Healing leadership

A era da dívida ESG

O tempo é cada vez mais curto, mas há capital para investir

Dario Neto e Marcel Fukayama

Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

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O capital para financiar projetos, iniciativas e negócios com DNA de impacto socioambiental positivo está se multiplicando, assim como o volume de recursos para financiar a incorporação dos princípios ESG nas empresas. Segundo a Sitawi, até julho de 2021 já superamos os US$ 55 bilhões em crédito ESG no Brasil, o dobro de todas as operações feitas em 2020. O mercado internacional, segundo a Bloomberg, deve superar US$ 1 trilhão em 2021 em dívidas ESG.

São parte dessa conversa os títulos de dívida verdes (green bonds), os sociais (social bonds), os sustentáveis (sustainable bonds) e, os mais recentes e de maior sucesso este ano, os sustainability-linked bonds. Os três primeiros existem para financiar respectivamente projetos com impacto social, ambiental ou ambos. Os últimos – SLB – são um recurso livre para financiar a transição em ESG em empresas e estabelecem compromissos públicos e metas que criam penalidades ou variações no preço da dívida ao longo do tempo, conforme seu atingimento.

E o que isso tem a ver com líderes que curam? Bem, esse mercado está em autorregulação no Brasil – assim como todos os conceitos que envolvem ESG no mercado e nas empresas. Ele também tende a crescer muito e atingir o varejo do crédito bancário, e será oportunidade relevante e diferencial competitivo também.
Diante disso, querido líder que cura, fique atento, seja como investidor, seja como tomador de crédito, a alguns pontos:

__Escopo:__ algumas emissões de títulos de dívida contemplam escopos 1, 2 e/ou 3. O escopo 1 diz respeito às operações diretas da empresa; o 2, à energia utilizada; e o 3, à cadeia de fornecedores e clientes. A maior parte das emissões de gases de efeito estufa para os frigoríficos, por exemplo, está na criação dos animais, logo um compromisso público que deixa de fora o escopo 3 deveria ser sinal de alerta para o investidor ou tomador de recurso realmente comprometido com os desafios socioambientais do País e em especial aos ligados a esse negócio.

__Prazo e metas:__ com o nosso ritmo de degradação ambiental de florestas e bacias hidrográficas, além da desigualdade e da pobreza, o Brasil não pode esperar mais 20 ou 30 anos. Compromissos de longo prazo, sem metas claras, relevantes e progressivas são mais uma ótima forma de fazer washing e aproveitar a enorme disponibilidade de capital que quer ser carimbado como ESG, sem necessariamente contribuir para a transformação de que tanto precisamos.

__Materialidade:__ há fatores sociais e ambientais que importam mais ou menos para determinados setores e negócios. A materialidade de uma empresa é um processo vivo e orgânico, conduzido sempre escutando toda a cadeia de valor, para a apuração dos temas relevantes que precisam ser cuidados em um mundo de emergência climática, recursos escassos e crescimento populacional. Em ESG, dada a urgência que temos, o bom é inimigo do ótimo.

A corrida para a mobilização de capital para impacto positivo é um caminho sem volta e absolutamente alinhado com os principais acordos globais. Líderes que curam saem com vantagem nessa largada, por conseguirem incorporar o propósito de impacto positivo no ambiente de trabalho, no modelo de negócio e na cadeia de valor. Isso traz consistência e coerência e mitiga riscos para o investidor. Essa é uma corrida em que todos ganham, em especial a sociedade e o planeta.

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