Saúde Mental

O estado mental do brasileiro na pandemia

Levantamento aponta principais sensações físicas e emocionais relatadas pelos trabalhadores do país em 2020

FÓRUM: SAÚDE MENTAL NAS EMPRESAS – Angela Miguel

Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas HSM Management...

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Antes do mundo ser acometido pela covid-19, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já dizia que a depressão seria a maior causa de afastamento do trabalho, assim como, até 2020, seria a segunda maior causa de incapacitação do mundo. Após dez meses de 2020, o ano que parece não ter fim, a depressão se tornou a doença mental mais incapacitante e já atinge 300 milhões de pessoas. 

Infelizmente, esse número deve escalar nas próximas projeções da organização, considerando a [pandemia do novo coronavírus](https://www.revistahsm.com.br/post/4-atitudes-que-todo-lider-deveria-ter-em-tempos-de-coronavirus) – essa é também a aposta das pesquisadoras e psiquiatras Carol North, da Universidade do Sudoeste do Texas, e Betty Pfefferbaum, da Universidade de Oklahoma, em artigo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine.

Contudo, não é apenas a depressão que deve aumentar nesse período. Outros transtornos e síndromes mentais, de acordo as psiquiatras, seguirão o mesmo movimento, como a ansiedade, que já afeta 18 milhões de brasileiros, de acordo com a OMS, e o [burnout](https://www.revistahsm.com.br/post/burnout-a-sindrome-que-tem-atingido-grande-parte-dos-colaboradores-no-brasil), que ganhou uma descrição mais completa no Código Internacional de Doenças (CID) em 2019.

De acordo com o psiquiatra Daniel Barros, há vários fatores associados ao esgotamento, e a maioria está relacionada ao estresse negativo. “Há empresas que não deixam clara sua comunicação com os colaboradores, trabalhadores não recebem feedbacks, não veem propósito no que fazem. Esses são alguns dos estressores relacionados ao burnout. Outros são a pouca flexibilidade e poder de decisão na rotina corporativa, perda de autonomia e metas pouco alcançáveis. E o mais interessante do burnout é que aqueles que correm maior risco de desenvolvê-lo são os trabalhadores mais idealistas, que esperam mais do trabalho. Adoecem mais quem se importa muito com o trabalho, e a frustração tem peso importante nessa situação”, aponta o médico.

## Sensações emocionais e físicas

Com o objetivo de entender o impacto do isolamento social na saúde mental dos brasileiros, Instituto Bem Estar e NOZ Pesquisa e Inteligência realizaram o levantamento *[Saúde da Mente e Isolamento Social](https://www.bemdoestar.org/pesquisa-saude-da-mente-e-isolamento-social)*, em maio de 2020, que contou com 1.515 participantes de todo o país. Segundo o estudo, 53% disseram apresentar alterações de humor, sendo as mais citadas: medo acima do normal (71%), preocupação excessiva (70%), insegurança (66%), desânimo (56%), irritação (54%) e sensação de que algo muito ruim pode acontecer (51%).

Entre as sensações emocionais que mais despertaram respostas, 81% afirmaram ter a mesma ou mais dificuldade de concentração na pandemia, sendo que 51% disseram apresentar mais dificuldade do que o habitual. A desesperança foi outra sensação apontada (43%).

“O burnout é diferente de estar cansado do trabalho, ele tem a ver com a atividade em si, com a satisfação, com um esgotamento total. A pessoa não tem força para levantar-se da cama, apresenta dificuldade de se conectar com as tarefas e demonstra um distanciamento emocional grande, aversão e frustração bastante fortes. É como se o trabalho fosse inútil, sem propósito”, afirma Daniel Barros. Ainda segundo o médico psiquiatra, quem está ao redor começa a perceber sutis mudanças de comportamento, o que pode despertar um sinal de alerta: “o sujeito fica mais grosseiro ou desligado, mais isolado ou gera mais conflitos, são sempre mudanças de comportamento para pior”, emenda.

Já entre as reações físicas, o combo falta de energia, preguiça e cansaço excessivo foi a sensação mais assinalada pelos respondentes  61% sentiram aumento na pandemia, sendo que quase 1 em cada 4 relataram sentir “muito mais” falta de energia, preguiça e cansaço excessivo. A insônia é outro problema recorrente, ainda mais presente durante a covid-19 para 51% dos entrevistados. Nesse tema, a falta de sono parece afetar mais os jovens, uma vez que 60% dos que relataram o aumento das crises de insônia possuíam menos de 30 anos.

Outras reações físicas indicadas na pesquisa foram dores musculares (79%), dores de cabeça (35%), batimentos cardíacos acelerados (26%), problemas intestinais (22%) e falta de ar (20%), todos sintomas que podem ser relacionados ao esgotamento.

## Cuidados com o bem-estar

Ao mesmo tempo, o isolamento também modificou os hábitos dos brasileiros – para o bem e para o mal. O levantamento conclui que, enquanto 61% dos que reduziram a atividade física na pandemia relataram um aumento no desânimo, aqueles que conseguiram aumentar a frequência da prática de exercícios caiu para 38% no mesmo período. Essa comparação também se provou quando houve investigação sobre os sintomas físicos relacionados à prática – 37% daqueles que diminuíram a frequência de atividades físicas têm sentido mais dores de cabeça.

![](https://lh6.googleusercontent.com/xqRWM6CJ7MAx-CGZi5b5nMhfY1iFyFEHWOEo2Gj-87JjWBfgV0XjjsKZGinUxoEHCEOY_fvw0oYLI5-Yv6GT6M-e5CI4fIpQt-iapTm3XoxXOcZSAfKiaBR-qZFVKirUYJmq7Js2ESzHuDrxsA)

A meditação costuma ser uma das práticas mais aconselhadas para o tratamento da ansiedade e, consequentemente, do esgotamento relacionado ao trabalho. A consciência corporal obtida por meio da meditação auxilia na redução dos níveis de estresse, na percepção dos sinais corporais e possíveis alterações, na melhora do aprendizado, da cognição e da memória. Entre os entrevistados, 28% estão praticando a meditação na pandemia, enquanto 13%, ioga.

O atendimento terapêutico, outra indicação quase unânime para aqueles que sofrem com transtornos mentais, segue como uma das práticas mais populares, embora a crise financeira aponte para uma futura queda no número de pessoas que fazem terapia. O estudo mostrou que 85% dos que faziam terapia deixaram de ir ao consultório e seguem com o [atendimento online](https://www.revistahsm.com.br/post/atendimento-psicologico-online-a-tecnologia-aliada-a-promocao-da-saude-mental-nas-organizacoes), sendo que 10% começaram ou aumentaram a frequência durante o isolamento e outros 14% diminuíram a quantidade de sessões; no entanto, 10% pararam o atendimento durante a pandemia.

“O estresse no trabalho pode ser um gatilho para o adoecimento mental, portanto, é fundamental que a pessoa fique atenta a dicas de gerenciamento do estresse, como cuidar do sono, realizar atividade física regularmente, respeitar os limites do seu corpo e até mesmo praticar meditação. As doenças mentais são sempre multifatoriais e, por isso, o aconselhável é [estarmos de olho em todas as dimensões do ser humano](https://www.revistahsm.com.br/post/gestao-de-time-os-5-sintomas-de-uma-equipe-doente)”, finaliza Daniel Barros.

Confira mais artigos sobre o tema no [Fórum Saúde Mental nas Empresas](https://www.revistahsm.com.br/forum/saude-mental-nas-empresas).

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