Liderança
4 min de leitura

A liderança ambidestra é sim paradoxal. Vamos ao caos?

como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?
Consultora e mentora em Inovação, Growth e Culture Hacking. Fundadora da Ambidestra. Especialista em Transformação Digital, Estratégia de Negócios e Marketing. Fundadora da Zero Gravity Thinking.

Compartilhar:

Já é sabido que em um mundo de rápidas mudanças tecnológicas e de mercado, a ambidestria organizacional é o modelo para vencer, pois possibilita equilibrar a exploração do novo (inovação) e a execução eficiente de atividades já estabelecidas (disciplina operacional). Mas não basta definir as estratégias, estruturas e processos para habilitar este modelo. E mais, a ambidestria não é apenas uma questão de mentalidade, restrita somente ao nível mais alto da organização. A ambidestria pode e deve ser incorporada na liderança e em cada colaborador de cada equipe de toda a empresa.

Na essência da ambidestria, a busca por objetivos muitas vezes conflitantes gera inúmeras tensões que estão associadas à execução em ambas as frentes. Ou seja: se tornar uma liderança ambidestra é algo paradoxal. Ela contém elementos contraditórios, mas que, ao mesmo tempo, podem revelar uma verdade subjacente, desafiando a lógica comum e exigindo que a mente abrace a coexistência de opostos.

E vamos a eles:  como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e  determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?

Do ponto de vista da neurociência, nossa mente não lida naturalmente com paradoxos, já que ela tende a buscar consistência e coerência e tende a evitar contradições. No entanto, quando confrontada com paradoxos, o córtex pré-frontal, responsável por decisões complexas e resolução de problemas, é ativado para tentar reconciliar esses opostos. É ele que permite que lidemos com contradições integrando perspectivas opostas. O cérebro também pode recorrer a um processo de “suspensão de julgamento” para lidar com paradoxos, em que aceita que ambos os lados da contradição podem coexistir. E esta capacidade de navegar por paradoxos está ligada à flexibilidade cognitiva, ou seja, à habilidade de mudar perspectivas e considerar múltiplos pontos de vista simultaneamente, estimulando a criatividade e a inovação (uma vez que soluções que envolvem paradoxos muitas vezes requerem abordagens fora dos padrões tradicionais).

Nassim Taleb defende que as incertezas são algo desejável ― e até necessário – e que existem coisas que se beneficiam com o caos. O antifrágil abraça a desordem, adapta-se a ela e evolui a partir dessa adaptação. Assim, no ambiente de negócios complexos, o pensamento paradoxal é sim uma vantagem estratégica e promove a criatividade e adaptabilidade essenciais para prosperar em cenários dinâmicos. E como podemos nos tornar este líder “paradoxal”? E não somente isto, formar pessoas que também abracem estas virtudes?

A pressão por resultados é constante, mas você consegue criar um espaço para a inovação, sem sacrificar o ritmo dos resultados?

Ao mesmo tempo em que você deve comunicar os objetivos e metas do time de forma clara e assertiva (determinação), precisa também abrir espaço para ouvi-los sobre suas percepções com relação ao contexto e soluções possíveis, bem como desafios e oportunidades ao longo do caminho (adaptabilidade). Como você tem equilibrado a flexibilidade com a resiliência em suas decisões e ações?

Como líder, você é responsável pelo impacto das suas decisões (autorresponsabilidade), mas também pela forma como essas decisões afetam as pessoas ao seu redor. Você consegue ser firme nas suas responsabilidades e, ao mesmo tempo, sensível às necessidades e perspectivas dos outros?

E como está o nível de confiança entre você e os membros do time? E entre eles? Ninguém irá compartilhar ideias e trabalhar em colaboração se não se sentir confortável ​​e tiver a chance de construir relacionamentos. Você já compartilhou seus conhecimentos e recursos com sua equipe de maneira genuína (generosidade), sem se preocupar se isso irá comprometer sua posição de liderança? Como a vulnerabilidade – admitir erros, reconhecer limitações e fazer perguntas – tem sido parte de sua jornada de crescimento?

A verdadeira liderança ambidestra está em encontrar o equilíbrio entre forças paradoxais, promovendo uma gestão que não só entrega resultados de curto prazo com eficiência, mas também inspira o futuro dos negócios e a humanização no ambiente de trabalho.

Compartilhar:

Consultora e mentora em Inovação, Growth e Culture Hacking. Fundadora da Ambidestra. Especialista em Transformação Digital, Estratégia de Negócios e Marketing. Fundadora da Zero Gravity Thinking.

Artigos relacionados

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura