Na próxima década, acreditamos que surgirão sistemas de IA muito mais inteligentes e capazes do que os humanos”, disse ele em um e-mail aos funcionários. “O desafio para as máquinas é que elas exigirão maior flexibilidade e capacidade de aprender rapidamente em situações desconhecidas. Isso exigirá novas técnicas para permitir que o aprendizado de máquina seja executado em qualquer dispositivo de hardware.”

Não se trata da inteligência artificial, mas dos desafios de gerenciar, empregar ou mesmo fazer parte de uma comunidade de tecnologia inclusiva. Quando você joga um jogo, provavelmente isso não requer qualquer conhecimento de neurociência, não requer o conhecimento de que a mente humana é inerentemente defeituosa, propensa a preencher lacunas de conhecimento ou fatos que nem mesmo percebemos, as únicas regras para pensar são aquelas pelas quais vivemos. Esta é uma história sobre cada um de nós como indivíduos, com nossas próprias identidades, talentos e perspectivas, e como podemos trabalhar juntos para trazer mudanças positivas em nossas comunidades. Esta é uma história sobre o potencial dos humanos de moldar seu próprio futuro e transformar o que é possível. Esta é uma história sobre como podemos construir comunidades humanas em uma época em que a tecnologia não é mais um espetáculo secundário, mas o principal motor de nossa sociedade.

Uma economia tecnológica é aquela na qual a maioria das atividades econômicas, de finanças à educação, são realizadas por agentes econômicos que estão continuamente capacitados para inovar. A revolução tecnológica que estamos vivendo é também a revolução da inteligência e, portanto, da forma como enxergamos a economia e a criatividade. Se você tem alguma dúvida de que as máquinas podem nos ajudar no caminho exponencial, releia o parágrafo anterior: ele não foi escrito por mim, mas pelo algoritmo de inteligência artificial conhecido por GPT-3 criado e disponibilizado publicamente através de uma API pela OpenAI. Ele usa 175 bilhões de parâmetros para fazer o processamento de linguagem natural, o que é dez vezes mais do que o seu antecessor.
A propósito, deixei mais um parágrafo escrito pelo algoritmo, se você encontrá-lo, me conta depois mandando uma mensagem pelo site Exonomics.com.br.

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