É cada vez mais difícil encontrar alguma empresa que não esteja em busca de alguma evolução ou transformação do seu modelo de negócio, o que significa que o intraempreendedorismo está sendo amplamente ativado e praticado, certo? Infelizmente, errado. É por isso que não escutamos mais histórias e exemplos de disrupções e inovações advindas das empresas já estabelecidas, mas admiramos novas organizações e startups criando e inovando o tempo todo.
Outro dia, escutei um relato frustrado de um alto executivo de vendas que trabalha em uma empresa multinacional. Ele falava sobre não saber o que fazer para [ativar o intraempreendedorismo em sua organização](https://www.revistahsm.com.br/post/intraempreender-e-ir-ale-m-da-palavra-bonita).
Segundo ele, não era por falta de oferecer autonomia e espaço à sua equipe, que seguia em uma zona de conforto, evitando tomar riscos, preferindo fazer as coisas sempre da maneira mais segura.
A fala me provocou uma reflexão. Culturalmente, as empresas tradicionais têm uma mentalidade de aversão ao risco, oriunda da era industrial, onde a máxima eficiência, controles e escala eram imperativos.
Nesse pensamento, falhas e erros significam desperdício de tempo e recursos, além de risco potencial à estabilidade e preservação dos negócios. Portanto, falhas e erros eram considerados nocivos ao sistema organizacional e quem fosse pego fora desse padrão corria um grande risco de perder o emprego.
## Novas práticas para novos tempos
No passado previsível e de economia estável, essa maneira de pensar fazia sentido, com processos, controles e políticas, que asseguravam estabilidade e grandes movimentos planejados dos negócios.
No entanto, estamos em uma nova era onde a sociedade, a economia e o mercado estão em constante transformação, desordenados, pouco previsíveis e com uma abundância de opções, recursos e tecnologias nunca experimentados.
Novos tempos que demandam novas práticas culturais e de liderança, mas que ainda esbarram numa “memória muscular” de como as organizações foram construídas e prosperaram até aqui, baseadas na busca de previsibilidade e aversão ao risco.
Comentei sobre um CEO de uma grande multinacional, que recentemente, numa de suas reuniões mensais com sua equipe direta, fez a seguinte pergunta: “Gostaria que alguém compartilhasse comigo e com o grupo alguma falha cometida desde nossa última reunião.”
Fez-se um silêncio na sala. Era possível ouvir a respiração tensa da equipe. Todos se entre olhavam, já na expectativa de que algo ruim havia acontecido.
O CEO, notando o clima tenso e de medo instalado no ambiente, tomou a palavra: “Estava refletindo hoje a caminho da nossa reunião sobre uma falha de julgamento que cometi ao não aprovar a liberação financeira para o início de determinado projeto, por não ter todos os dados e informações, o que nos fez perder um tempo precioso e comprometer uma receita potencial e incremental, que talvez faça falta para o último trimestre do ano”.
Na sequência, ele explicou a equipe que havia declarado sua falha por duas razões: __(1)__ queria criar um ambiente de segurança e confiança entre a equipe para que as falhas e os desconfortos pudessem ser compartilhados, sem medo de represálias; __(2)__ e se sua equipe não havia cometido nenhuma falha, isso significava, que não haviam tentado fazer nada diferente, naquele período; ou seja, a empresa estava em uma inércia perigosa ao ambiente cada vez mais competitivo dos negócios.
Esse exemplo, acredite, é real e aconteceu numa grande multinacional de tecnologia do segmento B2B.
## Ativar o lado vulnerável
Intraempreender ou inovar não significa anarquia, ignorando políticas e processos, mas sim saber lidar com os desconfortos de algo novo e desconhecido.
Significa também flexibilizar e estar mais aberto ao novo e às falhas, na sua busca, que passam a ser encaradas como aprendizados e servem para recalibrar os processos e forma de atuar da organização, agora em movimento e em cultura de aprendizado contínuo. [Assim agem as startups que tanto admiramos](https://www.revistahsm.com.br/post/aprendendo-no-desconforto-4-aprendizados-de-trocar-uma-multinacional-por-uma).
Ao executivo que compartilhou sua frustração, recomendei ativar seu lado vulnerável, como o CEO que havia comentado. Além disso, em nossa conversa, complementei dizendo que eu também havia exercitado essa mesma vulnerabilidade com a minha equipe, e que fiquei impressionado com a potência e senso de autonomia decorrente dessa iniciativa.
E você, tem um bom exemplo de intraempreendedorismo? Compartilhe e vamos juntos expandir o lado i.
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