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Shawn Achor: O potencial é coletivo

Em 2018, esse expert apontou a criatividade – sobretudo, a do grupo – como atributo-chave para realizar coisas

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Muitos conhecem Shawn Achor pelo best-seller de 2010 O jeito Harvard de ser feliz (The happiness advantage, no original). Ali ele escreveu sobre como podemos ser mais felizes adotando hábitos como exercitar a gratidão, ser otimista quanto aos próprios pontos fortes, meditar. “Experimente mandar um e-mail de agradecimento por dia, para alguém, durante 21 dias”, já sugeriu o professor de Harvard especializado em felicidade. “Pense, todos os dias, em três coisas boas que aconteceram naquelas 24 horas.” A principal descoberta de Achor foi que, se focarmos apenas a felicidade individual, ela terá curto alcance. O único modo de ter uma felicidade “sustentável” é ajudar os outros a serem felizes também. Em outras palavras, ao contrário do que gurus de autoajuda dizem, felicidade não é escolha; ela é interconectada.

Em 2018, Achor mostrou ao mundo, no livro Grande potencial, uma nova interconexão descoberta: o potencial das pessoas, ou seja, seu poder de realizar coisas. Segundo o pesquisador de Harvard, nosso potencial também é mais coletivo que individual. O potencial humano é composto de cinco atributos principais – desempenho, inteligência, saúde, liderança e criatividade – e todos eles dependem dos atributos correspondentes nas pessoas com as quais esse ser humano convive. Incluindo criatividade. Em 2018, HSM Management publicou com exclusividade um trecho de Grande potencial e uma entrevista exclusiva com Achor, que, entre outras coisas, contou que sua esposa é “metade brasileira” e se mostrou um admirador do Brasil.

## O que ele disse em 2018
“A sociedade ocidental tem se concentrado demais no pequeno potencial, de cada pessoa.” Essa foi a primeira constatação de Achor. Como exemplo, ele lembrou que Hollywood grava os nomes de suas celebridades em calçadas. Que as notícias da mídia são quase sempre sobre realizações individuais. Que as métricas de desempenho nas empresas são, na maioria, individuais. Segundo Achor, quando focamos a realização individual e eliminamos os “outros” da equação nosso verdadeiro poder permanece oculto. O grande potencial é criad0 quando a pessoa conecta ao seu potencial “o ecossistema de potenciais ao seu redor”, como ele explicou. Assim, o potencial não apenas é maior que o pequeno; ele é exponencialmente maior. “Repare como você fica mais criativo quando está perto de algumas pessoas”, ele ilustrou. “Se ignorar o papel dos outros no seu potencial, isso só vai jogar contra você”, ele garantiu.

Antes de detalhar quem são as tais pessoas, perguntei para o Achor se a responsabilidade pelo fracasso também é da equipe, tanto quanto a responsabilidade pelo sucesso. Afinal, desde que o mundo é mundo, as pessoas culpam os outros pelo que dá errado. Não e sim, respondeu o Achor. Não, porque, como parte do coletivo, cada pessoa tem que puxar para si a responsabilidade pelo que acontece – afinal, “seu comportamento impactou o comportamento dos outros, já que todo mundo estava conectado”. E a resposta é sim, quando são os indivíduos errados que trabalham juntos.

Recapitulando: na visão de Achor, para atingir o grande potencial (e, por tabela, a grande e exponencial criatividade), é preciso que cada um de nós se aproxime das pessoas certas e se afaste das pessoas erradas. E, para separar joio e trigo, você tem de prestar atenção na variação do seu próprio desempenho com as diferentes pessoas. Leva um pouco de tempo, mas você aprende a priorizar o trabalho com quem o deixa mais criativo e a evitar gente que lhe causa bloqueios de criatividade. E o mecanismo parece um círculo virtuoso: a pessoa faz você desempenhar melhor e, além disso, o deixa mais feliz e lhe dá uma sensação de maior bem-estar, o que também o faz desempenhar melhor.

Em 2018, Achor também ensinou estratégias para uma pessoa despertar o potencial e a criatividade das outras. Uma delas é atentar ao “lead” das mensagens instantâneas e e-mails trocados. Muita vezes começamos com algo como “estou atolado de trabalho, não posso falar” – eu sei que eu faço isso com frequência. O pesquisador sugere começar com “Que bom falar com você!”. E como conseguir isso na correria? De acordo com Achor, atitudes simples ajudam. Passar dois minutos no dia – só dois minutos – prestando atenção a sua respiração. Lembrar-se de três coisas boas que aconteceram até aquele momento. Poupar-se do bombardeio de notícias negativas, limitando o tempo para isso. Não deixar de descansar jamais. Assim, você se prepara para contagiar positivamente a equipe – no potencial como um todo e na criatividade.

## O que dizemos agora
Em 2021, Achor lançou dois livros com coautores, ambos aprofundando o tema da felicidade. Sobre o grande potencial não escreveu, mas há uma atualização a fazer sobre o trunfo tecnológico. Na entrevista que fizemos, Achor me disse que, “com o big data e o analytics, fica mais fácil avaliar como cada um de nós afeta a inteligência, a criatividade e o engajamento dos outros”. Pois bem: hoje, o data analytics está cada vez mais embarcado no departamento de recursos humanos das empresas, com as pesquisas do tipo pulse etc. Se o RH apoiar os líderes medindo as afinidades nos squads, logo esses líderes, e as próprias pessoas, vão saber quais são as combinações que geram mais criatividade.

O fato de haver mais equipes ágeis em nossas empresas também é uma atualização; e uma que pode impactar positivamente o grande potencial no Brasil, já que esse tipo de time derruba hierarquia. Embora, como povo, tenhamos a vantagem de valorizar a conexão social segundo Achor, é clara a nossa desvantagem da cultura hierárquica, pois impede “cada um de expandir seu ecossistema de potencial”. Em vez de ter o foco em trocar conhecimento com os outros, pensa-se no chefe. No livro O algoritmo da vitória, José Salibi Neto e eu citamos o técnico Bernardinho, do vôlei, quando este diz que “todo esporte é coletivo, até o esporte individual é coletivo”. Pois, para Achor, toda criatividade é coletiva, até a criatividade individual, no outro lado desta revista, é coletiva.

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