“A tecnologia atual e a estrutura de capital de risco estão quebradas. Elas recompensam a quantidade e não a qualidade, o consumo no lugar da criação, as saídas rápidas em vez do crescimento sustentado, o lucro do acionista e não a prosperidade compartilhada. Correm atrás do unicórnio e da disrupção em vez de dar apoio a negócios que ajudam, cultivam e conectam. E, com isso, colocam em risco a democracia, já que ameaçam instituições fundamentais, como jornalismo, educação, saúde e governo.”
As empreendedoras norte-americanas Jennifer Brandel, Mara Zepeda e Astrid Scholtz vêm cutucando os animais selvagens das startups com vara curta em artigos provocativos na plataforma Medium. Diante dos riscos em relação aos unicórnios que apontaram, elas propõem o conceito de “zebra”. No manifesto“Zebras consertam o que os unicórnios quebram”, as empreendedoras explicam que escolheram as africanas zebras para melhor simbolizar as startups por cinco razões:
• São reais, não imaginárias.
• São preto no branco, ou seja, geram lucro e, ao mesmo tempo, melhoram a sociedade.
• São mutualistas: reúnem-se em grupos e se protegem mutuamente.
• São construídas com força de vontade incomparável e eficiência (de capital).
• Lidam com problemas reais e significativos e focam os sistemas sociais existentes.
“Suprassumo do unicórnio, o Facebook se tornou uma arma ao espalhar notícias falsas durante a eleição presidencial dos EUA. O Uber ficou sob fogo cruzado por apoiar agendas políticas dúbias e tolerar ambientes de trabalho tóxicos. O Medium voltou atrás depois de perceber que conteúdos que só visavam cliques poderiam produzir os resultados que os acionistas queriam ver, mas minavam a missão original do fundador de criar um modelo de publicação que iluminasse, informasse e recompensasse a qualidade sobre a quantidade”, afirmam as autoras.
**É MAIS DIFÍCIL CRIAR UMA EMPRESA ZEBRA? SIM, ELAS LIDAM COM PROCESSO, NÃO COM PRODUTO**
1. O problema que a zebra vem resolver não é produto, mas processo. Um app não vai resolver, por exemplo, a crise da falta de moradia. Não se está investindo no processo, e é isso que precisa mudar. É hora de medir de maneira diferente, e melhor, o sucesso de uma inovação.
2. Geralmente, zebras são criadas por mulheres e minorias. Só que apenas 3% do capital total investido em startups vai para mulheres, e menos de 1%, para negros. E, apesar de as mulheres fundarem 30% das empresas, recebem apenas 5% dos empréstimos para pequenos negócios e 3% do capital de risco. A contradição é que, segundo pesquisas diversas, equipes com mulheres têm desempenho superior ao daquelas integradas só por homens.
3. Você não é o que não vê. Fora do Vale do Silício, existem empresas zebras promissoras, mas é preciso haver modelos inspiradores no Vale.
4. As zebras estão presas a dois paradigmas ultrapassados: lucrativo ou não lucrativo. Jovens empresas que buscam lucro e propósito ao mesmo tempo se apoiam em estruturas imperfeitas e híbridas e muitas vezes são caras demais, em termos de custos legais e de tempo. É o dilema do ovo e da galinha.
5. A tese de que o investimento de impacto funciona é estreita e avessa a riscos. Boa parte dos US$ 36 bilhões de investimento se restringe a áreas como energia limpa, microfinanças e saúde global. Educação e jornalismo, por exemplo, são totalmente esquecidos. As zebras necessitam de novos modelos.