Uncategorized

Investindo em diversidade para colher igualdade

José Carlos Nascimento tem 33 anos de experiência em RH com passagens por grandes multinacionais como: IBM, PeopleSoft, Convergys, Convergys, BT Global Services, Sitel e Sage. Em todas exerceu cargos de liderança regional e para América Latina. Formando em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e com MBA em Gestão de negócios pela Fundação Getúlio Vargas, atualmente é diretor de RH da IOB. O executivo é especialista em metodologias de desenvolvimento de liderança e de carreira, e aquisição, sucessão e retenção de talentos.

Compartilhar:

O dia 17 de maio é conhecido mundialmente como IDAHOT Day, sigla em inglês para dia mundial contra a homofobia. A data foi criada em 2004 para chamar a atenção dos legisladores, formadores de opinião, movimentos sociais, da mídia e do público em geral para a violência e discriminação vivenciada pela comunidade LGBTI+ ao redor do mundo. Aproveito a oportunidade para falar sobre um tema muito importante: o respeito à diversidade.

Para começar, o que é diversidade? Ela não é apenas uma palavra que está na moda.  Embora pareça simples de entender seu significado – de acordo com o dicionário Michaelis, ela é “diferença” ou “conjunto que apresenta características variadas” –, é o potencial impacto para a vida das pessoas que devemos observar. Será que nossa sociedade aceita o diferente? O que é “diferente”, afinal? Qual é a importância de um ambiente diverso? O mundo dos negócios leva isso em conta? Deveria?

A diversidade, muito mais que uma palavra, é um sentimento carregado de delicadeza e de assuntos delicados que expõem as feridas da sociedade. Devemos, portanto, continuar estimulando o debate. Só se tem a ganhar com isso.

De acordo com o IBGE, dos 208 milhões de brasileiros, 54% são negros, 51,5% mulheres, 24% são pessoas com deficiência (PCD) e cerca de 9% fazem parte da comunidade LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade, representadas pelo “+”). Somos definitivamente diversos.

Ainda de acordo com o IBGE, a população pobre do país é composta 78% por negros, que representam apenas 25% da parte mais rica. As brasileiras trabalham em média três horas a mais, para no final receber o equivalente a 76,5% dos rendimentos de um homem. De acordo com levantamento da Catho, a diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo supera 42%.

Um estudo realizado pelo Instituto Ethos com 500 empresas nacionais identificou que mulheres ocupavam 13,6% das vagas executivas e com remuneração 30% menor do que a dos homens; 4,6% dos cargos executivos eram ocupados por negros e apenas 2% dos funcionários eram pessoas com deficiência.

Já a consultoria Santo Caos, com a pesquisa Demitindo Preconceitos constatou que 41% dos profissionais LGBTI+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho e que 38% das empresas têm restrições para a contratação de homossexuais. O resultado direto disso é que mais da metade dos respondentes (53%) declararam não falar abertamente sobre sua orientação sexual no trabalho.

O que as estatísticas mostram é que existem pessoas ficando para trás apenas por serem diferentes do que foi estabelecido há séculos como aceitável. Embora sejamos diversos em muitos quesitos, os talentos não são distribuídos igualitariamente na sociedade. E, focando no mundo empresarial, perdem as organizações que não enxergam ou valorizam isso. Deixando um pouco mais claro, a diversidade é extremamente benéfica para os negócios.

É o que diz uma pesquisa da McKinsey realizada com mais de 1000 empresas. O estudo encontrou uma correlação entre um melhor desempenho financeiro e o aumento da diversidade dentro de uma empresa: as que consideram esse quesito no recrutamento tendem a apresentar resultados financeiros 25% melhores – 15% quando se trata da diversidade de gênero, e 35% quando ela é étnica.

Com um ambiente diverso, as ideias também são diversas. A tendência é que os funcionários compreendam suas empresas com mais facilidade, fazendo com que sejam mais inovadores, resolvam problemas mais facilmente e pensem em soluções fora da caixa. Então, por que não unir o útil ao agradável?

O mercado ainda fecha a porta para o diferente, e, apesar de haver uma mudança nos últimos anos, há muito espaço para um trabalho direcionado. O Hay Group constatou que apenas 5% das empresas brasileiras procuram saber como os funcionários percebem a diversidade no dia a dia de trabalho, número que salta para 20% quando se trata de Estados Unidos e Europa. Ou seja, o trabalho por aqui está só começando.

Também não basta um quadro de funcionários diverso, pois o que vale mesmo é a interação, a inclusão. Se funcionários de diferentes gêneros, raças e etnias não trabalham juntos, os benefícios podem ser perdidos, e isso deve ser levado em conta na hora de contratar, desenvolver e promover. Tampouco bastam discursos bonitos ou ações pontuais. A aplicação da diversidade no ambiente corporativo precisa de políticas internas para ser norteada e direcionada corretamente.

Termino com uma frase de Verna Myers, autora e especialista no assunto: “diversidade é ser convidado para uma festa, inclusão é ser chamado para dançar”. Dancemos!

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura
ESG
Resgatar nossas bases pode ser a resposta para enfrentar esta epidemia

Lilian Cruz

5 min de leitura
Liderança
Como a promessa de autonomia virou um sistema de controle digital – e o que podemos fazer para resgatar a confiança no ambiente híbrido.

Átila Persici

0 min de leitura
Liderança
Rússia vs. Ucrânia, empresas globais fracassando, conflitos pessoais: o que têm em comum? Narrativas não questionadas. A chave para paz e negócios está em ressignificar as histórias que guiam nações, organizações e pessoas

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Empreendedorismo
Macro ou micro reducionismo? O verdadeiro desafio das organizações está em equilibrar análise sistêmica e ação concreta – nem tudo se explica só pela cultura da empresa ou por comportamentos individuais

Manoel Pimentel

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura