Uncategorized

A evolução das propostas de valor no B2B

Como evoluir na escala de geração de valor ao cliente, maximizando resultados no meio digital
É regional manager da Moove e engenheiro de produção com pós-graduação em administração e com especialização em negócios pela Ohio University.

Compartilhar:

No [último artigo](https://revistahsm.com.br/post/os-efeitos-colaterais-da-digitalizacao-no-b2b), escrevi um pouco sobre as consequências da digitalização do B2B, principalmente nas indústrias tradicionais, e como as empresas transformaram (e continuam transformando) o seu go-to-market para tentar reduzir o distanciamento entre o que o fornecedor oferece e o que o cliente realmente quer.

Diante disso, podemos ir mais a fundo. Dando um passo adiante nessa jornada, podemos refletir, então, sobre uma nova questão: quais propostas de valor os fornecedores estão dispostos a oferecer aos seus clientes para maximizarem osresultados no ambiente digital?

Para responder esta pergunta, utilizo mais uma vez os autores J. B. Wood, Todd Hewlin e Thomas Lah, que trazem no livro *B4B: How software and big data are reiventing the customer-supplier relationship*, como vocês verão a seguir.

## O *status quo*

Fato é que as empresas atualmente estão presas no modelo atual, no *status quo*. Tentam táticas conhecidas e que já não funcionam mais: corte de custos e lançamento de novos produtos. Ao longo do tempo o negócio começa a se “comoditizar” e as margens passam a ser corroídas. 

Pensando em modernizar suas formas de fazer business, começam a trazer o serviço (terceirização) como um diferencial, imaginando que o cliente aceitará pagar e que, portanto, gerarão mais lucros. Porém, ao incluir recursos adicionais no serviço, acabam criando complexidade na precificação. O modelo fica fácil de ser replicado e logo volta a ser comoditizado e corroer margens.

Algumas empresas, essas mais digitais, optam por tentar o modelo de XaaS (“everything as a service”. Neste modelo, o cliente não precisa ter o produto fisicamente, já que o ativo é do fornecedor e a remuneração é feita através de uma cobrança mensal, por exemplo, a fim de gerar alternativas que tragam receita recorrente a um custo baixo. 

Entretanto, apesar de terem grandes aumentos de receitas, as empresas que apostam nesta fórmula têm baixíssima lucratividade – menor até que dos modelos atuais de B2B. Isso dá a impressão de que o cliente está ganhando; contudo, isso não é verdade, pois o que importa no final é o retorno que o cliente terá do investimento que ele fará no fornecedor. Dessa forma, XaaS passa a ser não o ideal, mas um ponto de partida para um novo modelo. 

Assim sendo, pensar em um novo modelo é básico na redução do abismo entre as capacidades do produto e/ou serviço e o resultado desejado pelo cliente.

## Realizando um diagnóstico

Para seguir nessa evolução, são definidas duas dimensões fundamentais para a geração de valor ao cliente que os autores chamam de power lines.

### Customer value power

Essa dimensão pode ser traduzida em como o modelo de negócio do fornecedor tem um impacto positivo no aumento das receitas, na redução dos custos ou na redução dos riscos. Avaliar e classificar a oferta nesses três indicadores é primordial para compreender a efetividade da proposta e traduz o que de fato o cliente busca.

### Supplier offer power

Essa dimensão trata do quanto o fornecedor adicionou de força nos seus produtos e/ou serviços através de ofertas complementares, ou seja, como o fornecedor amplificou o valor para o cliente.

Com esse diagnóstico inicial, os fornecedores podem ser classificados em uma matriz com quatro níveis que indicam a maturidade da proposta de valor ao cliente.

### Nível 1 (tradicional B2B)

– O fornecedor quer colocar o máximo de produtos no mercado, não se preocupando se agregam valor ao cliente. Modelo de fazer, vender e entregar. Controle da força de vendas e da qualidade produtiva. 

– Customer value power: cliente busca o melhor produto a um preço justo. 

– Supplier offer power: a oferta é padrão de mercado e o produto é confiável. Venda de altos volumes para ter algum lucro. Grande risco de comoditização. 

### Nível 2

– O cliente passa a ter necessidade de ajuda do fornecedor pela complexidade e funcionalidades adicionais do produto e/ou serviço oferecido. 

– Customer value power: além de melhor produto no preço justo, tem que ser rápido e ter alta disponibilidade.

– Supplier offer power: implementação e serviço de manutenção; produto customizado de acordo com a necessidade do cliente. 

### Nível 3

– O fornecedor absorve a complexidade do cliente a fim de oferecer maior valor nos produtos e/ou serviços. Grande foco na geração de valor para o cliente, como melhoria do retorno do investimento. Envolvimento do fornecedor no negócio do cliente. 

– Customer value power: busca um ROI otimizado. 

– Supplier offer power: serviços e produtos conectados; suporte remoto. 

### Nível 4

– Fornecedor oferece ganhos específicos para o cliente através da adoção da tecnologia. 

– Customer value power: entrega de facilidade e resolução de problemas. 

– Supplier oferta power: o resultado gerado é encarado como serviço; precificação baseada no resultado. 

Segundo os autores, um mesmo fornecedor pode navegar por todos os níveis dependendo do mercado em que atua e dos produtos que oferece. Porém, para evolução nos níveis, o fornecedor deve incorporar duas coisas: conectividade e capacidades.

Conectividade não é apenas disponibilizar o produto no site para que o cliente possa comprá-lo. Mas passa a ter a devida importância quando aumenta a receita do consumidor, diminui os custos de mão de obra, melhora a eficiência de processos críticos e a satisfação dos clientes finais – possível de se alcançar a partir do nível 3.

Capacidade é a [habilidade organizacional](https://revistahsm.com.br/post/ballet-minha-inspiracao-para-a-agilidade-organizacional) para alcançar os resultados esperados, que podem ser processos, habilidades, métricas ou tecnologias.

## Filosofar é preciso

O desafio natural que surge sempre que se propõe um framework, ou qualquer outro tipo de classificação em que é preciso encaixar alguma coisa ou alguém em um modelo como deste artigo, é o de uma autorreflexão. Quase como um adolescente em crise existencial, eu encorajaria as empresas a refletirem sobre suas condições atuais para buscarem compreender onde estão e apenas depois, ainda que sem 100% de certeza, darem o próximo passo para perseguirem a proposta de valor mais aderente aos seus clientes.

Acontece que, diante da soberba dos líderes de negócios, dos resultados inflados e mascarados das operações ou da falta de profissionalismo e gestão, poucas empresas param para ter esse momento reflexivo, que [engolidas pelo dia a dia](https://revistahsm.com.br/post/quando-a-cultura-come-a-estrategia-no-cafe-da-manha) lutam contra si mesmas. Continuam no *status quo*, esperando que o site que lançaram para se tornar digitais gere vendas e agrade os clientes. Infelizmente, o que tenho a dizer é que isso não vai acontecer (pelo menos para a maioria dos B2B tradicionais).

Então, como os gregos diriam, assumir que só sabemos que nada sabemos é para as empresas o passo primordial para vencer essa crise existencial e gerar um propósito com valor aos clientes.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
21 de novembro de 2025
O RH deixou de ser apenas operacional e se tornou estratégico - desmistificar ideias sobre cultura, engajamento e processos é essencial para transformar gestão de pessoas em vantagem competitiva.

Giovanna Gregori Pinto - Executiva de RH e fundadora da People Leap

3 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Liderança
20 de novembro de 2025
Na era da inteligência artificial, a verdadeira transformação digital começa pela cultura: liderar com consciência é o novo imperativo para empresas que querem unir tecnologia, propósito e humanidade.

Valéria Oliveira - Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
19 de novembro de 2025
Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
18 de novembro de 2025
Com agilidade, baixo risco e cofinanciamento não reembolsável, a Embrapii transforma desafios tecnológicos em inovação real, conectando empresas à ciência de ponta e impulsionando a nova economia industrial brasileira.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação, Atitude Collab e sócia da Hub89 empresas

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança