Gestão de Pessoas

A nova definição de felicidade no escritório

É função da empresa cuidar da saúde mental de seus funcionários. E só existem vantagens nisso
Wellington Silvério é diretor de RH para América Latina na John Deere. Psicólogo, pós-graduado em RH, possui MBA em gestão de negócios e especialização em gestão do comportamento. É mestre em psicologia social com foco em bem-estar no trabalho.

Compartilhar:

As pessoas hoje esperam que as empresas se preocupem com a saúde emocional dos seus colaboradores. Acreditam que elas devam oferecer segurança psicológica e conscientizar seus membros sobre a necessidade de se cuidar de modo integral, corpo e mente.

Recentemente, um [estudo da Global Learner Survey](https://plc.pearson.com/en-US/insights/pearson-global-learner-survey), desenvolvido pela Pearson, apontou que 71% dos brasileiros entrevistados acham que as empresas deveriam oferecer serviços gratuitos de saúde mental aos funcionários. Outra pesquisa, realizada pela [Associação Integrante da International Stress Management Association (Isma-BR)](http://www.ismabrasil.com.br/), mostra que 72% das pessoas que estão no mercado de trabalho têm alguma sequela do estresse e, desse total, 32% sofrem de burnout. Isso mostra como o fator psicológico é relevante para as organizações, que são responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção de um ambiente de trabalho adequado.

Essa foi uma das grandes transformações dos últimos tempos: a abertura para expor e falar sobre questões emocionais e psicológicas. Aceitamos que somos seres vulneráveis, que temos necessidades.

Após muitos anos, foi preciso reconhecer que o rendimento e as entregas não dependem somente do esforço incessante em cima de determinada tarefa ou desafio. Qualidade de vida e uma mente saudável trazem resultados impressionantes.

Com isso, cada vez mais, as instituições deixaram de se preocupar apenas com a entrega dos seus funcionários e passaram a ter um olhar mais humano e integrador. Essa transição relembrou a organização sobre seu papel social, da sua missão de desenvolver sociedades e potencializar relações. Existe, e precisa existir, felicidade e propósito no ambiente profissional.

A pandemia deixou um legado de transformações que alteraram o nosso dia a dia, e todas essas mudanças causaram certos desequilíbrios psicológicos. Ter que lidar com o misto de sentimentos entre a qualidade de vida, o âmbito profissional, a preocupação com o financeiro e os modelos de trabalho que hoje se revezam entre a nossa casa e o escritório resultam em dilemas emocionais. A ansiedade tem sido muito pautada.

Passamos por situações totalmente alheias ao cotidiano a que estávamos acostumados. A crise sanitária que ainda vivemos gerou grande insegurança e trouxe o sentimento de medo, que não precisa estar constantemente associado a algo negativo.

A verdade é que ele tem três funções imensamente importantes. O medo é preparatório, pedagógico e impulsionador. Nos faz reinventar e pensar fora da nossa habitual caixa.

Voltar para as nossas atividades nos fez reconhecer o outro e a nós mesmos. Tivemos a oportunidade de nos reconectar. Revimos conceitos seguidos por anos. Entre eles a concepção de felicidade, termo que antes era atrelado ao sucesso profissional e financeiro.

Pessoas moldavam suas vidas em torno de um propósito monetário e de um status. Agora elas estão revendo o significado de felicidade, seus propósitos e como tudo isso se reflete em seus objetivos. Diante dessa situação, se faz necessária a conscientização em todos os níveis dentro das organizações sobre a importância de um ambiente que proporcione apoio e conforto psicológico. É preciso buscar rotinas e modelos de trabalho que não considerem os limites psicoemocionais de cada um e que promovam discussões dentro da empresa sobre a importância da saúde mental.

Em nossa empresa, tem sido muito gratificante discutir e trabalhar em função da segurança psicológica do nosso time. Hoje, a John Deere oferece em todas as suas unidades da América Latina apoio emocional por meio do trabalho de psicólogas e psicólogos. O objetivo é promover acolhimento à equipe com a realização de rodas de conversa, conscientização e treinamentos.

Aqueles que sentirem necessidade podem agendar um horário reservado com o profissional. Se for preciso, é realizado o encaminhamento para a psicoterapia com o apoio da empresa.

Para alcançar de vez essa transformação dentro das organizações é necessário que as iniciativas sejam promovidas em todos os setores, e que cada integrante do time colabore. É preciso que todos parem para ouvir e sejam ouvidos. Um ambiente saudável é o caminho para a felicidade no trabalho e a chave para o crescimento do negócio.

Nós estamos buscando mudanças e vamos nos transformar sempre que for preciso. Resultados já são visíveis. Todas as pessoas que passaram pelo processo até aqui mostraram melhor rendimento após se sentirem acolhidas.

Escolham ambientes mais acolhedores. Considerem a pluralidade existente em suas organizações e tudo de bom que vem com ela.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura