Venho reforçando em meus artigos que o peso maior do contexto pandêmico atual recai sobre os ombros femininos, por conta da múltipla jornada de trabalho, que é invisibilizada e não remunerada. A crise, além de tudo, também afetou a nossa rede de apoio.
Completamos um ano de pandemia de Covid-19 e o Brasil ultrapassa 375 mil mortes pela doença. O vírus, além de nos tirar vidas, promove o distanciamento e amplia o abismo social em que vivemos.
O primeiro ano completo de pandemia também pressiona as empresas que precisam compreender que o modelo híbrido de trabalho – presencial e remoto – não é e nem será uma moda passageira.
Enquanto o distanciamento e o abismo social aumentam, o Brasil despenca em ranking global de igualdade entre gêneros. Em levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), nosso país ocupa 93º lugar entre 156 nações, uma perda de 26 posições em relação ao de 2006, quando estávamos em 67º.
De forma global, a análise do WEF reflete e reforça o forte impacto da pandemia de coronavírus sobre a população feminina. O Brasil foi citado como um dos países em que a população feminina foi “mais profundamente afetada” pela crise provocada pela pandemia, como destacou Natalie Lacey, executiva do instituto de pesquisa Ipsos e coautora do estudo.
Em agosto de 2012, a advogada, escritora, cientista política e CEO da New America, Anne-Marie Slaughter escreveu o emblemático artigo “Por que as mulheres ainda não podem ter tudo” ([Why Women Still Can’t Have It All](https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2012/07/why-women-still-cant-have-it-all/309020/)), no qual reforça o quanto estávamos distantes de uma realidade possível para a equidade de gênero, especialmente no ambiente de trabalho, e que o equilíbrio vida pessoal, família e carreira seria quase que uma utopia no modelo de sociedade na qual vivemos.
Quase uma década depois, suas palavras nunca estiveram tão atuais. Assim como Anne-Marie, eu também acredito que nós, mulheres, podemos tudo – mas não hoje. A diferença é que o “hoje” dela aconteceu há quase nove anos e 2021 demonstra que há um longo caminho para percorrermos.
“Mulheres perderam empregos muito mais rapidamente que os homens e estão sendo recontratadas muito mais lentamente”, afirmou Saadia Zahidi, diretora-executiva do WEF.
## Diversidade gera saúde
Na esperança de melhorar a situação de todas as mulheres e de eliminar o que Justin Wolfers e Betsey Stevenson chamaram de “nova lacuna de gênero”, um estudo publicado em 2009, “O paradoxo do declínio da felicidade feminina” ([The Paradox of Declining Female Happiness](http://ftp.iza.org/dp4200.pdf)), mostrou que, desde 1970 e ao longo das décadas, a infelicidade feminina aumentou em relação aos índices masculinos.
Durante a pandemia, a consultoria internacional Mckinsey & Company publicou no relatório “Diversidade Importa” ([Diversity Matters-2020](https://www.mckinsey.com/br/our-insights/diversity-matters-america-latina)) que as empresas comprometidas com a diversidade são significativamente mais propensas do que outras empresas a terem funcionários felizes, ou seja, uma dimensão-chave da saúde organizacional.
A diferença é praticamente o dobro, sendo que, para empresas com diversidade, 63% dos colaboradores afirmam serem felizes no trabalho, comparados a 31% das empresas que não estão comprometidas com o tema.
Outra descoberta interessante é que os funcionários de [empresas comprometidas com a diversidade](https://www.revistahsm.com.br/post/equidade-de-genero-nas-empresas-uma-questao-de-compliance) geralmente desejam permanecer mais tempo e aspiram alcançar níveis mais elevados na organização.
Como resultado, essas corporações têm maior probabilidade de manter funcionários por mais tempo, independentemente de gênero, etnia ou orientação sexual. Somados ao maior índice de saúde e felicidade, as empresas conseguem gerar ganhos adicionais no desempenho financeiro.
## Liderança feminina
Em uma enquete recente que fiz no meu perfil do LinkedIn, perguntei sobre o entendimento a respeito de liderança feminina. Dos 571 votos, 61% creditaram ao maior número de mulheres em cargos de liderança e os 39% restantes a uma forma mais feminina de liderar.
Na palestra do TED realizada em 2013 intitulada de “Nós podemos ter tudo?” ([Can we have it all”?](https://www.ted.com/talks/anne_marie_slaughter_can_we_all_have_it_all)), Anne-Marie diz que, no ambiente de trabalho, a verdadeira igualdade significa a valorização da família tanto quanto o trabalho e a compreensão de que homens e mulheres se reforçam mutuamente, acrescentando: “como líder e como gerente, eu tenho sempre agido sob o mantra: se a família está em primeiro lugar, o trabalho não vem em segundo lugar – a vida está no conjunto.”
[Liderança feminina é, sim, sobre mais equidade de gênero e sobre mais equidade humana](https://www.revistahsm.com.br/post/da-equidade-de-genero-a-lideranca-feminina). O caminho para construirmos um futuro equânime passa por olhar para a saúde e a felicidade das empresas, da sociedade e, essencialmente, das mulheres.
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