Desenvolvimento pessoal

Prince: pioneiro da música (e da gestão)

A influência do cantor não se limita às canções que gravou e ultrapassa as fronteiras do mundo do entretenimento

Compartilhar:

**Vale a leitura porque…**

… aprende-se sobre gestão não só com a história de empresas, mas com a de pessoas, e a trajetória de Prince (1958-2016) pode ser vista como um curso de gestão inovadora.

… Prince enfrentou paradigmas como poucos, o que é inspirador para uma era como a atual, propensa à quebra de paradigmas.

Ícone pop e gênio da música que vendeu 100 milhões de discos no mundo, Prince morreu de maneira repentina aos 57 anos de idade. Muito tem se falado sobre sua importância como compositor, cantor, multi-instrumentista, showman e até para o mundo da moda. O impacto de sua carreira, porém, vai além da arte. Como enfatizou a revista Forbes, ele trabalhou incansavelmente para mudar o negócio da música, com a intenção de transferir o controle do produto para quem o desenvolve – nesse caso, o artista. O texto da Forbes avalia, no entanto, que sua tentativa de controlar a própria obra fracassou, uma vez que os artistas continuam sem conseguir isso. Será? Outra publicação, a Knowledge@Wharton, ligada à escola de negócios da University of Pennsylvania, não compartilha a mesma opinião. Depois de entrevistar estudiosos e especialistas da indústria musical, ela conclui que o pioneirismo de Prince mudou paradigmas do show business e de outras indústrias. A seguir, são descritas oito maneiras pelas quais o artista teria feito isso: 

**Transformação Digital.** Prince foi o primeiro artista a lançar um álbum online. Em 1998, seu Crystal Ball foi vendido inicialmente apenas pela internet e por telefone. Além disso, ele chegou a montar um precursor dos serviços de streaming em 2001, o NPG Music Club. 

**Inovação em modelos de negócio.** O NPG Music Club também representou um novo modelo de negócio do ponto de vista da distribuição – um serviço de assinaturas como o Spotify é hoje. Mas foi só isso. Prince articulou um novo modelo de financiamento de projetos, o crowdfunding. “Prince financiou álbuns e fez lançamentos diretamente com os consumidores, décadas antes do surgimento do Kickstarter”, destaca Larry Miller, diretor da área de negócios de música da Steinhardt School, da New York University 

Outra iniciativa tem relação com o álbum Musicology, lançado em 2004, cujas vendas foram potencializadas por um plano inovador (e, em certa medida, controverso): quem comprava ingresso para a turnê do cantor ganhava uma cópia do álbum – algo que a banda Radiohead replicou mais tarde. Fez grande sucesso.

**Incubadora e corporate venture.** Prince incentivava e promovia novos talentos, inclusive escrevendo canções para os jovens cantores, que podiam interpretá-las como quisessem. “O que ele criou foi uma espécie de incubadora de startups antes mesmo de esse termo se tornar corrente no mundo dos negócios”, observa o crítico musical Tom Moon.

**Senso de propriedade e autogerenciamento.** Prince disse certa vez, fazendo um jogo de palavras: “Se você não tem a propriedade das gravações originais [masters], os donos delas serão seus senhores [masters]”. Essa foi a base de seus argumentos para entrar em uma longa batalha com a Warner nos anos 1990 para obter o controle de seu catálogo, durante a qual abriu mão de seu nome e adotou um símbolo para representá-lo.

“No início dos anos 2000, ele não tinha nenhum grande contrato com gravadora e, em grande parte, estava conduzindo sua carreira por conta própria”, lembra Scott LeGere, do McNally Smith College of Music em St. Paul (Minnesota, EUA), que trabalhou no Paisley Park, estúdio de Prince. “Aquele modelo refletia, na verdade, o que os artistas independentes – e mesmo alguns mais famosos – estão procurando hoje”, acrescenta.

**Ativismo setorial.** A disputa de Prince contra a Warner o fez aparecer em público com a palavra “escravo” escrita no rosto e estabeleceu parâmetros para muitas ações judiciais por controle artístico de obras e por remuneração justa, o que contribuiu para desenhar o cabo de guerra que a indústria da música vive atualmente. Acrescente-se que o artista conseguiu retomar o controle sobre os direitos de sua obra e, em 2014, assinou de novo com a Warner em outras condições. 

Não foi só isso. Apesar de early adopter da internet, Prince declarou em 2010 que a rede mundial de computadores tinha acabado para artistas que queriam viver dela, porque os serviços de distribuição de músicas online não eram bons pagadores. Em 2014, ele tirou toda a sua produção do YouTube e passou a fiscalizar clipes seus publicados ali sem autorização. Também retirou suas músicas do Spotify e de outros serviços de streaming; sua obra ficou concentrada no Tidal, lançado pelo rapper Jay-Z. 

Em 2015, Prince disse ao The Guardian: “Experimente citar um músico que ficou rico com vendas digitais – não é possível; já a Apple está indo muito bem”. Como LeGere reconhece, “ao longo do tempo Prince aprendeu a lidar com seu poder para obter acordos mais justos e transparentes e todos nós do setor nos beneficiamos disso”. 

**Fidelidade a princípios.** “Prince não era alguém que pegava carona em uma tendência”, diz Miller, da New York University. “Mesmo não tendo poder para tanto, ele seguia seu coração e agia de acordo com o que achava que era certo para sua carreira e para sua música, independentemente de quem estivesse em sua equipe de produção ou à frente dos negócios. E fez isso décadas antes de qualquer outro”, garante.

**Responsabilidade social.** Prince foi um filantropo low-profile e poderoso, doando milhões de dólares a instituições educacionais, entre outros destinatários, e pondo a tecnologia nas mãos de crianças que não teriam tido acesso a ela sem isso. 

**Longevidade.** Apesar de não ter deixado testamento – falta de planejamento pela qual tem sido criticado –, o artista cuidou de seu legado. Em seu cofre, há cerca de 20 mil músicas inéditas, gravadas em seu próprio estúdio, que estão criando grandes expectativas. Prince não será esquecido.

**Você aplica quando…**

… passa a entender e priorizar seus princípios na hora de tomar decisões. … dispõe-se a experimentar novos modelos de negócio e novas tecnologias.

… procura inovar em planos de marketing.

… preocupa-se não só com seu negócio, mas com seu setor e com a sociedade.

… cuida de seu legado

Compartilhar:

Artigos relacionados

O futuro dos eventos: conexões que transformam

Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura