Liderança

A magia do olho no olho

Luciano possui +20 anos de experiência no mercado digital tendo iniciado sua carreira no portal UOL, trabalhou 10 anos no Google Brasil em diversas áreas e foi diretor no Facebook Brasil a frente de uma equipe de vendas em São Paulo. É escritor e autor do livro "Seja Egoísta com sua Carreira", embaixador da Escola Conquer e faz parte do conselho consultivo da Agile.Inc.

Compartilhar:

Um líder com quem eu trabalhei dizia que 99% das mazelas no trabalho eram causadas por problemas de comunicação (ou a falta dela). Esse número não veio de qualquer pesquisa ou estudo a respeito do assunto, mas de um olhar sábio de alguém observador e com muita experiência corporativa.

Eu concordo 100% com ele.

Outro dia eu me vi pego em uma discussão por e-mail, acho que havia umas cinco ou seis pessoas copiadas nele. Um dos personagens estava questionando o lançamento de um processo novo que potencialmente causaria trabalho adicional para o seu time de vendas e envolveu sua diretora na mesma conversa. O criador do processo respondeu dizendo que ele não sabia interpretar a mudança e que não via o motivo de tanto alarde. Então, a diretora entrou com sua opinião, outro analista também e, três horas depois, já eram mais de dez respostas – cada uma dizendo uma coisa e com um claro conflito entre áreas.

Comecei a ler e desisti. Respondi a todos que discutir aquilo por e-mail não fazia sentido e sugeri uma reunião de 30 minutos para nos entendermos e resolvermos a questão.

### A magia do olho no olho

A reunião aconteceu alguns dias depois da troca de e-mail. Pedi para a pessoa explicar qual o problema com o novo processo, como ele poderia impactar o time e qual seria a sua sugestão para resolvê-lo. Ele explicou, deu detalhes, ilustrou com um exemplo de algo parecido no passado e sugeriu uma pequena mudança no processo para evitar que o problema acontecesse. Quando ele terminou, eu escuto do outro lado (era uma videoconferência) – “ah, não era isso que eu tinha entendido. Eu concordo, podemos sim mudar isso pois não irá afetar o resultado final que esperamos”.

Isso aconteceu em dez minutos, passamos os outros vinte apenas alinhando os próximos passos e as datas para a implementação.

### Os problemas de comunicação

Eu vejo uma série de pequenos problemas na primeira parte da história acima: 

1) Não existiu uma reunião para o lançamento do novo processo e nem uma postagem no grupo interno; 

2) O questionamento da mudança foi feito por e-mail, uma ferramenta muito ineficiente para se resolver conflitos ou questões importantes; 

3) Pouca vontade dos dois lados em querer entender o que estava acontecendo. O foco era ter razão.

E vou colocar o quarto ponto separado por considerar o mais importante: **a falta do olho no olho.**

Nós recebemos tantos e-mails, tantas mensagens no nosso dia a dia que consumi-las e respondê-las pode se tornar algo frio e impessoal, além da dificuldade de cada um se entender em palavras, visto que temos maneiras diferentes de comunicar e interpretar.

Isso não acontece quando sentamos, olhamos uns para os outros e conversamos sobre o que está acontecendo. É mais eficiente, pessoal e garanto que a resolução será muito mais rápida do que qualquer outro meio.

### Abuse da comunicação e dos canais para fazê-la

Essa história ensina muito. Comunicar mudanças importantes apenas por e-mails e postagens não é a melhor forma – eles devem complementar a comunicação principal. Além desses canais, faça também um comunicado por reunião, videoconferência ou apresentação. Algum formato “olho no olho”.

Garanta que haja espaço para que as pessoas possam perguntar e trazer suas preocupações sobre o que está mudando. Muitas vezes o que é claro na nossa cabeça não vai necessariamente ser na cabeça do outro.

Além disso, se algum questionamento foi levantado e o conflito surgir, prefira trazer todos os envolvidos para um bate papo e escute atentamente as preocupações do outro lado. Pode ser algo que irá enriquecer a ideia original.

### Peque pelo excesso

Esse mesmo chefe sempre dizia que “repetição não estraga a prece”. Então, se tiver dúvidas de que a mensagem ainda não ficou clara, repita. Repita quantas vezes forem necessárias para que todos saibam o que está acontecendo, em especial a audiência que será afetada. Aprendi que é melhor alguém reclamar de uma reunião a mais do que administrar os problemas causados pela ausência dela.

E como dizia o saudoso Chacrinha: _“quem não comunica, se trumbica.”_

Compartilhar:

Luciano possui +20 anos de experiência no mercado digital tendo iniciado sua carreira no portal UOL, trabalhou 10 anos no Google Brasil em diversas áreas e foi diretor no Facebook Brasil a frente de uma equipe de vendas em São Paulo. É escritor e autor do livro "Seja Egoísta com sua Carreira", embaixador da Escola Conquer e faz parte do conselho consultivo da Agile.Inc.

Artigos relacionados

Passa conhecimento

Incluir intencionalmente ou excluir consequentemente?

A estreia da coluna “Papo Diverso”, este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do “Dia da Pessoa com Deficiência”, um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

ESG
A estreia da coluna "Papo Diverso", este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do "Dia da Pessoa com Deficiência", um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

Carolina Ignarra

5 min de leitura
Empreendedorismo
Saiba como transformar escassez em criatividade, ativar o potencial das pessoas e liderar mudanças com agilidade e desapego com 5 hacks práticos que ajudam empresas a inovar e crescer mesmo em tempos de incerteza.

Alexandre Waclawovsky

4 min de leitura
ESG
Para 70% das empresas brasileiras, o maior desafio na comunicação interna é engajar gestores a serem comunicadores dentro das equipes

Nayara Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
A liderança C-Level como pilar estratégico: a importância do desenvolvimento contínuo para o sucesso organizacional e a evolução da empresa.

Valéria Pimenta

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.

Valeria Oliveira

6 min de leitura
Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura