O livro A Startup Enxuta, do norte-americano Eric Ries, ficou famoso por adaptar os conceitos da gestão lean para o universo do empreendedorismo. No entanto, ele apresentava uma proposta ainda mais ousada e radical: a criação de um mercado acionário de longo prazo (LTSE, na sigla em inglês). A ideia básica? Para estimular a inovação sustentável nas empresas, em detrimento da busca de lucros no curto prazo, é preciso um novo tipo de bolsa de valores.
Ries destaca a importância excessiva que as bolsas dão aos resultados imediatos, representada, em sua visão, pela demanda por apresentar lucros em todos os balanços trimestrais. Isso, segundo ele, afeta diretamente o espírito inovador das empresas e tem levado muitas startups a evitar o caminho da abertura de capital.
Desde a publicação do livro, Ries vem detalhando sua proposta, como relata a _MIT Technology Review._ Ela inclui agora mais pontos-chave:
• Pagamento de bônus aos colaboradores vinculado ao sucesso no mercado e não mais ao desempenho das ações em bolsa.
• Poder de voto variável, ou seja, quanto mais tempo um investidor mantém a ação de uma empresa, mais peso tem nas decisões.
• Exigência de que as organizações detalhem publicamente quais são seus investimentos de longo prazo.
O objetivo final da bolsa de Ries é possibilitar que as empresas tomem decisões economicamente sustentáveis sobre produtos e serviços, em vez de se limitarem a lutar para garantir o caixa do próximo trimestre. Hoje esse é um luxo restrito a companhias de capital fechado ou, no caso das abertas, com sucesso amplamente reconhecido.
**MÃOS À OBRA**
Ries vem se dedicando a formar uma equipe para colocar sua ideia em prática. Já reuniu ao menos 20 profissionais e atraiu a atenção de cerca de 30 investidores, entre eles Marc Andreessen, famoso por sua participação com capital de risco em diversas startups de tecnologia. O grupo vem mantendo conversas com as autoridades norte-americanas a fim de concretizar a criação do LTSE.
Os entraves burocráticos, porém, não são os únicos desafios para levar a proposta adiante. O próprio conceito é contestado em alguns aspectos.
Exemplos? Vincular os ganhos dos executivos ao sucesso de longo prazo pode tornar mais difícil atrair talentos. O poder de voto diferenciado talvez dê poder demais a um grupo pequeno de investidores teimosos e inflexíveis, ainda que tenham a persistência como qualidade.