Desenvolvimento pessoal

A cultura do imediatismo e o desgaste na saúde

Saia do piloto automático, se questione e mude o paradigma sobre si mesmo. É fundamental atuar no autoconhecimento para que a inovação comportamental e emocional aconteça
Heloísa Capelas pe CEO do Centro Hoffman e criadora do “Universo do Autoconhecimento”. Autora das publicações *Inovação emocional*, *Perdão, a revolução que falta* e *O mapa da felicidade*.

Compartilhar:

A expressão “cultura do imediatismo” foi popularizada há dez anos, e você pode até pensar que esse tempo é pouco ou muito, dependendo do quanto está também impregnado pela velocidade de respostas a tudo o que acontece à sua volta. Do ponto de vista das mudanças de paradigmas de uma sociedade, saiba que é pouco e ainda estamos em aprendizado. A questão é que o aumento do imediatismo é evidente. O que há de positivo e negativo passamos a colher mais a partir de agora, portanto, esse é um assunto que borbulha e sobre o qual é essencial refletirmos.

Com a covid-19, tecnologia e ambientes virtuais – que já vinham numa crescente – aceleraram e mudaram, até mesmo, os formatos de trabalho. Mas o ponto ao qual quero chamar atenção agora é sobre a nossa saúde.

Foi o professor Douglas Rushkoff, da New School University de Manhattan, em seu livro Present shock: When everything happens now (Choque do presente: quando tudo acontece agora, na tradução) –, lançado em 2013, que expandiu o termo “cultura do imediatismo” e já trazia o alerta para o comportamento ansioso e desconectado das pessoas.

A era digital, essencial em nossa vida e que nos traz muitos benefícios, trouxe também a influência sobre o imediatismo, que passou a se tornar praticamente regra sem nem nos darmos conta. E há muitos exemplos cotidianos. Enviamos e respondemos mensagens com tanta rapidez, que esperar para ter respostas, às vezes chega a ser perturbador. Esperamos por transporte de aplicativo poucos minutos até o veículo estacionar bem no local em que o aguardamos. O delivery chega em dez minutos e, se demorar muito mais do que isso, já nos incomoda. Se navegamos pelas redes sociais e algo não nos interessa, apenas arrastamos para cima e já não estamos mais vendo aquilo que nos desagrada.

Do lado corporativo, as empresas que tiveram grandes prejuízos com a desaceleração econômica, advinda da pandemia, buscam recuperar o tempo e o que foi perdido. Querem lucro rápido. Se os anos anteriores foram de adaptação, este e os próximos têm de ser de resultados. No lado profissional, novas gerações surgem com o desejo pela promoção imediata e o reconhecimento do hoje. As competições se acirram e a conta também chegou na mesma velocidade. As perturbações emocionais eclodiram, misturando-se à experiência de sobreviver ao pior momento da nossa história nos últimos 100 anos. Nesse caminho todo, muitas pessoas desejam uma compensação ou sair do lugar da insatisfação e da dor em alta velocidade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em levantamento feito em 2019, o Brasil é o País com a população mais ansiosa do mundo e um dos líderes em casos de depressão.

Dentro da metodologia Hoffman, que estou à frente há mais de 20 anos e é aplicada no Brasil há mais de quatro décadas, observo que a procura de executivos que vivem sob a pressão do imediatismo tornou-se ainda mais acentuada. E esse crescimento carrega mais um dado, a autocobrança por resultados – que não vão impactar somente nos lucros ou entregas das empresas, mas, e principalmente, na saúde e vida pessoal deles.

A receita ideal frente ao desafio de encontrar a eficiência, mantendo coerência e a qualidade de vida, não existe. No entanto, o que toda a minha expertise de trabalho com o comportamento humano aponta é que o primeiro passo é e será sempre: autoconhecimento.

É de forma individual e mudando o paradigma sobre si mesmo, que se mudam as próprias ações e se influencia o coletivo. Cada um de nós carrega padrões de controle, crítica, julgamento e perfeccionismo em graus diferentes. Cobramos e nos impomos situações que vão se repetindo e só fazem aumentar as autoexigências. Assim, é fundamental atuar no autoconhecimento para que a inovação comportamental e emocional aconteça. E não há como delegar essa tarefa.

As tecnologias estão aí, e cabe a nós o movimento da reflexão para com elas aprender e fazer a nossa parte frente ao que desejamos como sociedade e mundo. Entrar no movimento apenas da crítica é ficar de observador e sempre de um mesmo ponto de vista. A história já nos mostrou que mudança cultural se dá pela influência.

Portanto, meu convite é: faça a sua parte, saia do seu piloto automático, esteja alerta e se questione sobre como você faz, o que faz, e do que jeito que faz. E implante uma forma diferente e mais saudável de seguir. Isso é treino. Mudar comportamento é treino. Não há magia e não há imediatismo nesse caminho. Há consciência, prática e persistência. Cada um de nós importa e impacta o seu entorno.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)