Uncategorized

Inovação: problema prático ou conceitual?

Se ninguém é declaradamente contra a busca e a implementação da inovação, por que muitas vezes os projetos não saem do papel? Aqui estão cinco pontos de atenção.
Diretor de inovações na Ambev. Com doze anos de experiência na companhia, ele já atuou nas áreas de vendas, marketing e inteligência de mercado até assumir a cadeira atual, onde lidera com foco na velocidade, cultura do risco, desburocratização e autonomia dos times.

Compartilhar:

Levante a mão aquele que conhece alguma liderança que advoga contra a inovação, que acha que sua empresa deveria apostar no status quo e acredita que as respostas do futuro já estão todas na mesa hoje. 

Eu não conheço, e acredito que você também não! Mas se este é o cenário, por que ainda temos níveis tão baixos de novidades vindos de algumas empresas e setores?

Por que é difícil implementar a inovação?
—————————————–

Recentemente passamos por uma reformulação grande na multinacional em que trabalho, e com a missão de acelerar nossos lançamentos de novos produtos, mapeamos e transformamos uma série de desafios invisíveis, que no dia a dia minam os times e fazem o discurso se descolar da prática. 

Ficou claro que o problema não está no discurso, mas sim no processo e incentivos que a companhia pratica. Listamos as ações dificultam a implementação da inovação:

### 1. A alta liderança é quem puxa a fila

Você pode ter os maiores talentos, vindo das empresas mais inovadoras do mundo, se o CEO e seus diretos não afinarem o discurso, dificilmente a cultura da inovação se estabelece. 

As pessoas se adaptam àquilo que estão sendo cobradas, pergunte ao seu colaborador que completa um mês de empresa e ele descreverá com uma clareza incrível o que é valorizado pela organização, quais as alavancas para ser reconhecido, o que faz alguém ser promovido ou ter maiores chances de aumentar o seu bônus.

### 2. Cultura do risco

Se não houver risco, não é grande o que se está tentando alcançar. Simples assim. 

Mas tem uma coisa que não é tão simples nesta jornada pois, ao protagonizar a realização de algo diferente do que os demais colaboradores da empresa vinham fazendo, a pessoa se expõe. 

Inclusive, os demais, muitas vezes se sentem ameaçados pela novidade, por não terem pensado nisso antes, por não terem tomado a atitude de realizar. 

A cultura do erro não é medida quando tudo dá certo, mas sim quando o tiro sai pela culatra. É nessa hora que o suporte emocional e o endosso da alta liderança é fundamental para não deixar os aflitos demonizarem o tomador de risco e consequentemente implementarem a cultura da média.

### 3. O que não é medido não é acompanhado

De nada adianta um discurso afiado se não for possível medir o avanço da estratégia. É fundamental criar métricas claras, com valor, data e responsável para que o tema avance. 

Já que estamos falando KPIs, existem dois que mudaram absolutamente a minha visão: 

* medir market share dentre a cesta de inovações e comparar com seu market share total, para entender se é você que lidera a jornada na sua indústria;
* e o percentual de faturamento vindo de novos produtos, para saber quão relevante e estratégico está o assunto no seu portfólio atual.

### 4. Estrutura segue a estratégia

Definida a estratégia, é importante garantir que o time tenha os recursos necessários para trabalhar. E recurso não é só verba ou investimento, que aliás, nem é o item mais importante. 

Você já reparou que existem muitas empresas em que é mais fácil aprovar dez milhões de reais de budget do que uma posição adicional ou nova no time? 

Inovação leva tempo, exige muita integração, alinhamento, é importante ter um time robusto que consiga gerenciar muitos projetos, para que o pipeline não fique só nas grandes apostas, mas também em incursões mais disruptivas. 

### 5. Comando e controle é coisa do passado

Por fim, depois de vencidas as quatro etapas anteriores, é importante garantir que as pessoas tenham autonomia para criar, propor e executar. 

Nosso trabalho como gestores líderes é o de garantir um time de alta performance, com diferentes habilidades, motivado, e com liberdade para transformarem o negócio. Inspiração gera inovação, comando e controle gera execução.

Tenho certeza que nenhum dos tópicos citados acima é uma completa novidade para você, mas acredito que são essenciais. E é importante ter consciência de qual o real problema para encontrar a solução adequada. 

Inovação é um problema prático, daqueles em que o discurso é perfeito, mas o que fará o resultado realmente começar a fluir é a disciplina e consistência em manter os pilares funcionando na cultura e mente de todos os colaboradores da organização.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura