Não chego a cobrir de “x” as paredes de casa para acompanhar o passar do tempo, como a gente costumar ver nos filmes, mas digamos que me sinto meio fantasma, sim, arrastando correntes, neste nosso período de distanciamento social.
Você por acaso assistiu a Goundhog Day (O Feitiço do Tempo, 1993)? Se a resposta for ‘não’, deixa assim. Nada de relevante. Mostra o ator Bill Murray no papel de Phil, um arrogante repórter de TV que é condenado a reviver o mesmo dia, num looping sem fim, até que mude seu comportamento.
Algo familiar ao experimento coletivo atual?
A verdade é que, amigos, estou pela bola sete com isso tudo, me sinto andando no fio da navalha, e conto para vocês alguns dos efeitos da pandemia no meu cotidiano.
#efeitodapandemia1 – Trava criativa
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Costumo entregar meus artigos para o blog com bastante antecedência. Não foi o caso deste. Chamei a Gabi, nossa editora, e comentei: acho que estou com writer´s block. Logo eu, que pensava que isso era coisa de escritor famoso.
A Gabi, compreensiva, recomendou que eu assistisse ao TED Talk sobre criatividade da Elisabeth Gilbert, autora do best-seller ´Comer, Rezar, Amar´. Não contei à minha editora, mas, inicialmente, o efeito foi zero. Mais do que isso: o bloqueio até pareceu rir da minha tentativa de me livrar dele.
#efeitodapandemia2 – Alucinações
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Dois dias depois de assistir ao TED, sentado em frente ao computador, ouço a voz da minha editora: `Escreve qualquer p@$#a! Você está atrasado!` – algo que ela nunca faria, comigo ou com os outros colunistas da revista.
Imediatamente, vejo que era hora de calçar os tênis e sair para oxigenar o cérebro. Durante a corrida, revivo o processo criativo da poetisa Ruth Stone, cuja descrição havia me divertido no TED.
Stone dizia que, por diversas vezes, trabalhando no campo, sentia um poema vindo na sua direção. Do nada. Da paisagem. Aconteceu comigo nessa corrida. Dei meia volta. O artigo começava a se materializar na minha cabeça. Cadê papel e lápis, laptop, smartphone? Onde está o anywhere office na hora em que a gente mais precisa?
#efeitodapandemia3 – Sonhos bizarros
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Não costumo lembrar dos meus sonhos, mas neste eu estava fazendo uma videoconferência com… Churchill. Ele estava em um pub inglês (lógico), com um Romeo e Julieta em uma das mãos (lógico 2) e um malte ao alcance da outra (lógico 3).
´Marcelo, my dear boy, never let a good crisis go to waste´.
No que eu respondo, ´My dear sir, with all due respect, vá plantar batatas!´
Não bastasse um ‘Sir’ me dando conselhos, invadiram o meu mundo toda sorte de neo-especialistas, influenciadores digitais e gurus de palco na tentativa de me enfiar goela abaixo a receita de sucesso para navegar a pandemia: aprenda algo novo; faça o meu curso grátis; seja um líder transformador; assista ao meu webinário; nosso MBA ou congresso anual agora é online; ajude seus filhos a fazer o dever de casa; faça atividades físicas; medite; coma direito; empreenda; ganhe dinheiro…
#efeitopandemia4 – Adeus FOMO
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Será que essa gente sabe que eu sofro de #fomo (fear of missing out)? Aliás, sofria. Também me curei de alguns TOCs.
### #chega #emojitapanatesta ♂️
E admito: fui parte desse frenesi! Escrevi um livro digital, fiz webinários, Lives, podcasts, treinamentos EAD, criei a versão online do meu workshop, lancei uma websérie…
Assisti a tantos webinários, mas tantos, que já não me lembro das fontes. Um estudo da McKinsey (ou seria de Harvard? Qualquer que seja, sempre impressiona bastante citar essas instituições em artigos) afirma que apenas 15% das empresas saem melhor de uma crise sistêmica.
Assumo como verdade que um baixo número de profissionais se reinventará. Sinceramente, não sei de que lado quero estar. Estou ocupado tentando me manter vivo, são e saudável. Só sei que nada sei. #tmj Sócrates
Não gosto de jargões, clichês e frases feitas. Afinal, o que é ´normalidade´? Por isso, implico com a expressão ´novo normal´. Quando você estiver se acostumando ao tal normal de plantão, pode esperar: o mundo vai dar um cavalo de pau e arremessar você pra longe. No colo do recém-novo, pós-novo…
Vejo dois cenários futuros: tudo diferente ou tudo igual (que decepção seria, neste último caso!) Ainda não estou certo da probabilidade maior de cada um. Considero até que haja um terceiro correndo por fora, um mix, Who knows?
#efeitopandemia5 – you name it
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Um texto padrão é composto por introdução, desenvolvimento e conclusão. Como não estamos em tempos padrões, fico devendo a conclusão deste artigo. Deixo, leitor, por sua própria conta e risco.
Saudações sabaticosas.