Empreendedorismo

A importância da diversidade nas comunidades empreendedoras

Criar estratégias para contemplar a diversidade cognitiva nos diversos atores do ecossistema é vital aos negócios
É co-fundador da Confraria do Empreendedor e executivo líder de Ecossistema de Inovação na Accenture

Compartilhar:

Os últimos cinco anos foram transformacionais para o ecossistema brasileiro de startups, criando um ambiente mais propício ao crescimento das empresas. O último ano, em especial, promoveu a aceleração de muitos pontos importantes, como o aumento da entrada de capital de risco no mercado e a discussão sobre temas de impacto – tais como [diversidade e ESG](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-e-importante-na-evolucao-do-modelo-de-negocio) – foi ampliada, e temos que aproveitar esse momento para acelerar e dar escala.

Tenho me envolvido em diversas iniciativas e destaco um tema em particular que tenho me aprofundado e aplicado: qual a relação entre diversidade e empreendedorismo? Como e quanto a diversidade impacta o ecossistema empreendedor? No mercado corporativo, tenho visto muita relação entre diversidade e inovação nas grandes corporações e, na [Accenture](https://www.mitsloanreview.com.br/forum/pensamento-digital-accenture), temos realizado diferentes iniciativas nesse sentido, mas neste artigo compartilharei minha visão para agregar à jornada de quem está buscando entendimento e ação na relação de diversidade com empreendedorismo.

## Começando do básico: o que é diversidade?
Quando se fala de diversidade, no geral, uma das abordagens mais constantes no nosso contexto é a diversidade racial, que tem questões muito relevantes e que são históricas e estruturais em nosso país.

Aqui usarei o termo diversidade pela lente do ecossistema empreendedor, de uma forma mais ampla inspirada por duas grandes referências *The Startup Community Way: Evolving an Entrepreneurial Ecosystem* e *Diversity Bonus*. Quando trago aqui o tema, minha intenção é enxergar além da diversidade de identidade, que inclui, por exemplo, raça, etnia, gênero, orientação sexual, idade, origem geográfica e histórico socioeconômico.

Então, quando abordo a [importância da diversidade em comunidades e ecossistemas empreendedores](https://www.revistahsm.com.br/post/doar-e-transformar-a-nossa-sociedade), faço isso focando em diversidade cognitiva que pode ser entendida como diversidade de opiniões, experiências, vivências, especialidade, educação e habilidades. Ao olhar por este prisma, as comunidades precisam de pessoas que pensam diferente e veem o mundo por lentes únicas, que foram moldadas pela sua experiência de vida.

Independentemente desta abordagem pelo ângulo da [diversidade cognitiva](https://www.revistahsm.com.br/post/conecte-a-sua-estrategia-de-diversidade-a-pauta-esg), a dimensão gênero e raça são algumas das mais relevantes na discussão do tema. Na Confraria do Empreendedor, comunidade com a qual me envolvo no dia a dia, vejo três destas dimensões sendo grandes aceleradoras, as duas mencionadas acima e a regional.

## Diversidade, o cenário empreendedor hoje e o impacto potencial

Ao mesmo tempo em que a pandemia acentuou as desigualdades sociais e, nas empresas, continuamos a ter equipes pouco diversas no quesito de raça e gênero, é interessante acompanhar os estudos que mensuram os impactos da diversidade nos resultados das empresas, mas precisamos de cada vez mais casos que inspirem e gerem o famoso ciclo virtuoso.

Para ilustrar o [cenário do empreendedorismo atual](https://www.revistahsm.com.br/post/startups-no-brasil-dados-do-ecossistema), um estudo da Distrito em parceria com a B2Mamy e Endeavor de 2020 trouxe uma análise dos nove unicórnios brasileiros. Dos empreendedores, 93% são homens, 43% estudaram na USP e 40% fizeram pós-graduação em Harvard ou Stanford. Após este estudo, mais quatro unicórnios emergiram no Brasil, todos fundados por homens, sendo que Robson Privado, da empresa MadeiraMadeira, é o primeiro co-fundador negro de um unicórnio no Brasil. Quando avaliamos regionalismo a maioria das startups estão concentradas no sul e sudeste.

Pensando no impacto da diversidade, um estudo da Bain & Company sobre startups fundadas por negros no Brasil apontou que as empresas têm múltiplos de saídas 30% maiores se tiverem diversidade entre os fundadores e 65% maiores se tiverem diversidade racial entre o corpo de diretores.

Em relação com as empresas fundadas por mulheres, segundo estudo da MassChallenge e BCG, estas geram receitas mais altas – mais do que o dobro por dólar investido – do que aquelas fundadas por homens, tornando as empresas de mulheres melhores investimentos para investidores.

## Community/Ecosystem fit da diversidade
A diversidade nas [comunidades empreendedoras](https://www.revistahsm.com.br/post/comunidade-empreendedora-e-alavanca-para-transformacao-digital) está diretamente relacionada ao avanço nesse tema em todo o ecossistema e o conceito muito ilustrativo do Brad Feld me ajuda a fundamentar esta hipótese.

A comunidades e ecossistemas são formados por um conjunto de atores e fatores em um ambiente físico ou virtual que interagem de uma forma que influencia empreendedores e produz (e acelera) o empreendedorismo.

Comunidades empreendedoras são, em grande parte, mais relacionadas a uma cidade ou região e estão no centro do ecossistema empreendedor, que tem outros elementos que estão mais distantes de uma comunidade, mas que a fomentam. Nas comunidades, temos o empreendedor no centro e também temos as pessoas que trabalham em startups, em aceleradoras, em hubs de inovação, os investidores, os executivos de grandes empresas, os mentores, enfim pessoas que estão diretamente conectadas para acelerar o crescimento e amadurecimento do cenário empreendedor.

Cultivar e suportar líderes que emergem de comunidades de startups é essencial para desenvolver, de forma consistente, melhores empreendedores e startups. Quando os empreendedores têm sucesso, os demais atores no ecossistema empreendedor mais amplo vão se engajar mais intensamente com as comunidades de startup – e um ciclo virtuoso tende a se desenvolver trazendo mais pessoas, recursos e suporte. Isso é similar ao conceito no meio empreendedor chamado de product/market fit, então, Brad Feld denominou community/ecosystem fit.

Quando o sucesso em uma comunidade começa a se materializar, com algumas startups crescendo, a comunidade entra em uma nova fase, em que começa a atrair recursos do ecossistema. Quando uma grande parcela de potenciais atores fica ativa na comunidade e no ecossistema, o fit foi alcançado.

Ao usarmos os conceitos acima pensando em diversidade, podemos ter o mesmo racional. Ter pessoas como exemplos e conectores da rede, que aceleram a mudança, é fundamental. Na Confraria, prezamos por nos envolver e incentivar a troca com pessoas que representam outras comunidades e hubs que tem tido influência no ecossistema, criando um ambiente catalizador para ampliar acesso e diversidade e vejo o quanto isso tem sido importante para o tema.

E já percebemos também que a qualidade da rede das comunidades é mais importante do que o tamanho dela. Apesar do conceito das redes sociais geraram e reforçaram que o número de conexões (ou seguidores) que você tem na sua rede é o determinante principal do seu valor na rede, de acordo com pesquisas, isso não é verdade. Ao invés disso é um formula simples: valor da rede = # de conexões X valor da informação que flui entre as conexões

Por isso, o estímulo da troca de opiniões, conhecimento e experiências é essencial também. Temos gestores de comunidades na Confraria que tem como objetivos incentivar a colaboração, a conexão e o compartilhamento entre as pessoas, e estimular a cultura giver, que se resume na ajuda mútua entre as pessoas e no aumento da relação de confiança – o que cria um feedback positivo nas relações.

## Como as comunidades podem fazer seu papel
Diversidade como princípio para decisão pode ser um caminho. Na Confraria do Empreendedor, por exemplo, nos diversos eventos que realizamos, temos como princípio selecionar pessoas que tornarão o grupo o mais diverso possível. Aprofundar-se no tema também é importante e temos trazido pessoas para apoiar nosso posicionamento como aceleradora da mudança.

Nem sempre é necessário falar sobre diversidade para praticá-la. Já tivemos situações de preconceito explícitos em que, fazendo uma gestão de crise, retirarmos uma pessoa do grupo. Afinal, a cultura de uma comunidade é definida também pelo pior comportamento aceitável.

Combater o viés inconsciente e ampliar a participação de pessoas de diferentes origens, raças, gêneros, especialidades e conhecimentos pode ser um bom direcionamento, afinal um grupo de pessoas com mais diversidade cognitiva amplia a representatividade da comunidade.

Finalizo a[qui com uma reflexão sobre igualdade, equ](https://www.revistahsm.com.br/post/a-nova-era-do-empreendedorismo)idade e justiça na busca por diversidade, cujo nosso atraso é grande. Eu tenho convicção que dar oportunidades iguais não é necessariamente efetivo para as diferentes dimensões da diversidade. E, por isso, iniciativas como acesso a capital direcionado a algumas minorias são necessárias.

Estamos nos esforçando para criar o ciclo virtuoso para o community/ecosystem fit da diversidade e promover um contexto capacitante, considerando as necessidades específicas de cada grupo, é essencial. A imagem abaixo, criada pelo Tony Ruth, no Design in Tech Report 2020, ilustra conceitualmente de maneira simples e brilhante.

![diversidade-meoo-02](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4ipvKuaOruEg1sO9LuaVJ2/b8ef55b8e82fbfc64a834c0af56b6e8e/diversidade-meoo-02.jpg)

*Saiba mais sobre o ecossistema empreendedor brasileiro em [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter).*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura
Diversidade, ESG
Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes

Darcio Zarpellon

8 min de leitura
Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura
Cultura organizacional, Empreendedorismo
A ilusão da disponibilidade: como a pressão por respostas imediatas e a sensação de conexão contínua prejudicam a produtividade e o bem-estar nas equipes, além de minar a inovação nas organizações modernas.

Dorly

6 min de leitura
ESG
No texto deste mês do colunista Djalma Scartezini, o COO da Egalite escreve sobre os desafios profundos, tanto à saúde mental quanto à produtividade no trabalho, que a dor crônica proporciona. Destacando que empresas e gestores precisam adotar políticas de inclusão que levem em conta as limitações físicas e os altos custos associados ao tratamento, garantindo uma verdadeira equidade no ambiente corporativo.

Djalma Scartezini

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A adoção de políticas de compliance que integram diretrizes claras de inclusão e equidade racial é fundamental para garantir práticas empresariais que vão além do discurso, criando um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo, transparente e em conformidade com a legislação vigente.

Beatriz da Silveira

4 min de leitura