Dezesseis milhões e duzentos mil resultados: esse é o volume de artigos mostrados no Google ao pesquisar por “ineficiência na gestão pública”. Só na saúde pública, da qual sete em cada dez brasileiros dependem, a fila de espera por cirurgias superou 1 milhão de pessoas em junho de 2023. Essa é uma realidade alarmante, mas que já não é novidade para ninguém. Com um impacto de dimensões continentais e desafios na mesma proporção, o contexto de urgências no serviço público é recorrente no dia a dia dos brasileiros, e grave ameaça à dignidade humana e ao desenvolvimento da nação.
A resposta a isso tudo, claro, começa pela gestão pública. No setor responsável pelos serviços mais essenciais do País, como a saúde e a educação, o desenvolvimento segue em descompasso com as necessidades da população. Muita coisa ainda é feita da mesma forma que era nos anos 1980 e 1990, com processos em papel, sistemas manuais e acessíveis somente localmente, e gestão fragmentada. Em minha experiência em liderança na IPM Sistemas, empresa de tecnologia e inovação para gestão pública, não é incomum iniciarmos projetos de transformação digital em prefeituras com mais de 300 sistemas de gestão e ferramentas de dados coexistindo. É ingênuo pensar que há administração eficiente ou inteligente diante dessa situação. Independentemente de como você olhe a situação, a transformação da realidade de urgências para uma de eficiência e resultado começa pela tecnologia e inovação no setor público.
O setor público precisa inovar, e para isso precisa de ferramentas adequadas, time engajado e foco total no cidadão, que é o público final. Ou seja, é um processo de fortalecimento e atualização até de cultura, reconhecendo o foco no serviço à população e criando um espaço de eficiência, melhoria contínua e evolução tecnológica, o que requer engajamento e comprometimento com a inovação. Estamos falando de gestão pública. Portanto, estamos falando de pessoas, legislações, órgãos e regiões que são impactados pela inovação, e que dela devem ser cocriadores. O trabalho de desfazer o nó burocrático por trás das organizações requer um nível de engajamento compatível com a magnitude do impacto final, trazendo para a ação gestores públicos, pesquisadores e especialistas das áreas pública e privada. Afinal, a especificidade e o intrincamento da operação requerem engajamento coletivo, seja ele espontâneo ou potencializado pela liderança.
Na gestão pública, em especial, a complexidade de processos e excesso de fiscalização de órgãos reguladores criam incentivos contrários à inovação, pois qualquer ideia diferente acaba sendo alvo de questionamento ao sair do caminho já conhecido e validado. É o processo correto, mas que também recompensa a obsolescência: não se inova fazendo as coisas da forma como elas sempre foram feitas. Assim, as parcerias com a área privada e compras públicas de soluções padrão de mercado, como os SaaS em tecnologia, são dois caminhos que aproveitam a velocidade e competição corporativa, colhem os benefícios de práticas validadas em um contexto mais amplo, e preservam tempo e recursos públicos para suas atividades de maior impacto (seu core business), a serviço da sociedade.
Da porta para dentro, as organizações privadas que trabalham nessa inovação e tecnologia para o setor público precisam compreender profundamente os desafios do setor, ao mesmo tempo em que cuidam para não apresentar internamente os mesmos obstáculos. Essa é a nossa filosofia na IPM Sistemas, empresa que em breve completará três décadas atuando com a gestão pública. Em 2023, não dependemos somente de novos produtos e da solidez tecnológica. Ao menos, não apenas disso. O esforço principal é na criação de um ecossistema de inovação que torne o pioneirismo e seus resultados constantes, frequentes, e escaláveis, ou seja, na cultura e processos. As ações de vanguarda não podem ser tidas como sorte, e sim fruto de um esforço contínuo em promover uma organização cada vez mais criativa, impactante e ágil. Isto é, há um comprometimento profundo com a evolução do negócio, ajustando quaisquer possíveis entraves à inovação – a nível cultural, de liderança, time, ou processos.
Desde o início de nossa jornada, temos buscado cada vez mais líderes e agentes da mudança: perfis que se destacam pela sua adaptabilidade e capacidade de agregar informações novas. O passo da transformação é tão acelerado que os conhecimentos são postos à prova da obsolescência em ritmo inédito. Nesse contexto, é a capacidade de adaptação e aprendizado – e não o conhecimento bruto – que determinam a evolução.
Internamente, é essencial potencializar a pluralidade de ideias, isto é, construir um time mais próximo de representar a diversidade da sociedade, pautado no respeito e inclusão de forma natural. Por isso, cerca de 30% dos líderes da IPM são mulheres, e 27% têm menos de 30 anos, o que é singular no mercado e cria um ambiente de inovação que agrega pontos de vista distintos. Estima-se que 87% dos gestores de tecnologia no Brasil sejam homens, com idade média próxima aos 40 anos nas maiores empresas do País. Além de buscar uma liderança diversa, a empresa tem investido em trazer profissionais com vivência internacional, aproveitando conhecimento e inovação de outros países. E tem dado certo: a líder de inteligência artificial, responsável pelo desenvolvimento da Dara – primeira IA para gestão pública com aplicação abrangente – vem de uma jornada nos principais centros de inovação dos Estados Unidos, com passagem pela Duke University, na Carolina do Norte, e Johns Hopkins University, em Maryland. É um nível de diversidade de vivências e conhecimentos difícil de alcançar no setor público, que serve como motor de inovação na área privada.
Com tudo isso, vai surgindo uma nova era da gestão pública, em uma jornada de inovação que transcende as tratativas público-privadas, com impacto direto na qualidade de vida das pessoas. E essa nova era tem transformado realidades.
Através das tecnologias que desenvolvemos aqui, no Brasil, proporcionamos previsibilidade na tomada de decisão no governo, considerando desde dados demográficos a tendências locais, substituindo o “achismo” pela ciência com a inteligência artificial. Na outra ponta, destravamos o desenvolvimento econômico e a vida do cidadão, propiciando maior eficiência ao dia a dia, da abertura de uma empresa ao agendamento de uma consulta médica. No saldo final, há a otimização dos gastos públicos e melhoria da qualidade de vida da população: dois processos considerados incompatíveis, mas possíveis com a inovação.
Ao estruturar uma organização que visa cocriar o futuro, e não apenas ser platéia da transformação, temos nos reinventado ano após ano, e transformado o setor público juntamente. E entendemos, em conjunto, que não basta tecnologia. O foco bilateral é em inovação e tecnologia para o presente e o futuro de cidades e pessoas, em uma jornada contínua de evolução. E é esse propósito singular que nos permite seguir redefinindo os limites da imaginação e da realidade, construindo um Brasil que já deu certo.