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A inteligência artificial conta histórias

Estudo realizado pelo MIT Media Lab mostra que os computadores podem indicar o caminho para o sucesso e, desse modo, tornarem-se cocriadores de roteiros de filmes e produções em vídeo.

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A apresentação do filme _Sunspring_, no festival Sci-Fi London, em 2016, apresentou ao mundo do cinema um elemento criativo novo: um robô dotado de inteligência artificial (IA) escreveu todo o roteiro da produção. 

As muitas imperfeições, tanto na trama como nos diálogos, parecem afastar, pelo menos por enquanto, a ideia de as máquinas substituírem os seres humanos nessa atividade. No entanto, é possível vislumbrar um cenário menos radical: os robôs poderiam trabalhar lado a lado com os roteiristas, em um movimento de cocriação, para aprimorar o processo de desenvolvimento das história.

O Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), realizou recentemente uma estudo sobre o potencial dessa colaboração entre humanos e máquinas na criação de histórias para o cinema e para a TV.

A equipe responsável pelo projeto levantou a seguinte questão: as máquinas seriam capazes de identificar aspectos comuns à maioria das histórias, como a superação de dificuldades, as bênçãos da sorte e a luta contra o mal? E, em caso positivo, os roteiristas poderiam utilizar essas informações para prever com o público reagiria a  suas tramas?

**BOLA DE CRISTAL TECNOLÓGICA**

De saída, vale saber um pouco mais sobre um conceito central do estudo que foi realizado. Estamos falando dos chamados arcos emocionais, que sempre foram utilizados por grandes escritores, dramaturgos e roteiristas de todos os tempos.

Com uma capacidade instintiva de entender e lidar com as emoções do público, os melhores autores misturam na medida certa elementos que provocam diversão, tristeza, raiva e assim por diante, o que cria um arco emocional. Assim, o estudo partiu do pressuposto de que o arco emocional pode explicar, em boa parte, por que alguns filmes têm mais sucesso do que outros.

Foram desenvolvidos modelos de aprendizado que permitiram aos computadores “assistir” a partes de filmes, programas de TV e vídeos online e avaliar o impacto emocional, positivo ou negativo, das cenas.

O modelo levou em consideração todos os aspectos de um filme, ou seja, não apenas a trama, os personagens e os diálogos, mas também elementos mais sutis, como o “close” em um personagem ou a música de fundo durante uma cena de perseguição. Quando é feita a análise do conjunto das partes, o arco emocional da história emerge.

Observar como as histórias ganham forma é interessante. O mais importante, porém, é compreender como essas informações podem ser utilizadas – descobrindo, por exemplo, se o arco emocional de uma história pode determinar a forma como o público vai reagir a um vídeo ou a um filme. Ou se os roteiros com determinados arcos emocionais podem gerar mais envolvimento do que os demais. E, por fim, se tudo isso pode ser previsto com antecedência.

O estudo buscou responder a essas questões analisando as informações visuais de vídeos do tipo curta-metragem do acervo da plataforma Vimeo. Para cada vídeo estudado, recorreu-se a um modelo de regressão a fim de avaliar características do arco emocional e, ao mesmo tempo, monitorar os elementos que podem afetar a reação do público online, como a duração do vídeo e a data em que foi colocado do ar.

O objetivo era prever o número de comentários que um vídeo receberia em redes sociais. Na maioria dos casos, comentários em grande quantidade indicam um forte engajamento do público, embora possa haver algumas ressalvas a essa regra. Afinal, algumas produções podem motivar muitos comentários, mas não necessariamente positivos.

Nas análises realizadas, os arcos emocionais do material visual indicaram com antecedência o envolvimento do público, medido pela quantidade de comentários. A equipe que conduziu o estudo leu todos os comentários sobre os curtas, classificando os tipos de reações emocionais expressas. Um programa de computador também mediu a duração dessas reações.

Isso confirmou que alguns tipo de histórias, em especial, tendem a gerar respostas mais longas e veementes. Em vez de apenas dizerem “ótimo trabalho”, os comentários traziam algo como “fantástico…tão, tão forte… acerta você em cheio”.

Igualmente relevante é o fato de os comentários não se concentrarem em algum aspecto visual ou em imagens específicas, mas no impacto geral do vídeo e como na forma como a história mudou ao longo do tempo.

**MAIS INSPIRAÇÃO PARA  ROTEIRISTAS HUMANOS**

As conclusões deste estudo não devem representar, necessariamente, o fim do trabalho criativo dos roteiristas; podem, isso sim, inspirá-los a observar o conteúdo de seu trabalho mais objetivamente e fazer mudanças para aumentar o engajamento do público – por meio de imagens diferentes em momentos cruciais, por exemplo, ou com ajustes na trama, nos personagens e nos diálogos.

À medida que os escritores perceberem o valor da inteligência artificial, e que essas ferramentas se tornarem mais disponíveis, será possível acompanhar uma grande transformação na maneira como as histórias são criadas. De mesma forma que os executivos conseguem levar o movimento da inteligência artificial para seu trabalho, os roteiristas poderão trabalhar lado a lado com as máquinas, utilizando a IA para aprimorar sua produção e amplificar o impacto emocional causado.

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