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A 4ª onda da programação neurolinguística

Esqueça a PNL que teve um boom no Brasil dos anos 1980 e os mitos em torno dela; houve uma evolução significativa de conceitos e práticas nessa área
Arline Davis, norte-americana radicada no Brasil, é diretora de treinamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística (SBPNL), master coach trainer e coautora de vários livros, como Leader coach. A SBPNL tem entre seus clientes empresas como Natura, Petrobras, Ypê, Bradesco, SEM, BB Mapfre, Porto Seguro e Telefônica.

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Nossos modelos mentais estão em boa forma para lidar com o futuro? 

Há outros modos de fazer a mesma pergunta: responderemos bem às situações previsíveis e imprevisíveis que estão por vir? Você já refletiu sobre se está pronto para lidar com mudanças profundas, talvez rupturas, nas estruturas rígidas de que participa? Você conseguirá gerar resultados por meio de cocriação, cooperação e sinergia, a fim de navegar em um oceano azul onde a inovação torne a competição irrelevante? 

Para os estudiosos de programação neurolinguística (conhecida pela sigla PNL), cabe uma pergunta similar: como a PNL pode estar em boa forma para o futuro que está chegando? E mais: como essa metodologia pode contribuir para um propósito cada vez mais discutido no mundo empresarial, o de usar menos o ego e mais o “eco” para promover a necessária transformação dos indivíduos e das organizações? 

O mundo mudou desde que a PNL entrou em cena, nos anos 1970. Temos mais conhecimento, mais acesso à informação e novas ciências esclarecem, com mais precisão, o funcionamento do cérebro. E a PNL não ficou parada no tempo. Conseguimos sobreviver a sua aplicação superficial e descontextualizada, em que práticas pouco convencionais foram utilizadas em palestras motivacionais e a fama de manipulação gananciosa respingou em profissionais dedicados a um uso humanizado, ético e sábio daquilo que aprenderam e que desejavam compartilhar. Entre os exemplos de mau uso, há até a história de uma palestrante que comeu uma barata diante de um auditório cheio, apenas para mostrar o domínio da mente. 

Hoje podemos falar em uma PNL de vanguarda, capacitada a preparar as pessoas e as organizações para o futuro. Na verdade, a PNL sempre foi muito mais do que essas afirmações positivas, truques de autoconfiança e técnicas de persuasão. É onde suas raízes nobres foram preservadas que nascem agora os frutos vanguardistas. 

**A EVOLUÇÃO**

Em seu início, a PNL focou sobretudo os padrões linguísticos e cognitivos que formam a experiência subjetiva do ser humano. Sua primeira obra, A estrutura da magia, escrita por John Grinder e Richard Bandler, descreveu o processo pelo qual criamos nossa realidade. Os autores fizeram uma reflexão sobre o ser humano, afirmando que são nossos “mapas” neurolinguísticos que determinam como nos comportamos e os significados que damos aos comportamentos, tanto nossos como os alheios. Não é a realidade em si que nos limita ou empodera, e sim nossos “mapas”. 

Uma fonte de particular inspiração para a PNL inicial foi o linguista Alfred Korzybski, que resgatou em sua obra o antigo ditado sufi: “O mapa não é o território”. Cada um mapeia o território segundo sua realidade e, nesse ponto, não há certo nem errado. O interessante é ter um modelo de mundo rico e sábio o suficiente, com um repertório de alternativas comportamentais que permita responder, de maneira apropriada, a diversos contextos e ambientes, gerando, então, resultados desejados. 

Surgiu assim o “metamodelo de linguagem”, um conjunto de perguntas que esclarecem significados, desafiam suposições e generalizações e fazem com que questionemos significados limitantes. O que parece ser a magia da transformação não é, na realidade, uma magia, mas uma disciplina que pode ser aprendida e ensinada, como qualquer outra. E foi justamente essa a empolgação que disparou uma sinergia interdisciplinar entre campos do conhecimento, como semântica geral, gramática transformacional, teoria de sistemas, cibernética, pragmatismo, fenomenologia e positivismo lógico, para citar alguns. A proposta inicial era entender como conhecemos o que conhecemos e pensar sobre o pensamento, com o objetivo de ampliar a consciência e ter mais escolhas. 

Em suma, a primeira geração da PNL apresentou um modelo de mudança simples e bastante elegante: em primeiro lugar, identifique seu estado atual, com uma percepção precisa; depois, acesse dentro de si – e no sistema a seu redor – recursos que possibilitem mudanças; então, aplique -os com flexibilidade comportamental até que alcance seu estado desejado. 

Três pressupostos fundamentais da PNL formaram o mindset focado em soluções e possibilidades que permitiu implementar esse modelo: o já citado “O mapa não é o território”, explicitando que as limitações e possibilidades são nossas e não do mundo; a ideia de que você está fazendo o melhor possível; e o entendimento de que, dentro do que você chama de “problema”, está a semente da mudança desejada. Em outras palavras, se alguém já conseguiu usar bem pensamento e ação para obter um resultado, você também pode fazer isso; basta se conhecer para saber em que investir sua energia. 

Em sua segunda geração, na década de 1980, a PNL começou a investigar relacionamentos do ponto de vista sistêmico, com mais ênfase em pontos de vista múltiplos e na ressignificação de sistemas de crenças e conceitos de identidade. A conexão entre mente e corpo foi mais explorada, bem como a sabedoria do corpo. 

Nos anos 1990, uma terceira geração emergiu, muito por um processo de “polinização cruzada” entre várias correntes de trabalho compatíveis com os pressupostos da PNL. Começamos a ver uma inclusão natural de espiritualidade, trabalhos “generativos” em vez de “remediativos” e processos de consciência e mindfulness para dar suporte à exploração positiva de profundas jornadas de evolução pessoal e organizacional. 

A magia da terceira geração aconteceu na “mente do campo”, onde reconhecemos uma energia especial produzida por relacionamentos e interações dentro de um sistema. Assim entendemos melhor a cooperação e a convivência que impactam a vida pessoal, profissional e organizacional. 

É bem recente uma nova onda já batizada de “PNL de quarta geração”, que busca compreender qual a fonte de todos os sistemas nos quais vivemos. É a onda que tem maior potencial de criar um senso de propósito que posicione o trabalho como um serviço e não um fardo. Com ela, as empresas poderão ter mais colaboradores dispostos a contribuir. 

**O OLHAR SISTÊMICO**

A PNL traz luz a áreas tão diversas quanto o aprendizado, a comunicação, a negociação, o coaching, a psicoterapia, a criatividade, o planejamento, a liderança e a saúde, para mencionar apenas algumas possibilidades. Como? 

Primeiro, há que se notar a existência de um ponto comum em todas elas: pessoas empenhando-se para gerar resultados com aquilo que têm a seu dispor, interna e externamente. Segundo, é preciso entender o pensamento sistêmico, ou seja, a habilidade de reconhecer circuitos causais e fenômenos de auto-organização, em vez de pensar só em termos de uma causalidade linear – pelo pensamento sistêmico, tudo tem a ver com nosso modelo de mundo. 

O que nós achamos possível, provável, plausível ou desejável deriva de nosso modelo de mundo, e a PNL, em essência, é um modelo sobre como criamos modelos de mundo. Talvez a abordagem pague um preço nos próximos anos em confusão, enquanto nossa mente se adapta a novos modos de entendermos a nós mesmos, nossas relações e os fenômenos sistêmicos que nos cercam. Mas já temos uma PNL de vanguarda para nos ajudar. 

OS RISCOS DA PNL MALFEITA

Você já ouviu em alguma palestra a frase “PNL é tudo o que funciona para um indivíduo”? Saiba que isso não reflete a realidade. Sim, a PNL é inerentemente renovável e inclusiva, e o profissional que a representa deve manter a mente aberta. Mas isso não significa acreditar em frases motivacionais de WhatsApp, como “Já reparou que o coração é o único órgão que não tem câncer? É porque ele nunca para e é assim que temos de agir”. Uma pesquisa no site da Mayo Clinic, referência da medicina, nos mostra que há câncer de coração, sim, embora raro.

É preciso ficar atento a quem faz o coaching de PNL, porque uma pessoa consegue repetir frases de PNL sem conhecer a maneira de pensar e a profundidade da abordagem, segundo a especialista Arline Davis – e isso a fará errar. A especialista se preocupa também com o fato de alguns profissionais se apegarem às próprias versões de PNL e acharem que só elas têm o “mapa correto”.

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