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A crise da meia-idade no trabalho

Chegar à etapa intermediária da carreira coloca os executivos diante de novos desafios – e de uma valiosa oportunidade de mudança.

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> **Vale a leitura porque…**
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> … registra a existência de uma crise de meio de carreira: quando se aproximam dos 40 anos, muitos profissionais passam a desejar novos desafios, e metas fixadas no início da carreira não lhes fazem mais sentido. … coloca a crise em perspectiva, observando que ela não necessariamente resulta em grandes mudanças: às vezes, serve para reforçar convicções e compromissos do passado.

**Falemos primeiramente de Harris.** Aos 39 anos, ele se sentia paralisado, apesar da bem-sucedida carreira como especialista em assuntos regulatórios. embora trabalhasse para uma famosa empresa de biotecnologia, faltava-lhe algo. ele queria liderar um empreendimento, administrar lucros e perdas; queria desafios. Seu coach o aconselhou (mais uma vez) a ter paciência. sua esposa, em casa com dois filhos pequenos, o alertou sobre os riscos de uma startup, já que era ele quem trazia o sustento da família. No entanto, para harris, não podia ser assim. era agora ou nunca. Na época, ele trabalhava dia e noite com a equipe de criação de um medicamento sem ter uma ideia clara do que fazer em seguida. 

**Agora, falemos de Susan.** Sua função como chefe de gestão de mudanças de uma consultoria não a satisfazia em dois aspectos: ela queria um trabalho mais significativo e também melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, com mais controle sobre sua agenda de viagens a trabalho. (e susan é mãe solteira.) aos 42 anos, ela concluiu que status e dinheiro não importam muito mais. Depois de planejar e de fazer uma poupança, deixou o emprego para procurar uma nova opção de carreira. Duas semanas mais tarde, um headhunter lhe apresentou o que ela definiu como “o trabalho perfeito, seguindo a implacável lógica de um currículo com Mba”. susan aceitou, mas logo percebeu que tinha cometido um grande erro. 

**Então, falemos de Gary.** seu currículo preenchia todos os requisitos: cargos disputados no setor de investimentos e em consultoria e um Mba valorizado. apesar do sucesso, porém, aos 35 anos ele se sentia desconfortável. todos os seus papéis anteriores não haviam sido escolhas verdadeiras, mas passos dados para manter as portas abertas até que ele descobrisse o que realmente queria fazer “quando crescesse”. Dois fatos – apaixonar-se por uma mulher quando estava prestes a se casar com outra e receber a primeira avaliação profissional negativa – o alertaram de que estava na hora de assumir o comando de sua vida e de sua carreira. 

Harris, Susan e Gary dividem bem mais do que os óbvios dilemas profissionais: os três chegaram a um ponto de virada em sua vida e as decisões que devem tomar envolvem bem mais do que uma mudança de emprego. Depois de atingir certo êxito na carreira, eles se perguntam se desejam mais do mesmo ou algo diferente. a essência da pergunta não se refere ao tipo de trabalho, e sim ao tipo de vida. como as pessoas podem lidar com isso? como as empresas, os departamentos de recursos humanos, os chefes diretos, colegas e subordinados devem agir? Psicólogos que estudam o desenvolvimento adulto oferecem um ponto de vista útil sobre a questão.

**Vida de adulto**

Você conhece os conceitos de “crise da meia-idade” e “incômodo dos sete anos”? sua popularização é atribuída ao psicólogo Daniel levinson, cuja teoria sobre o desenvolvimento adulto, publicada pela primeira vez no livro Seasons of a Man’s Life, tornou-se um clássico. a ideia central é que nossa vida evolui em períodos alternados de estabilidade e de transição. Nos primeiros, que normalmente duram por volta de sete anos, construímos nossa vida em torno de pilares fundamentais, em geral o trabalho e a família. as principais decisões que tenhamos tomado envolvendo a carreira e os relacionamentos íntimos se tornam as prioridades da vida, ao redor das quais encaixamos todo o resto. Nos períodos de transição, questionamos as escolhas feitas, exploramos alternativas e plantamos sementes a partir das quais pode nascer um novo período de relativa estabilidade. levinson sustenta que a mudança nem sempre é para melhor, mas que sempre crescemos nesses ciclos alternados de engajamento e dúvida, engajamento e dúvida. Quando abraçamos um caminho de vida (uma carreira, um relacionamento) sem questionar se é o certo para nós, abrimos mão de opções que podem ser mais gratificantes. Mas, quando duvidamos do caminho o tempo todo, sem nos comprometer com ele, renunciamos à possibilidade de amadurecer. Ser adulto significa conciliar engajamento e dúvida. 

> **Perto dos 40** 
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> Segundo Carl Jung, nessa fase a vida de uma pessoa costuma ser bastante unilateral e desequilibrada, e a missão passa a ser mudá-la, sendo um indivíduo exclusivo, expressando-se de modo individualizado.

**Quando é pior** 

Toda década da vida tem, como levinson pontua, períodos de transição com seus questionamentos, mas a fase de maior turbulência acontece na faixa próxima aos 40 anos. isso se explica por várias razões:

•  Profissionalmente, a maioria de nós já ganhou experiência em uma ou duas possibilidades de carreira. entendemos melhor do que gostamos ou não. Já vivemos, já passamos por mudanças, já começamos a querer coisas diferentes. •  Também sabemos mais sobre o que é possível ou não fazer. alguns concluem que não vão conseguir o que queriam ou que não querem mais o que queriam; outros consideram o sucesso profissional ilusório; e há aqueles que passam a crer que o topo das organizações provavelmente é inatingível. tem-se de lidar com um sentimento de sucesso profissional incompleto. 

•  Começamos a sentir nossa finitude. Por volta dos 40 anos, talvez já tenhamos vivenciado a morte ou a doença grave de um dos pais ou de um amigo. Podemos desejar ter filhos e sentimos o relógio biológico. Queremos fazer algo significativo com o tempo que resta, uma vez que as pessoas vivem mais e trabalham por mais tempo. 

•  Ignoramos muita coisa em nossa busca de prioridades – não dedicamos tempo e atenção ao cônjuge, aos filhos, ao bem-estar físico, à atuação na comunidade, aos amigos, aos hobbies, às atividades criativas. os aspectos ignorados começam a reclamar mais atenção.

3 etapas como diz o psicólogo carl Jung, perto dos 40, a vida de uma pessoa é bastante unilateral e desequilibrada, porque muitos aspectos individuais importantes ficam negligenciados, e a missão é expressar-se de maneira mais individualizada. Para levinson, esse processo inclui três etapas:

**1 Reavaliação do passado.** 

Perto dos 40 anos, muitas pessoas costumam fazer uma avaliação sobre seu relativo sucesso ou fracasso diante das metas fixadas anteriormente. também podem recuar um passo para avaliar se os objetivos mudaram. Durante esse período de transição, é importante fazer-se uma série de perguntas: “O que eu fiz com minha vida? o que realmente obtive dela e dividi com meu cônjuge, filhos, amigos, trabalho, comunidade e para mim mesmo? o que realmente quero para mim e para os outros? Quais são meus valores e como eles se refletem em minha vida? Quais são minhas habilidades e como as estou usando (ou desperdiçando)? o que fiz com meus sonhos de juventude e o que quero agora? Posso viver de uma forma que combine meus desejos, valores e habilidades atuais?”. com essas perguntas, muitos gestores concluem que estava equivocada sua ideia de juventude sobre carreira (de que subir degraus na empresa lhes daria poder e liberdade) ou que perderam sua “alma” na busca do poder e do dinheiro. outros se percebem em organizações com valores incongruentes. 

**2 Alteração ou renegociação dos propósitos.** 

Depois da reavaliação, algumas pessoas fazem mudanças radicais em aspectos visíveis de sua vida, como divórcio, um novo casamento 

ou grandes alterações no estilo de vida, enquanto outras optam por mudanças suaves. Por exemplo, um executivo que queira começar o próprio negócio pode optar por permanecer em seu trabalho atual, assumindo, porém, um papel mais empreendedor. a única maneira de testar a importância da mudança 

 é experimentando. contudo, quanto mais opções exploramos, mais tendemos a encontrar resistência de outras pessoas, pois, como diz levinson, há “uma teia implícita de conformidade social que busca manter a ordem e impedir as mudanças”. o único modo de combatermos essa reação é incluir em nossa rede pessoas que estejam na mesma situação. 

**3 Mudança rumo a mais autonomia, integridade e significado.** 

Mudando – para uma nova empresa ou de carreira – ou permanecendo no caminho atual, todos lutamos para nos sentirmos parte de algo maior e livres o bastante para sermos nós mesmos. 

**Torne-se você** 

Pesquisas mostram que o processo de fazer mudanças nesse momento profissional raramente é simples. Muitas pessoas, como harris, susan e Gary, extraem grande parte de sua identidade de sua atividade profissional e, além disso, há resistência externa. No entanto, vale a pena ser quem somos de verdade, livres de nossa “obrigação do eu” (o que as pessoas importantes para nós esperam de nós). 

> **Você aplica quando…**  
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> … reavalia sua trajetória e as escolhas feitas para identificar o que se mantém válido como objetivo e o que parece faltar para maiores realizações no futuro.

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