Gestão de Pessoas

A evolução do papel do conselheiro nas empresas modernas

O conselho, assim como a maioria dos setores, está se transformando e cada vez mais tem extrema importância na maneira de gerir os próximos passos deste futuro exponencial que veem se apresentando.
Rafael Kenji Hamada é CEO da FHE Ventures e da Health Angels Venture Builder, fundador da edtech Academy Abroad e conselheiro de 21 empresas aos 29 anos.

Compartilhar:

O mercado acompanha rapidamente o avanço da tecnologia, e toda mudança também conduz alterações culturais e de comportamento. À medida que o cenário empresarial evolui, a função de cada cargo passa por uma transformação significativa, tornando a governança corporativa um elemento ainda mais vital para as organizações modernas.

Houve um tempo em que o conselheiro era visto como um observador, um membro com papel mais cerimonial do que prático. Era comum encontrar conselheiros cuja influência real na tomada de decisões era limitada. No entanto, a necessidade de acompanhamento da rápida evolução do mercado exigiu adequação das reuniões corporativas, reformulando fundamentalmente a função desse protagonista empresarial.

Existem alguns tipos de conselho, a depender da estrutura e maturidade da organização. Sem definir grau de importância, cabe citar primeiramente o Conselho Administrativo, que atua no acompanhamento da estratégia da empresa e de como ela é executada pelo C-level, composto pelos diretores executivos e representado pelo CEO, o Chief Executive Officer.

O CEO, como diretor executivo, que operacionaliza a estratégia da empresa, precisa prestar contas e seguir o planejamento elaborado pelo Conselho Administrativo. Um exemplo prático e recente do papel deste Conselho nos rumos da empresa é a decisão sobre a distribuição de dividendos extraordinários da Petrobrás, que foi votada no final do ano de 2023 pelo Conselho Administrativo da empresa, que apesar de divergências, acabou vetando a distribuição. Apesar da diretoria da empresa, liderada pelo Presidente Jean Paul Prates propor a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários possíveis pelo estatuto, o Conselho Adminsitrativo da Companhia não aprovou a proposta. Este exemplo prático demonstra o caráter deliberativo e a força que as decisões do Conselho Administrativo têm frente a estratégia da empresa, e o caráter executivo da diretoria.

Portando, conselheiro moderno é um catalisador da inovação e tomador de decisões importantes. Ele não apenas oferece conselhos, mas também desafia as convenções, impulsionando a companhia para novos horizontes. Sua voz é agora uma das mais ouvidas nas discussões estratégicas, pois oferece uma perspectiva holística e informada, que ultrapassa os limites departamentais.

Para maior adequação das regras de compliance e transparência financeira, contábil e fiscal, o Conselho Fiscal também é implementado para acompanhar o correto andamento da empresa. Acontecimentos recentes com gigantes do varejo que apresentaram inconsistências financeiras reforçam sua necessidade para acompanhar de perto o balanço da corporação, como o caso da Americanas S.A. Fora do Brasil, inconsistências fiscais marcaram os últimos anos de organizações consolidadas no mercado, com uma sequência de falhas que seriam evitadas ou reprimidas com um Conselho Fiscal bem elaborado, moderno e transparente.

Empresas mais maduras possuem também uma estrutura de Conselho Consultivo, sem papel deliberativo, mas muito importante para guiar e orientar os tomadores de decisões da companhia. Em um mundo empresarial cada vez mais dinâmico, o conselheiro moderno é farol de sabedoria e de mudanças revolucionárias.

O Conselho Consultivo, como o próprio nome diz, não decide, mas apoia os demais Conselhos e as diretorias em determinado assunto. Geralmente é formado por experts do mercado, que podem trazer insights valiosos trazidos de sua vasta experiência. Em algumas ocasiões, as empresas oferecem ações para os conselheiros consultivos pelo seu trabalho, ou os remunera. Executivos mais experientes, que já ocuparam cargos de liderança em grandes empresas e multinacionais algumas vezes realizam um papel de “Conselheiro as a service”, com salários que podem chegar a R$20 mil mensais para assumirem um papel de conselheiro consultivo em médias e grandes empresas. Cursos de formação de Conselheiros de empresas estão cada vez mais comuns, sendo também um ótimo espaço de networking e troca de experiências entre os experts.

Com essas necessidades, está cada vez mais comum a existência de conselheiros jovens dentro de cada área mencionada. A chamada geração Under 30 tem grande capacidade de se adaptar e entender rapidamente as mudanças de tendências, comportamentos, mercado e tecnologias. Os jovens valorizam a inovação como motor de crescimento e progresso, com visão holística e estratégica, enxergando a empresa como um todo. Essa característica torna os conselhos mais práticos, de validação rápida e eficaz, com grande capacidade de antecipar as consequências de suas recomendações em vários níveis da organização, sabendo respeitar toda diferença dentro da governança, como idade, gênero ou origem dos demais conselheiros e executivos.

Essa evolução está fortemente enraizada na necessidade de uma governança sólida. Com o aumento da complexidade dos negócios e a crescente demanda por transparência, sua presença é um escudo protetor para as empresas contra riscos desnecessários. A responsabilidade agora é uma de suas bandeiras, garantindo não apenas a lucratividade em curto prazo, mas também a sustentabilidade em longo prazo.

A capacidade de se adaptar e comunicar a estratégia de maneira clara e eficaz com as diferentes partes interessadas, internas e externas à empresa, é uma exigência atual. A valorização das diferentes visões e a colaboração se tornou alicerce de relacionamentos sólidos baseados na confiança e no respeito mútuo, essenciais para qualquer organização séria e madura.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A matemática, a gramática e a lógica sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano. Agora, diante da ascensão da IA, elas se tornam ainda mais cruciais—não apenas para criar a tecnologia, mas para compreendê-la, usá-la e garantir que ela impulsione a sociedade de forma equitativa.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura