Liderança
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O líder dos sonhos dos jovens – 2015

Pesquisa Cia de Talentos/Nextview, publicada com exclusividade por HSM Management, mostra que agora empreendedorismo e proximidade é que têm impacto decisivo na percepção da juventude

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O que estão pensando os jovens e futuros profissionais de 17 a 26 anos que vivem sua primeira crise brasileira? O que os guia na turbulência? A edição 2015 da pesquisa O Líder dos Sonhos dos Jovens, organizada pela Nextview People em conjunto com a Cia de Talentos, oferece algumas respostas: praticamente metade deles não admira nenhum líder, eles confiam mais em pessoas cujas histórias conhecem de perto e se sentem inspirados por empreendedores e visionários. 

Danilca Galdini, sócia-diretora da Nextview People e responsável pela pesquisa, explica que alguns resultados do estudo são relativamente esperados em anos de crise. “Em épocas assim, os jovens ficam mais céticos; muitos não admiram ninguém ou só valorizam pessoas com histórias que conhecem de perto, de veracidade garantida.” A admiração pela paixão empreendedora também é previsível em crises, conforme Galdini. Não se trata apenas do arquétipo heroico de não se deixar abater por dificuldades. “Os jovens se encantam com pessoas que começaram do nada e hoje têm estabilidade financeira, reconhecimento. 

Eles enxergam isso como uma possibilidade para sua vida, um caminho a seguir”, diz. Em 2015, 49% dos jovens dizem não admirar nenhum líder (ante 46% em 2014). As figuras do pai, da mãe e do chefe direto (gestor ou ex-gestor) voltam aos primeiros lugares depois de terem desaparecido. Perfis empreendedores se destacam – gente que pensa grande e longe, que se expõe e corre riscos, como Jorge Paulo Lemann e Silvio Santos. Em especial, a geração startup ganha os holofotes, representada por Flávio Augusto da Silva e Bel Pesce.

os vencedores A história de Flávio Augusto, que partiu de uma origem humilde para fundar uma das redes de escolas de inglês mais bem-sucedidas do País, a Wise up, tem muito apelo. (Ele vendeu a rede para a Abril Educação por r$ 900 milhões.) Em especial, porque ele não parou de empreender. hoje é dono do Orlando City, time de futebol dos Estados unidos capitaneado pelo jogador Kaká, e tem uma série de negócios, entre os quais o meuSucesso.com, plataforma de educação empreendedora. Bel Pesce não saiu do nada, mas teve a coragem de sair do Brasil para o mundo. 

Estudou no célebre MIT, o Massachusetts Institute of Technology, cocriou uma startup no vale do Silício e lançou um livro que foi baixado mais de 1 milhão de vezes na internet. Em 2014, abriu a FaziNOvA, dedicada a formar empreendedores por meio de cursos online e presenciais do tipo nanodegree. 

Segundo Galdini, a história de superação é uma constante entre os líderes mais admirados, só que agora são os empreendedores que a representam melhor. Em rankings do passado, a superação foi reconhecida em líderes como o político Luiz inácio Lula da Silva e a executiva Graça Foster. A que Flávio Augusto e Bel Pesce atribuem sua popularidade entre os brasileiros mais jovens? O primeiro enfatiza o fato de não ser adepto de fórmulas impostas por outros, fazendo as coisas de seu jeito. “Sabe o filme Matrix? Eu sou dos que preferem tomar a pílula vermelha para passar a enxergar a ‘matrix’ de outra forma. Não me torno mais um na multidão, não deixo meus sonhos de lado, não troco meus objetivos por planos B, C, D… z”, comenta. Flávio Augusto defende ainda uma nova mentalidade, baseada em menos “coitadismo” e mais protagonismo, superando as diferenças sociais com essa outra visão de vida.

Para Bel Pesce, as pessoas valorizam o fato de ela não ser romântica sobre as coisas, e sim realista. “Depois que você fez alguma coisa legal, é fácil esquecer toda a sua luta. 

As histórias dos vencedores são escritas de uma forma que não é real. Eu falo do real, mostro os perrengues, os medos, os desafios. As pessoas gostam disso”, diz ela. A ideia de correr atrás dos próprios sonhos é muito trabalhada na internet tanto por Flávio Augusto como por Bel Pesce. 

Por exemplo, na FaziNOvA de Bel, que contabiliza mais de 100 mil alunos no total, o carro-chefe dos cursos é o Laboratório de Sonhos, que inclui módulos como o de autoconhecimento no currículo. Flávio Augusto já ingressou no ranking em 2014, mas, para a engenheira eletricista de 27 anos, a inclusão foi uma surpresa. “isso acaba me parecendo um pouco surreal, porque sei que também tenho um caminho longo a percorrer, preciso me provar.”

> **Os rankings dos lideres**
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> * 67.896 pessoas participaram da pesquisa. 
> * são 56% mulheres e 44% homens. 3 suas idades variam de 17 a 26 anos (48% entre 21 e 24 anos).
> * 89% são estudantes universitários (destes, 38% com previsão de formatura em 2015 ou 2016) e 11% já se formaram. 
> * o levantamento foi realizado de janeiro a março de 2015 nas cinco regiões brasileiras. 3 7,37 foi a nota média dada aos gestores/líderes imediatos. 
> * A liderança inspiradora e visionária tem a preferência de 35% dos entrevistados. 
> * A presidente Dilma Rousseff surpreende ao se recuperar um pouco. Depois de ocupar o 3º lugar em 2011, 2012 e 2013, deixou o ranking em 2014 e agora volta. Duas hipóteses para explicá-lo: o voto de confiança de eleitores e o fato de a operação lava-Jato estar em curso. 
> * o método foi quantitativo (com questionários online) e qualitativo (com grupos focais e entrevistas em profundidade).![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/723fc25a-a6bd-47ed-9d5f-9138bb34aade.jpeg)![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/88675caa-d9f2-4f9a-b918-4113549e8cf1.jpeg)

**OS ELEITORES**

Raissa Gripp, 22 anos, é estudante de engenharia de alimentos na universidade de São Paulo (uSP). Ela foi uma das jovens que participaram da pesquisa Nextview/Cia de Talentos e votou em Bel Pesce como líder mais admirada. 

Por quê? raissa conta que acompanha o que Bel publica (ela posta com frequência no “Blog da Bel”, em seu site, e em sua página no Facebook) e se identifica com suas ideias e características. “Encontrei uma mulher sonhadora e criativa, que batalha por aquilo que quer e busca compartilhar com os outros seus acertos e erros, com humildade e dedicação em tudo o que faz. 

O fato de ela ser jovem e ter abertura para falar faz com que nossa geração se identifique naturalmente com ela”, analisa a estudante. mateus Cavalheri, estudante de engenharia química na uSP e estagiário na Procter & Gamble, votou em Flávio Augusto. “Conheci o Flávio por meio de seu projeto Geração de valor, no Facebook. hoje sou ávido consumidor de seu conteúdo e pretendo em breve assinar seu portal de estudos de empreendedores. Ele é um excelente exemplo de liderança para mim”, faz questão de dizer. 

A identificação líder-jovem é imediata nesse caso. “vou empreender no futuro, ter minha própria startup”, planeja mateus. O voto de Wellington Andrade, 23 anos, foi diferente. Ele estuda administração na PuC minas e é estagiário na Gerdau, além de ter passado pelo itaú unibanco. Ele elegeu uma ex-gestora do itaú unibanco. “votei em minha ex-gerente pelo crescimento que ela teve no banco em seus dez anos de experiência, considerando que tem apenas 29 anos. 

Ela sempre se dedicava a nos ouvir mais, nunca dizia estar ocupada e nunca a vi de mau humor; tinha sempre um sorriso no rosto. E sabe desenvolver as pessoas em suas carreiras.” E o que os jovens pensam dos líderes em geral, próximos ou distantes? Para eles, faltam tolerância e habilidade de ouvir. “A liderança participativa é muito falada, mas pouco praticada. muitos líderes não têm paciência e jogo de cintura para lidar com as exigências dos clientes e com as metas estabelecidas e ainda cuidar das pessoas”, afirma Wellington.

Não estar aberto a ouvir as ideias dos jovens pode ser fatal, como acrescenta raissa. “Quando tem essa postura, o líder se arrisca a perder informações que poderiam colaborar para o resultado final”, pondera. A pesquisa quantitativa estende o que Wellington e raissa observam: 61% dos jovens dizem que não recebem feedback ou que este é insuficiente. Embora saiba do tamanho do desafio, Galdini acha preocupante ele não ser vencido. “O papel de gerenciar pessoas é importante dentro do desenvolvimento do negócio; é obrigatório ter um olhar mais apurado para fazer as pessoas serem produtivas e se envolverem, para que atinjam o resultado que a empresa espera”, diz. 

No entanto, a diretora da Nextview lembra que a falta de feedback muitas vezes é um problema de percepção, que seria corrigido com mais clareza e objetividade. “Alguns jovens não percebem que o feedback está sendo dado, de tão sutil que ele é.”

> **A avaliação do RH**
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> Como a percepção de líder que os jovens têm é interpretada pelos executivos de recursos humanos das grandes empresas? Vice-presidente de recursos humanos da Avon para a América latina, Alessandra ginante vê uma mudança positiva em relação ao que faz alguém ser um líder admirável. 
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> **Quase metade dos jovens afirma que não admira nenhum líder. isso é bom?** Não é necessariamente ruim.  Pode significar que os jovens estão mais críticos antes de formar sua opinião e conscientes de que o modelo de executivas e executivos “supermulheres”  e “super-homens” não se sustenta, porque, na complexidade do mundo atual, a fortaleza está nos times.
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> **Na pesquisa de 2015, a influência de pai e mãe e de gestores e ex-gestores, que tinha diminuído, volta forte. Por quê?** Vemos um esvaziamento das instituições de forma geral, tanto pela consciência crítica que a educação e o acesso às redes sociais ajudam a despertar como pelos casos de corrupção e incapacidade em prover serviços de qualidade. há uma mudança sobre o que torna alguém admirável como líder. Acho que se fortalece a liderança por princípios e valores. Fortalecem-se também os que lideram com discurso e prática congruentes, principalmente nos momentos de desafios como o atual. 
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> **Daí os pais e gestores, fáceis de observar… Mas os jovens respondentes reclamam de falta de feedback. É hora de as empresas fazerem um mea culpa?** sim, a insuficiência de diálogos abertos entre líderes e liderados é um problema crônico e não impacta somente o jovem. Acho que, principalmente na cultura latina, a conversa franca, direta, baseada em exemplos reais com os quais se pode aprender, seria uma oportunidade de melhoria. Até quando elogiamos não somos diretos: tendemos a ser mais genéricos na justificativa do mérito! imagine então o que ocorre quando o comentário é crítico. Neste momento, algumas grandes organizações globais estão desconstruindo seu processo tradicional de gestão de desempenho exatamente para tentar aumentar sua efetividade e sua frequência. o custo do processo atual é maior do que o valor que ele agrega.
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> **o empreendedor Flávio Augusto da Silva lidera pela primeira vez o ranking brasileiro; a empreendedora Bel Pesce também aparece de forma inédita.  Essa geração está mais comprometida com a ideia de empreender do que  as anteriores?** A verbalização do interesse pelo empreendedorismo sem dúvida anda mais comum entre os jovens, mas eu não diria que é uma geração mais comprometida em empreender. Tenho dúvidas se estão comprometidos ou se só são idealistas. Vejo jovens que, sem interesse em ingressar em organizações grandes e burocráticas, idealizam a vida do empreendedor. Não necessariamente se lembram dos desafios a enfrentar, que, no Brasil, são muitos. Agora, me alegra o fato de termos jovens mulheres como Bel Pesce ocupando espaço. Já passou da hora de o gênero não determinar nosso julgamento sobre a capacidade e o sucesso de alguém.

**GERAÇÃO INTERNET**

Conforme a coordenadora da pesquisa, a capacidade de comunicação também é tão marcante nos rankings de líderes mais admirados quanto a história de superação. E, se comunicação deveria ser sinônimo de liderança, nem sempre o é. “Tanto o Flávio como a Bel são muito bons em dar dicas práticas para o trabalho e também são bons contadores de histórias. 

Os jovens se veem ali”, analisa Galdini. As redes sociais só amplificam isso. No Facebook, a principal rede social do planeta, Flávio Augusto da Silva tem 2,5 milhões de seguidores na página Geração de valor, e Bel Pesce, mais de 280 mil na que leva seu nome. Ambos postam o dia a dia de suas atividades, com dicas, comentários, chamadas, frases motivacionais. “Esse contato tem sido essencial para a missão que decidi abraçar há quatro anos, que é compartilhar conhecimento e encorajar as novas gerações a questionarem um pouco mais o modelo vigente que muitos seguem no piloto automático: escola + universidade + emprego + aposentadoria”, afirma Flávio Augusto. Também “a menina do vale” (título do livro autobiográfico de Bel Pesce) considera as redes sociais e a internet de modo geral estratégicas para levar seu conteúdo ao maior número de pessoas possível. 

Na internet, ela acionou uma ferramenta ainda pouco comum no meio empreendedor, o crowdfunding (financiamento coletivo) para viabilizar um ciclo de palestras em todo o País. A campanha que lançou, com recompensas diversas, visava arrecadar r$ 260 mil, mas ela conseguiu quase r$ 900 mil. E as palestras foram realizadas em todas as capitais no final de 2014. “A recepção foi inacreditável”, conta Bel.

**LÍDERES DOS LÍDERES**

Quais líderes são admirados pelos líderes dos rankings? Bel Pesce cita Elon musk entre os internacionais, fundador da Tesla, da SolarCity, da SpaceX e do PayPal. “Ele é um dos maiores visionários que já vi na vida, me inspira muito.” 

Bel conta que dois de seus maiores mentores aparecem na pesquisa: Jorge Paulo Lemann e Flávio Augusto. “Os dois me ajudam muito e acreditam muito em mim, são uma referência”, diz ela, que ainda cita o piloto Ayrton Senna e Walt Disney. Já Flávio Augusto afirma sentir-se inspirado pelo que seria uma síntese de seis líderes: Steve Jobs (“por sua capacidade de inovação”), richard Branson (“por sua ousadia”), sua avó (“por sua alegria de viver”), Jorge Paulo Lemann (“por seu arrojo”), Silvio Santos (“por seu talento de comunicador”) e mark zuckerberg (“por sua visão”). 

**APEGO AOS VALORES E O PAPA**

A inclusão do papa Francisco no ranking mundial dos líderes mais admirados – ele aparece em quarto lugar – revela que a preocupação com valores está em alta neste momento de crise. “O papa reúne valores que são importantes para os jovens, como respeito pelos colaboradores, amizade, responsabilidade social e visão global”, avalia Galdini. Flávio Augusto aprova o apego aos próprios valores. “Se eu perder minha essência, serei um fracassado, mesmo sendo um líder dos sonhos dos jovens. Nada terá valor se não for fiel a minha essência. Quero chegar ao final da vida tendo combatido o bom combate.”

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