Gestão de Pessoas

A busca por uma gestão humanizada no RH

Em 2010, o filósofo Mário Sérgio Cortella apontou em entrevista questões que ainda são pertinentes no mundo do trabalho; assim, questionamos: avançamos ou estagnamos na gestão humanizada dentro das organizações?
Subeditor de digital para HSM Management e MIT Sloan Management Review Brasil.

Compartilhar:

Basta fazer uma rápida pesquisa nas redes sociais e em sites para verificar que a gestão humanizada de pessoas é um dos principais temas relacionados ao RH. Nesta __HSM Management__, por exemplo, a [comunidade HR4T](https://www.revistahsm.com.br/comunidade/hr4t-hr-for-tomorrow), formada por executivos de RH, reúne diversos artigos sobre o assunto, e o tratamento mais humano entre líderes, funcionários e demais stakeholders está presente nas linhas e entrelinhas das principais [tendências e transformações do RH](https://www.revistahsm.com.br/post/tendencias-e-transformacao-do-rh-parte-2).

No entanto, se acrescentarmos um olhar mais crítico sobre o tema, iremos observar que a pauta da gestão humanizada de pessoas esteve presente em diversos momentos da história. Como a recorrência da questão ultrapassando fatos, contextos e empresas ao longo dos últimos anos, neste sentido, cabe a pergunta: as organizações e lideranças do RH avançaram ou estão estagnadas ao lidar com esse tipo de metodologia prática?

Um recorte histórico nos ajuda a compreender como esse tema, aparentemente atual, foi constantemente discutido no passado. Na edição 81 da __HSM Management__, o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella concedeu uma entrevista para Adriana Salles Gomes, diretora editorial da revista.

Uma das principais linhas da conversa foi sobre como a sociedade contemporânea está adoecida, e sobre como líderes empresariais têm a capacidade de ajudar e curar esse corpo enfermo. No rastro dos últimos fatos, não é preciso ser pessimista para apontarmos que o cenário não melhorou, colocando nessa conta a pandemia de covid-19 e suas consequências no mundo do trabalho.

Na entrevista, embora Cortella estivesse olhando para o contexto da época, o ano 2010, alguns de seus comentários atravessam o tempo e ecoam para o momento atual. Num trecho, ele afirma: “Hoje a angústia é mais comum, porque há uma brutal restrição de tempo de convivência por conta do tamanho das cidades, de como são as empresas e de uma tecnologia de conexão que inverteu a regra da coexistência: antes éramos todos perto e ninguém junto; agora somos todos juntos e ninguém perto, tanto nas empresas como na internet. Esta é uma sociedade que está adoentada e que precisa de tratamento. Além de cuidar só da ecologia exterior, tem de tratar a ecologia interior”.

## Gestão que cura pessoas

Diante desse cenário de angústia que muitas vezes envolve a solidão e o distanciamento do home office, o excesso de trabalho e o burnout ou relações mecânicas, sem o calor humano, entre líderes e funcionários, e entre colaboradores em equipes, qual o papel da gestão do RH?

Na entrevista, Cortella é taxativo ao dizer que a cura dos diversos tipos de angústias corporativas nasce de um processo coletivo, reinventando modos de convivência a partir da ação do topo da cadeia de comando: “todas as pessoas que estão em posição de liderança, no campo da política e da ação empresarial, têm responsabilidade nisso. Não são medidas complexas; por exemplo, estimular que as equipes sejam comunidades, em vez de meros agrupamentos de pessoas, já faz diferença. As pessoas devem se sentir bem trabalhando”.

Segundo o filósofo, dentro das organizações, é preciso que haja movimentos voltados à vida, e não direcionados à morte. Em outras palavras, segundo Cortella, “não adianta evoluir, se a gente vai ‘evoluir para óbito’”, e complementa: “nossa vida é marcada pela pressa, não pela velocidade. Esta requer deixar as pessoas em estado de atenção permanente, enquanto pressa é deixá-las em estado de tensão permanente, como as empresas vêm fazendo. Há um prazo de validade para isso porque leva a um esgotamento grande demais das pessoas”.

Para ajudar a amenizar a angústia e promover a gestão humanizada de pessoas, em outro trecho da entrevista, que também merece destaque, o filósofo pensa uma problemática que desde 2010 até hoje foi acentuada com inúmeros processos de automação, crises econômicas e com o volume expressivo de demissões em massa: o valor do capital humano para as organizações.

“Parte das empresas é muito cínica em relação às pessoas. Até 2008, a frase que eu mais ouvia nas organizações era: ‘nosso maior patrimônio são as pessoas’. Aí, a crise estourou, e a primeira coisa que fizeram foi cortar pessoal, justamente o principal ativo! Em vez de lidar com economia de outros custos e com cortes eventuais de rendimentos dos acionistas, mexeram no ‘suposto’ patrimônio. Pior para elas, na verdade, porque o suposto é real. A dispensa em massa de pessoas levará a uma perda financeira imensa na qualificação de novos profissionais”.
No final da entrevista, como bom filósofo, Cortella levantou a seguinte pergunta: “se sua empresa não existisse, que bem ela faria?”. Com toda vênia ao trabalho do filósofo, reformulamos a questão: se o seu RH não existisse, que falta ele faria na gestão humanizada dos colaboradores?

## EVENTO com Cortella: para humanizar a gestão de pessoas

Olhando para boa parte dessas das questões levantadas neste artigo e outras problemáticas atuais e futuras do RH, a LG lugar de gente promove o evento online Conexão LG – Humanizar com tecnologia: uma nova perspectiva para a gestão de pessoas. O encontro virtual acontece no próximo dia 20 de outubro, com início às 9h. Para se inscrever e conferir a programação do encontro, basta acessar o [site do evento](https://conexoeslg.com.br/?keyword=conex%C3%B5es%20lg&creative=549397022638&gclid=Cj0KCQjwwY-LBhD6ARIsACvT72Odxwhkpv8L3Lsy_61XXAJPIkBJuwAsvlScBzn5pnMs1y0Embu_3_8aAr8EEALw_wcB).

Ao longo da programação, justamente o filósofo, professor e doutor em educação, Mário Sérgio Cortella participa do encontro junto com o diretor da HR Trend Institute – Amsterdã, Tom Haak, com o cofundador da HSM, José Salibi Neto e com a fundadora do Movimento Black Money, Nina Silva.

O evento conta ainda com a participação de Augusto Lins, presidente da Stone Pagamentos; Eduardo Farah, consultor e professor mindfuss; Felipe Azevedo, presidente da LG lugar de gente; Heverton Peixoto, presidente da Wiz; Marcello Porto, vice-presidente da LG lugar de gente; e Gabrielle Teco, CEO da Qura Editora e diretora-executiva da __HSM Management__.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura
Diversidade, ESG
Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes

Darcio Zarpellon

8 min de leitura
Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura