Uncategorized

Cultivando o investimento de impacto

Modalidade precisa vencer barreiras para crescer e cumprir sua maior vocação
Roger Martin é diretor do Martin Prosperity Institute, professor da Rotman School of Management, da University of Toronto, do Canadá, e autor do livro Getting beyond better: how social entrepreneurship works. Rod Lohin é diretor-executivo do instituto de cidadania corporativa da Rotman School.

Compartilhar:

Imagine um mundo em que seja possível fazer investimentos com sólidos retornos e, ao mesmo tempo, assegurar que esse capital gere benefícios para a sociedade. Essa é a promessa de uma abordagem que ganha cada vez mais força em todo o mundo: o investimento de impacto. 

Inserida no contexto das ações de responsabilidade social, essa nova modalidade é constituída de aplicações feitas por empresas, organizações não governamentais e fundos de investimento com a intenção de gerar impacto social e ambiental mensurável e com ganhos financeiros. 

Embora seja conceitualmente atraente e já conte com investidores pioneiros, o investimento de impacto ainda precisa crescer e se difundir. 

Os cinco atributos para disseminar uma inovação propostos no livro _The diffusion of innovations_, de Everett Rogers, servem como uma luva para o investimento de impacto: 

• A vantagem relativa sobre as alternativas.
• A compatibilidade com os valores, as experiências e as necessidades das pessoas.
• A simplicidade.
• A possibilidade de experimentação.
• A visibilidade. 

**VANTAGEM RELATIVA**

À primeira vista, somar benefícios sociais e ambientais mensuráveis a retornos financeiros já é suficiente para fazer o investimento de impacto ser muito superior aos demais investimentos e à filantropia. No entanto, a vantagem relativa a ser percebida no investimento de impacto depende de mais três aspectos: 

1. Um histórico substancial com indicadores de sucesso financeiro identificáveis deve ser gerado, permitindo que os investidores comprovem a probabilidade de resultados sólidos com nível aceitável de riscos e custos. 

2. O impacto positivo sobre os problemas sociais tem de ficar demonstrado. Embora resultados mensuráveis sejam uma característica do investimento de impacto, esse continua sendo um dos aspectos mais desafiadores da nova modalidade. 

3. Há ainda um marco regulatório relativamente nebuloso. Como ocorreu com as primeiras ações de responsabilidade socioambiental, não está inteiramente claro se o investimento de impacto atende aos requisitos de responsabilidade fiduciária dos investidores institucionais, o que pode limitar o mercado significativamente. 

**O que é preciso fazer para resolver isso:** 

1. Monitorar o sucesso financeiro em condições de risco e custos aceitáveis.
2. Gerar padrões claros de mensuração e sistemas de seguro.
3. Criar uma regulamentação clara com regras de compliance. 

**COMPATIBILIDADE**

Como mencionamos, os investimentos de impacto já estão atraindo o interesse de pioneiros como grandes instituições financeiras e gestores de fundos. Mas não é óbvia a conclusão de que essa nova abordagem é compatível com a moderna teoria de portfólio de investimentos. 

Em primeiro lugar, os investimentos de impacto introduzem um vetor de “variáveis sociais” que vão além de retorno e risco, e isso torna a seleção e o acompanhamento de potenciais investimentos mais complicados. Segundo, uma vez que o investimento de impacto exclui outros gastos com ações de responsabilidade social, pode-se argumentar que se perdem as vantagens associadas à diversificação. 

Um terceiro ponto é haver desafios reais no que diz respeito à liquidez, especialmente em mercados privados, que podem não ser aprovados por investidores menos experientes. 

Esses problemas são objeto de conversas entre investidores e analistas de mercado. Quando estes têm formação mais tradicional, raramente conhecem o bastante sobre investimentos de impacto e, assim, acabam orientando os clientes de volta a opções familiares, com medo de que percam retorno, diversificação e/ou liquidez. 

Há também um desafio no que diz respeito à compatibilidade com as práticas e sistemas já existentes. Como muitos produtos de investimento de impacto são novos e oferecidos por meio de intermediários pouco usuais, fica difícil para os investidores e analistas encontrar e ter acesso a essas novas possibilidades. 

**O que é preciso fazer:**

1. Realizar novas pesquisas sobre a conformidade com a teoria moderna de portfólio.
2. Divulgar as pesquisas a analistas e outros.
3. Criar recursos de informação e sistemas de negociação e compensação públicos. 

**SIMPLICIDADE**

O mundo dos investimentos já é bastante complexo, com teorias, jargões, instituições e sistemas próprios. Os investimentos de impacto acrescentam outro elemento: benefícios sociais e ambientais, que podem ser intuitiva e emocionalmente atraentes, mas não ajudam a simplificar as coisas. 

Além disso, ainda há dificuldade de encontrar informações sobre esse tipo de investimentos, um enorme desafio para analistas e investidores que querem aderir a eles. 

Essas questões podem ser superadas por provas claras de sucesso e melhor integração com as teorias e os sistemas financeiros. No entanto, no curto prazo, é provável que os defensores dos investimentos de impacto continuem a se concentrar em seu ponto mais forte, ou seja, a crença de que o impacto é algo bom. 

**O que é preciso fazer:** 

1. Simplificar as coisas por meio de evidências.
2. Apelar ao desejo humano por impacto. 

**EXPERIMENTAÇÃO**

Os investimentos de impacto são algo relativamente novo, com muitos desafios no horizonte e com falta de produtos. A maior parte das iniciativas desse tipo tem sido realizada por grandes investidores institucionais, como fundações – e mesmo eles têm deparado com poucas opções. Desse modo, é difícil “experimentar” o investimento de impacto. 

**O que é preciso fazer:**

1. Acelerar o desenvolvimento de novos produtos para grandes e pequenos investidores, incluindo fundos de fundos e fundos mútuos.
2. Ter cautela com investimentos diretos.
3. Criar uma forma de possibilitar a experimentação para investidores que não tenha custos.

**SAIBA MAIS SOBRE INVESTIMENTOS DE IMPACTO**

O investimento de impacto pode ter configurações diversas. Alguns investidores talvez priorizem o retorno sobre o capital, mas sem deixar de gerar benefícios para a sociedade. Outros colocarão impacto social e ambiental em primeiro lugar, aceitando um retorno financeiro abaixo do mercado, que essencialmente reembolse o capital aplicado.
Os formatos dos investimentos de impacto também podem ser variados. Um exemplo é um fundo de investimento que financie pequenos negócios em uma comunidade e também remunere apropriadamente os investidores. Os empreendedores sociais, que atacam problemas sociais e ambientais muitas vezes com o uso de novas tecnologias e geram receita, também constituem um formato possível. Um terceiro formato são os títulos de impacto social emitidos por governos para financiar programas sociais inovadores. Os investidores só são remunerados se o programa social alcançar seus objetivos, o que exige que estes sejam mensuráveis.

NO BRASIL
A pesquisa Panorama do setor de investimento de impacto na América Latina, realizada pela Aspen Network of Development Entrepreneurs em parceria com a Latin American Private Equity & Venture Capital Association e com a LGT Impact Ventures, mostra que o número de investidores de impacto no País passou de 22 em 2014 para 29 em 2016. Eis outros dados:

• Os principais setores que recebem investimentos de impacto no Brasil são saúde, educação e inclusão financeira.
• Entre os instrumentos financeiros usados, o preferido é equity (67%), seguido de dívida (52%).
• Cerca de 50% dos investidores esperam um retorno anual líquido superior a 16%.

**VISIBILIDADE**

Até agora, poucos investidores ou mesmo defensores da nova modalidade de investimentos ganharam destaque. Trata se de um notável descuido e de uma oportunidade significativa. 

Quem aderir aos investimentos de impacto pode não apenas fazer o bem, como ser visto fazendo a coisa certa. 

É claro que esse aspecto não é sufi ciente. Outros desafios – como a comprovação de retorno e impacto, mais produtos e melhores recursos – precisam ser enfrentados. 

No entanto, se o investimento de impacto continuar a crescer e provar seu valor, então a visibilidade dos investidores pode ser uma estratégia apropriada para gerar uma disseminação ainda maior. 

**O que é preciso fazer:** 

1. Divulgar investimentos e investidores bem ­sucedidos, para que sejam vistos como “do bem”. 

**POTENCIAL ENORME**

O investimento de impacto possui enorme potencial. Com investidores mais poderosos e disposição para enfrentar os desafios aqui expostos, talvez seja uma das inovações mais disruptivas de nosso tempo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Uncategorized
Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
Uncategorized
A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Edward Tse

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Polímatas e Lifelong Learners: explorando perfis distintos que, juntos, podem transformar o ambiente de trabalho em um espaço de inovação, aprendizado contínuo e versatilidade.

Rafael Bertoni

4 min de leitura
Uncategorized
Liderança em tempos de brain rot: como priorizar o que realmente importa para moldar um futuro sustentável e inspirador.

Anna Luísa Beserra

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Laís Macedo

4 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar empresas que continuamente estão inovando é um desafio diário, mas cada questão se torna um aprendizado se feito com empatia e valorização.

Ana Carolina Gozzi

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A experiência varia do excepcional ao frustrante, e a Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada para padronizar e melhorar esses serviços em escala global.

Flavio Gonçalves

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
No cenário globalizado, a habilidade de negociar com pessoas de culturas distintas é mais do que desejável; é essencial. Desenvolver a inteligência cultural — combinando vontade, conhecimento, estratégia e ação — permite evitar armadilhas, criar confiança e construir parcerias sustentáveis.

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
ESG
A resiliência vai além de suportar desafios; trata-se de atravessá-los com autenticidade, transformando adversidades em aprendizado e cultivando uma força que respeita nossas emoções e essência.

Heloísa Capelas

0 min de leitura
ESG
Uma pesquisa revela que ansiedade, estresse e burnout são desafios crescentes no ambiente de trabalho, evidenciando a necessidade urgente de ações para promover a saúde mental e o bem-estar nas empresas.

Fátima Macedo

3 min de leitura