Vale Ocidental

A Prop 22 e seus impactos

No mesmo dia das eleições majoritárias norte--americanas, população da califórnia manteve independentes os motoristas de aplicativos
__Ellen Kiss__ é empreendedora e consultora de inovação especializada em design thinking e transformação digital, com larga experiência no setor financeiro. Em agosto de 2022. após um período sabático, assumiu o posto de diretora do centro de excelência em design do Nubank.

Compartilhar:

Além do próximo presidente dos Estados Unidos, as últimas eleições norte-americanas, em novembro, definiram um importante capítulo para o futuro das empresas da nova economia do país, as “gig economy firms”. Os eleitores da Califórnia decidiram no dia 3 que Uber e Lyft não precisam seguir a lei trabalhista estadual. Assim, os motoristas continuam atuando como contratados independentes.

Essa é uma longa discussão, que se intensificou duas semanas antes da eleição, quando um tribunal da Califórnia obrigou Uber e Lyft a reclassificar seus motoristas como funcionários no estado a partir de janeiro próximo.
A contratação desses motoristas representaria uma mudança radical para as empresas gig, que se expandiram a partir da construção de enormes frotas de trabalhadores independentes, sem direito a salário mínimo, horas extras, licença médica remunerada e seguro-desemprego, que é o que a lei trabalhista californiana oferece.

Mesmo com os grandes investimentos que empresas como Uber e Lyft tiveram nos últimos anos, e suas avaliações multibilionárias no mercado de ações, nenhuma delas alcançou a lucratividade. Uma mudança nas relações trabalhistas seria mais um obstáculo nesse sentido.

Assim, uma coalisão formada por empresas da nova economia, incluindo Instacart, DoorDash, Lyft, Uber e Postmates, apresentou a Proposition 22, mais especificamente chamada de App-Based Drivers as Contractors and Labor Policies Initiative (Iniciativa para motoristas baseados em aplicativos como contratados e políticas trabalhistas). A medida cria um regime especial de trabalho para os motoristas de aplicativo, que perdem o direito aos benefícios gerais, mas ganham benefícios específicos, como seguro contra acidentes de trabalho e seguro-saúde para motoristas que trabalham pelo menos 15 horas por semana. Além disso, a Prop 22, como vêm sendo chamada, também promete “rendimentos mínimos garantidos” de 120% do salário mínimo da Califórnia, aplicados em relação ao tempo do motorista engajado no aplicativo, o que em geral é cerca de 30% dos turnos dos trabalhadores contratados.

A campanha da Prop 22 foi a maior da história, e custou US$ 184 milhões em propaganda às empresas, mostrando a importância dessa decisão para o futuro não só das duas empresas, mas dos negócios da nova economia como um todo. Nos Estados Unidos, qualquer cidadão pode propor um plebiscito, e as empresas investiram pesado contra quem protestava pelos direitos dos motoristas. Novamente, o grande impasse entre a inovação, com flexibilidade e modelos fluidos, e o tradicional, com suas estruturas rígidas.

A Califórnia é o berço das gig economy firms e, se Uber e Lyft vencerem aqui, podem ganhar em outros estados. O resultado também deve influenciar outros aplicativos que utilizam modelos de negócio similares, não só nos EUA, mas em outros países onde essas empresas atuam, como o Brasil.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura
ESG
Resgatar nossas bases pode ser a resposta para enfrentar esta epidemia

Lilian Cruz

5 min de leitura
Liderança
Como a promessa de autonomia virou um sistema de controle digital – e o que podemos fazer para resgatar a confiança no ambiente híbrido.

Átila Persici

0 min de leitura
Liderança
Rússia vs. Ucrânia, empresas globais fracassando, conflitos pessoais: o que têm em comum? Narrativas não questionadas. A chave para paz e negócios está em ressignificar as histórias que guiam nações, organizações e pessoas

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Empreendedorismo
Macro ou micro reducionismo? O verdadeiro desafio das organizações está em equilibrar análise sistêmica e ação concreta – nem tudo se explica só pela cultura da empresa ou por comportamentos individuais

Manoel Pimentel

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura