Diversidade, ESG
8 min de leitura

A nova abordagem corporativa à diversidade e inclusão: um retrocesso ou evolução necessária?

Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes
Diretor Financeiro (CFO) e membro certificado do Conselho de Administração (CCA-IBGC | CFO-BR IBEF) com mais de 30 anos de experiência progressiva transformando finanças em estratégia, governança e criação de valor a longo prazo. Construiu a sua carreira em empresas multinacionais e familiares em setores altamente regulamentados, incluindo farmacêutico, saúde e manufatura, liderando as áreas de Finanças, Planejamento e Análise Financeira (FP&A), Tributário, TI e Governança Corporativa. Liderou transformação financeira de empresas e sua agenda de crescimento orgânico e inorgânico, supervisionando a governança de CAPEX, a preparação para fusões e aquisições (M&A) e as iniciativas digitais para fortalecer a competitividade a longo prazo. Liderou operações financeiras e o FP&A para diversas unidades de negócios, garantindo incentivos fiscais significativos (SUDENE, Lei

Compartilhar:

Diversidade de trabalho e maneiras

Nos últimos anos, Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) se consolidaram como prioridades nas estratégias das grandes corporações. Empresas em todo o mundo abraçaram essa agenda, impulsionadas não apenas pela necessidade de justiça social, mas também pela clara vantagem competitiva que um ambiente diverso e inclusivo traz em termos de inovação, criatividade e atração de talentos. 

Contudo, mais recentemente, observamos uma reviravolta: algumas organizações globais estão desmantelando ou reavaliando suas áreas e estratégias de DEI, enquanto outras, apenas agora, começam a reconhecer a importância dessas práticas.

A Toyota foi um caso recente.  A empresa anunciou que não renovará o patrocínio do Comitê Olímpico Internacional (COI), e que também que descarta políticas de diversity, equity, and inclusion ou diversidade, equidade e inclusão (DEI).

Esse movimento suscita perguntas complexas: estamos assistindo a um retrocesso em relação aos avanços sociais nas corporações, ou a uma recalibração necessária que pode, eventualmente, fortalecer o compromisso com a inclusão de maneira mais genuína? A resposta para essa questão está longe de ser simples, mas exige uma análise profunda sobre o que está realmente em jogo.

Primeiro, precisamos entender que parte da mudança de postura das organizações pode ser explicada pela crescente pressão econômica que muitas delas enfrentam. Com a intensificação da competitividade global, as empresas são obrigadas a cortar custos e maximizar a eficiência operacional. 

Dentro desse contexto, iniciativas de DEI, que muitas vezes envolvem investimentos significativos em treinamento, recrutamento especializado e reformulação de políticas internas, podem ser vistas como áreas passíveis de corte, especialmente quando seus benefícios não são imediatamente visíveis no balanço financeiro.

No entanto, esse tipo de pensamento revela uma compreensão limitada da verdadeira função da diversidade. Embora seus impactos possam ser mais difíceis de mensurar a curto prazo, a diversidade e inclusão estão diretamente ligadas à capacidade de uma organização de inovar e de se adaptar às rápidas transformações do mercado. 

Uma força de trabalho diversificada, com múltiplas perspectivas, é capaz de enxergar soluções que uma equipe homogênea provavelmente ignoraria. Ao enxugar ou desmantelar áreas de DEI, as empresas podem estar comprometendo seu potencial futuro de inovação, o que, a longo prazo, pode se traduzir em perda de competitividade.

A recalibração de expectativas

É importante reconhecer que, para algumas corporações, o impulso inicial para criar áreas dedicadas à diversidade e inclusão foi motivado mais por pressões externas do que por um compromisso genuíno. No entanto, uma pesquisa da Infojobs, HR Tech, realizada em junho de 2024, mostrou que para 59% dos profissionais, a diversidade e inclusão (DEI) nas empresas fica apenas no discurso de marketing. 

Em muitos casos, iniciativas de DEI foram adotadas de forma apressada, como uma resposta imediata às expectativas do mercado e da sociedade. Agora, o que estamos vendo pode ser uma reavaliação dessas práticas para garantir que elas estejam realmente alinhadas com a cultura e os objetivos de cada organização.

Essa transição, embora possa ser vista como um retrocesso à primeira vista, também pode ser uma oportunidade de avanço. Ao abandonar programas superficiais e iniciativas de fachada, as empresas têm a chance de reestruturar suas abordagens para que sejam mais autênticas e coerentes com seus valores. 

Diversidade e inclusão não podem ser impostas de maneira artificial, elas precisam ser uma parte integrante e natural da identidade organizacional. Portanto, a recente reavaliação das áreas de DEI pode, paradoxalmente, abrir caminho para práticas mais profundas, genuínas e duradouras.

A verdadeira questão agora é: para onde vamos a partir daqui? O mundo corporativo está em constante transformação e o que estamos testemunhando pode ser parte de um processo natural de evolução. As empresas que antes se comprometeram de forma superficial com a diversidade podem estar buscando uma abordagem mais estratégica e enraizada em seus valores. E aquelas que ainda não haviam se movido nessa direção estão, finalmente, começando a reconhecer que o caminho para o sucesso a longo prazo passa, inevitavelmente, pela inclusão.

O futuro da DEI nas corporações dependerá, em grande parte, de uma conscientização mais profunda sobre o que está em jogo. Não se trata apenas de “fazer o certo” no sentido ético, mas de preparar as empresas para um mundo cada vez mais diverso e conectado. 

Compartilhar:

Artigos relacionados

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)