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A fase 1 foi completada

Os dez primeiros desafios foram vencidos pelo Brasil nos últimos dez anos e o ecossistema do empreendedorismo inovador está montado no País

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No Brasil, de cada 250 a 350 startups que apresentam seus projetos, uma consegue aprovação do investidor e recebe aporte de recursos. É uma “peneira” similar à de países onde a indústria do empreendedorismo está bem enraizada, como os Estados Unidos. Lá, segundo dados da Angel Capital Association, uma de cada 400 startups obtém o dinheiro. Essa taxa de investimento põe número em um fenômeno relevante: o oba-oba em torno das startups nos últimos dez anos não foi mero modismo. 

Segundo fontes diversas ouvidas por HSM Management, formamos nesse período um ecossistema de empreendedorismo inovador, que permite ao País entrar na segunda fase desse esforço – a de gerar mais e maiores startups, e com pretensões globais. Foi como aconteceu no Vale do Silício, no final dos anos 1980 e na década de 1990, quando o capital de risco finalizou um ecossistema que já existia com players como empreendedores, a Stanford University etc. 

Ou como se viu em Israel na década de 2000, quando a grande demanda militar por inovação completou o quebra-cabeça. A irônica e boa notícia é que essa transição de fases coincide com uma crise econômica. Muitas startups de sucesso surgiram em momentos de crise, como Facebook e Airbnb. “Crise significa um mundo de possibilidades para as startups crescerem”, avalia Pedro Waengertner, cofundador da aceleradora de startups Aceleratech. 

A explicação é dada por Sérgio Soares, diretor do Instituto Senai de Inovação: “Aumenta a expectativa de que os produtos gerados pelas startups possam ser usados pelas indústrias para aumentar sua eficiência e competitividade”. Prova disso é a I.Systems, startup que desenvolveu um software capaz de reduzir a variação e os custos de processos industriais. Seu programa é utilizado com sucesso por empresas que precisam elevar a competitividade em setores como metais e mineração, cimento, papel e celulose, química, açúcar e álcool e alimentos e bebidas. 

Mesmo com as dimensões continentais do Brasil, as startups vêm se espalhando. Vítor Andrade, gestor do Programa Start-Up Brasil, afirma que as 162 startups nacionais apoiadas nos últimos dois anos pelo programa estão em 17 estados. “A disseminação é clara. Surgem comunidades empreendedoras em toda parte, de Florianópolis a Manaus, no Jaraqui Valley; muitos governos e entidades locais lançam programas específicos para seus empreendedores; há eventos em várias capitais e no interior”, diz ele.  HSM Management elenca a seguir os dez fatores que comprovariam a construção do ecossistema do empreendedorismo inovador no Brasil e o preparam para a segunda fase.

**1. EMPREENDEDORES EXPERIENTES**

O perfil do empreendedor brasileiro não é mais o mesmo. “Surgiu uma onda de empreendedores por escolha, não por necessidade, formada principalmente por pessoas jovens, recém-graduadas”, afirma Martino Bagini, sócio da Astella Investimentos. “Também vemos empreendedores orgulhosos de construir o próprio negócio, que preteriram carreiras estáveis de executivos para se arriscar na construção de empresas”, complementa Fábio Bruggioni, CEO da e.Bricks Digital. E o melhor: as experiências acumuladas pelos empreendedores (e seus fracassos) os tornam mais fortes candidatos ao êxito. 

**2. BONS EXEMPLOS DE STARTUPS**

Você já deve ter ouvido falar de tallis Gomes, da easy taxi, que em três anos já atua em mais de 30 países e virou sinônimo de redução de custos para grandes corporações. Ou de José eduardo mendes, do hotel urbano, que aproveitou a ascensão do turismo nas classes C e d para criar um gigante de vendas para viajantes. 

Ou ainda dos irmãos rodrigo e marcelo Cartacho, fundadores da Sympla, de gestão de ingressos para eventos pequenos e médios, que romperam a barreira regional e atendiam milhares de cidades em todo o Brasil com menos de dois anos de operação. Se os bons modelos são vitais para a cultura do empreendedorismo inovador, há no Brasil dezenas de casos de startups bem-sucedidas,  que geram ganhos para seus empreendedores  e investidores. essas três ainda pertencem aos fundadores, mas outras já trocaram de mãos e até fizeram iPO (abertura de capital na bolsa de valores). 

Por exemplo, as empresas de melhoramento genético e biotecnologia de cana-de-açúcar CanaVialis e alellyx surgiram em 2002 e em 2008 foram vendidas para a monsanto por r$ 616 milhões. a tivit, de outsourcing de tecnologia, criada em 2002, abriu capital na Bovespa em 2009, captando  r$ 660 milhões, e, no ano seguinte, teve 54% de seu capital adquirido pelo fundo norte-americano apax Partners por cerca de r$ 900 milhões. e estamos falando de todo o Brasil. a catarinense Contaazul, que surgiu em 2011 com o nome ÁgilerP, é a aposta da revista Forbes como a primeira startup brasileira que atingirá o valor de uS$ 1 bilhão. 

A gaúcha radiopharmacus, que elabora produtos para o mercado de medicina nuclear, é a primeira indústria farmacêutica privada nacional adequada às atividades de produção, distribuição e comercialização de radiofármacos. O low profile de algumas dessas empresas é, muitas vezes, estratégia para se protegerem da concorrência, porém os bons exemplos existem, sim, e em número cada vez maior.

**3. INVESTIDORES-ANJO EM MASSA**

Os investidores-anjo, que investem em  negócios quando estes ainda são meras ideias, já viraram um conceito pop no Brasil. Em um país no qual quem tinha dinheiro sobrando tradicionalmente investia em imóveis, o valor aportado por essas pessoas físicas em startups cresceu 51% entre 2011 e 2014, conforme levantamento da associação de fomento Anjos do Brasil. 

A previsão para 2015 mostra que o crescimento pode ser ainda maior, saltando de cerca de R$ 700 milhões em 2014 para R$ 1,4 bilhão este ano. É claro que, nos Estados Unidos, o bolo é superior. Em 2014, segundo dados do Center for Venture Research, da University of New Hampshire, os investidores gastaram cerca de US$ 24 bilhões. E também são 320 mil investidores ali, ante 7 mil aqui. No entanto, se for levada em consideração a diferença de tamanho das duas economias e a relação de ambas com riscos, o montante já é significativo no Brasil. 

Para Jonas Gomes, sócio da Bozano Investimentos e head de sua área de private equity, há ainda uma vantagem na seletividade: o investimento dos investidores-anjo é de muito boa qualidade, pois vem de pessoas que foram empreendedoras e conhecem bem o ambiente de empreender no País. Estudo conjunto da Anjos do Brasil e da Fundação Getulio Vargas (FGV) confirma a análise. 

Quase 50% dos investidores-anjo brasileiros são empreendedores e 23%, executivos. Um sinal alentador no Brasil é que a crise não tem afugentado o investidor-anjo. Segundo o estudo da Anjos do Brasil/FGV, cerca de 54% dos anjos delas pretendem manter ou aumentar o investimento até 2016. O investidor-anjo, tido como muito inocente até pouco tempo atrás, tem amadurecido também, de acordo com os especialistas, o que faz com que ele tenha maior relevância no ecossistema. À massa dos investidores-anjo somam-se 25 fundos ativos investindo em startups em estágio inicial, segundo a Astella Investimentos.

**4. CAPITAL + GESTÃO**

Sabe-se que muitos fundos de investimento dos Estados Unidos incorporam empreendedores a suas estruturas. “Eles criaram nos fundos a figura do empreendedor em residência, tanto para ajudar o gestor do fundo a gerir as empresas em que ele está investindo como para fazer novos empreendimentos”, conta Gomes, da Bozano. Pois, no Brasil, isso também está acontecendo, e a residência ainda serve para treinar os empreendedores a empreender. 

“O capital no Brasil está cada vez mais inteligente; os investidores-anjo ajudam na gestão da startup”, afirma Gomes. Isso significa que o aporte que os investidores fazem nos empreendimentos não é só de dinheiro. “Entra o que chamamos de capital empreendedor, que envolve não apenas dinheiro, mas também capacidade de gestão; é uma postura de agir como um parceiro do empreendedor na formação da empresa”, explica Christian de Castro, consultor especializado em venture capital. Isso é bem mais relevante do que se imagina, porque normalmente o fundador da startup tem de ser um faz-tudo: desenvolve o produto, faz a gestão financeira, cuida do marketing e das vendas, e outras tantas atividades. 

Ele não tem com quem trocar ideias. “Alguns fundos colocam seus membros como executivos interinos nas startups, ajudando a capacitar os empreendedores”, diz Castro. Entre os fundos voltados para as empresas em estágio inicial, a Astella Investimentos age dessa maneira, segundo Martino Bagini, seu sócio. 

Outro sinal de inteligência é a coopetição já estabelecida entre os investidores, competindo e cooperando ao mesmo tempo. Acaba havendo um ganha-ganha: a startup tem capital e ajuda gerencial de vários fundos e os fundos reduzem riscos e custos. “As equipes dos fundos são muito caras, em função de seu nível de qualificação; então, ao trabalharem em parceria, os fundos otimizam a utilização desses profissionais”, explica Castro. 

Exemplo de coopetição é a vista na Ventrix, startup de telemedicina, cujo recente aporte de R$ 5 milhões foi feito pelo fundo Criatec II mais o Fundo de Inovação Paulista. A Ventrix desenvolveu um sistema chamado Cardiofit, que permite, com a transmissão dos dados pela internet, reduzir custos e tempo na realização de exames cardiológicos e na emissão de laudos. 

A coopetição tem ocorrido também entre investidores brasileiros e internacionais, segundo Gabriel Perez, sócio-gestor do Fundo Pitanga. O investimento na empresa de microssatélites Satellogic, por exemplo, foi realizado pelo Fundo Pitanga em conjunto com o braço de investimentos da empresa de tecnologia chinesa Tencent.

**5. AUTOCONHECIMENTO**

Os empreendedores já entenderam que suas startups não são empresas grandes em escala pequena e, assim, perceberam que demandam um tipo de gestão diferente daquela das organizações tradicionais. “não dá para pegar as teorias de Peter drucker e aplicar em uma startup”, afirma Jonas Gomes, sócio da Bozano investimentos e head de private equity. esse autoconhecimento faz toda a diferença. Por enquanto, sai Peter drucker como “guru” e entra em cena eric ries, com todo o seu conhecimento sobre a startup enxuta (lean). 

Quando uma empresa tradicional começa, seja de consultoria, metalurgia, logística ou qualquer outro setor bem estabelecido, as chances de sobreviver nos primeiros anos são boas. Já para a startup, mesmo que receba investimento, ela tem chances muito pequenas de passar do primeiro ano, porque normalmente introduz algo novo, não testado e de alto risco. ela é uma empresa-laboratório, que usa as vantagens do capital barato, das tecnologias acessíveis e da internet para seus experimentos. mas, se conseguir passar no crivo, ela pode ganhar escala rápida e mundialmente. 

Outro sinal de autoconhecimento é que toda startup reconhece, além de ries, o economista Joseph Schumpeter como seu “guru”, pois é o conceito de destruição criadora que justifica esse formato de negócio.

E as startups? A maioria vê vantagem na intromissão. “Regras como indicar o gestor financeiro fortalecem a gestão das startups”, diz Guilherme Junqueira, gerente-executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

**6. GRANDES  EMPRESAS PARCEIRAS**

Existem dois modos básicos de as empresas estabelecidas atua rem com startups, e os dois se encontram no Brasil. O primeiro é por meio das corporate ventures. São unidades de negócios que as grandes criam para identificar oportunidades de inovações para colocar rapidamente no mercado e gerar vantagens competitivas. 

Essa empresa “sênior” passa não só a investir na startup, mas também a contribuir para sua gestão. Companhias como Embraer, Votorantim, Vivo e Tecnisa são exemplos de empresas que criaram corporate ventures, e a prática ganha importância cada vez maior, em um tempo em que se demanda mais e mais inovação. “É muito difícil uma grande empresa inovar dentro de casa; ela já entendeu isso. A corporate venture ajuda a superar esse problema”, avalia Gomes. 

A segunda maneira de grandes empresas e startups serem parceiras é por meio de uma relação básica de cliente-fornecedor. E nesse aspecto também houve um salto de qualidade nos últimos dez anos, na opinião de Teco Sodré, sócio-gestor da Ikewai Investimentos e Participações. “Antes, as corporações tinham receio de comprar produtos ou serviços das startups e estas não darem conta da entrega; além disso, os contratos detalhadíssimos de seus departamentos jurídicos sufocavam o empreendedor”, lembra Sodré. 

Agora, aprenderam como fazê-lo. “Em geral, as corporações costuram uma parceria entre um fornecedor tradicional e a startup para poderem ter garantia de entrega e inovação na mesma fonte; e os contratos complicados cabem ao fornecedor tradicional.”

**7. ESCOLAS E EVENTOS**

Os cursos de administração de empresas das universidades brasileiras ainda formam gestores para organizações constituídas e não empreendedores, na opinião dos especialistas. No entanto, o empreendedorismo inovador está sendo mais abordado nas universidades brasileiras, nos níveis de pós-graduação, educação executiva e MBAs. Outra boa notícia é que há tentativas de melhorar o cenário, como a realização da disciplina de graduação “Criação de Negócios Tecnológicos”, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP) e pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). 

Nela, os alunos de graduação das duas instituições têm aulas e desenvolvem projetos em conjunto para estruturação de empreendimentos de base tecnológica. Uma segunda iniciativa é o Programa Nacional de Educação Empreendedora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que busca implementar o conceito de empreendedorismo nas diversas etapas da educação formal, do ensino fundamental à universidade, incluindo a formação de docentes do ensino superior para ministrar aulas sobre o tema. 

Já há eventos de startups para empreendedores de todos os estágios. Vão dos midiáticos como Startup Weekend e BRNewTech até meetups, encontros informais organizados pelos próprios empreendedores. Destacam-se ainda os eventos de pitches, como o promovido pela ABS Pitch Corporate, em que empresas são apresentadas a startups que criaram soluções para seu setor de atuação. “Grandes empresas como Hering e Rede Globo já participaram, reduzindo seu tempo de prospecção para compra de serviços e possível investimento em startups”, conta André Diamand, presidente da ABStartups.

**8. ESTÍMULO DE GOVERNOS E ONGS**

Encontram-se programas voltados para o empreendedorismo inovador no governo, nas esferas federal, estadual e municipal, e é significativo o número de organizações não governamentais que incentivam e apoiam empreendedores, como Endeavor Brasil e Sebrae. 

Dois atores que gerenciam programas de estímulo permitem entender a sofisticação que nosso ecossistema já alcançou nesse aspecto e quanto continua evoluindo, porque já veem essas empresas como boa oportunidade de negócios.

Um é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que atua em prol do empreendedorismo inovador de múltiplas maneiras, por meio de fundos de investimento como o Criatec ou de agências de fomento como a Finep. 

Outro é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), ONG com duas importantes iniciativas novas. Há os Institutos Senai de Inovação (ISIs), “locais de convergência entre grandes empresas, universidades e empreendedores”, como explica Marcelo Prim, gerente-executivo de inovação e tecnologia do Senai. Serão 26 ISIs ao todo, 14 já operam. 

E há o Laboratório Aberto, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, capaz de realizar prototipagem virtual e física de ideias, desenvolver habilidades empreendedoras e conectar os melhores modelos de negócio com o capital de risco. “O Senai está aumentando sua oferta de serviços às startups”, diz Prim.

**9. PROFISSIONAIS  DE APOIO**

Principais organizações de apoio ao nascimento de startups, as incubadoras são quase 400 e existem em todas as regiões do Brasil. As aceleradoras são dezenas, mas também se espalham. “As 17 do Start-Up Brasil ficam em sete estados de três regiões”, ilustra Andrade. Já é fácil encontrar escritórios de advogados experientes nos negócios e contratos que startups demandam. 

Um exemplo é o SBAC Advogados, que se especializou nas empresas iniciantes e em inovação tecnológica a ponto de mudar o modelo de remuneração. Em vez da cobrança tradicional por hora, oferece planos de prestação de serviços com preços predefinidos. Como a estrutura jurídica do País é muito complexa, advogados de empreendedores são cruciais ao sucesso do sistema. Outros serviços específicos incluem os espaços de coworking. Ainda faltam os bancos se adequarem, reclama Guilherme Junqueira, da ABStartups. “Abrir conta é dor de cabeça para as startups.”

**10. PREPARO DOS VOOS INTERNACIONAIS**

O décimo sinal do amadurecimento do sistema é o fato de já haver startups preparadas para ganhar o mundo. “Várias têm em mãos de estudos de mercados a planejamento jurídico para isso”, conta Teco Sodré, da Ikewai. Ele explica que “um mercado como o gaúcho pode ter mais similaridades com Argentina e Paraguai que com o Nordeste”. Alguns empreendedores talvez comecem por aí.

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