Empreendedorismo
3 min de leitura

A ilusão que alimenta a disrupção

Em um ambiente onde o amanhã já parece ultrapassado, o evento celebra a disrupção e a inovação, conectando ideias transformadoras a um público global. Abraçar a mudança e aprender com ela se torna mais do que uma estratégia: é a única forma de prosperar no ritmo acelerado do mercado atual.
É presidente executiva e sócia-fundadora da PinePR. Graduada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui um MBA pela FIA, pós-graduação em Marketing pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Marketing Intelligence pela NOVA IMS, em Lisboa. Com cerca de 20 anos de experiência na área de comunicação e marca, trabalhou com empresas nacionais e internacionais, desde startups até grandes corporações, em frentes como PR, conteúdo e mídias digitais. Foi líder de comunicação externa e marca da EY para a América do Sul e head de comunicação e employer branding da scale-up Quero Educação.Hele

Compartilhar:

Uma das grandes diversões, e também um enorme desafio, que o Web Summit Lisboa traz todos os anos para seus mais de 70 mil congressistas é acompanhar o tsunami de startups que apresentam suas ideias, produtos e soluções durante os três dias do evento.

É uma jornada do tipo “piscou, perdeu”: as startups se apresentam em apenas um dia. Amanhã, outra empresa ocupará aquele mesmo espaço. E isso reflete o dinamismo do mercado: o que hoje é novidade, amanhã é passado.

Para lidar com toda essa intensidade, os empreendedores precisam ter o que o músico Pharrell Williams definiu, logo na abertura do Web Summit Lisboa 2024, como “uma colher de sopa de ilusão”. Aquela certeza absoluta de que o caminho que você está trilhando é o correto. Um olhar que molda tudo o que você vê, respira ou sente. 

Em três dias, 3 mil “iludidos do bem” que têm uma visão distorcida da realidade – a ponto de ter total confiança no sucesso. Pois, no fundo, essa “colher de sopa de ilusão” é fundamental para temperar a dura jornada empreendedora.

Muita gente dizia que Steve Jobs tinha uma espécie de “campo magnético”, que fazia com que suas ideias, por mais estranhas que fossem, tivessem sentido para quem as ouvia. Tom Hale, o CEO da Oura, startup que desenvolve um anel que monitora a saúde dos usuários, colocou de uma forma um pouco diferente: é preciso ter fortes crenças, mas ao mesmo tempo seria burrice não ouvir os clientes.

O que 3 mil startups fazem, durante o Web Summit, é conversar com quem surge à sua frente. De inúmeras interações vêm iterações de produtos, do pitch e até mesmo do posicionamento. A intensidade e a velocidade com que isso tudo acontece cria um caldo de transformação capaz de fazer a diferença para os negócios.

Abraçar a disrupção

A “colher de sopa de ilusão” com certeza molda o sentimento de cada empreendedor. Me incluo nesse grupo, pois a PinePR é uma agência nascida de um sonho e que passou por muitos momentos em que não era claro qual seria o próximo passo. Nesses momentos, ter uma postura positiva sobre a mudança pode ser muito positivo.

A palavra “disrupção” costuma evocar sentimentos contraditórios. De um lado, é ameaçador imaginar que algo que parecia seguro deixará de fazer sentido. Mas se você é quem está promovendo a mudança, ela é empolgante. Talvez devêssemos adotar uma postura diferente: abraçar a transformação e entender que ela não só é inevitável, como desejável.

Atuando no ecossistema de mídia, temos visto as transformações acontecerem, onda após onda. A atividade de relações públicas parecia mais simples no passado: era um sistema aparentemente estável, com alguns meios de comunicação estabelecidos e canais de relacionamento estruturados. Por outro lado, havia muito menos oportunidades para fazer algo diferente.

Do impresso para o rádio, para a TV, para a internet, para os podcasts, mídias sociais, influenciadores digitais e, cada vez mais, a Inteligência Artificial. A produção de conteúdo vem continuamente se transformando, fragmentando o ecossistema e criando diferentes possibilidades para indivíduos, marcas e negócios. O kit de ferramentas do profissional da área continua se transformando – esse processo nunca vai parar.

Para lidar com a contínua disrupção, é preciso atuar com ampla liberdade, aprendendo sempre e modernizando discurso, técnicas e tecnologias. Para jornalistas e comunicadores em geral, aprender a trabalhar com base em dados se torna essencial. Usar KPIs e ferramentas analíticas para entender o alcance da sua comunicação (e como corrigir os caminhos) passa a ser uma exigência natural.

Abraçar a disrupção e a tecnologia significa manter um olhar fresco, renovado, sobre o que acontece no mundo. Cristalizar certezas? Só em relação ao caminho empreendedor. A vida se torna um eterno processo de pivotar: testar, medir, aprimorar, repetir.

Quando isso acontece, a certeza da impermanência das coisas passa a ser libertadora. Uma startup que tem um dia para promover sua solução para quem passar em seu estande, ou uma marca que é entrevistada em um podcast, têm um senso de urgência semelhante. É preciso agir no agora, e é melhor fazer algo hoje do que perder o timing na tentativa de ser perfeito.

Entender que a perfeição não existe também traz mais empatia. Não é possível ganhar todas ou acertar sempre. Mesmo um atleta multicampeão, como o britânico Mo Farah, com seus 4 ouros olímpicos (ele também palestrou no Web Summit 2024), perdeu mais provas do que venceu ao longo da vida. O que faz a diferença é o aprendizado em relação ao erro.

Encarar cada momento como uma oportunidade de melhorar é uma forma consistente de abraçar a disrupção. E esse é um exercício diário que todos nós empreendedores devemos fazer – mesmo que estejamos com aquela “colher de sal de ilusão” que traz a certeza do caminho correto.

Compartilhar:

Artigos relacionados

O futuro dos eventos: conexões que transformam

Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura