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A revolução dos recursos

Avanços tecnológicos poderão propiciar aos gestores enfrentar os desafios impostos pelas metas elevadas de produtividade e liderar a próxima revolução industrial, afirma estudo McKinsey & Co.

Stefan Heck e Matt Rogers

O estudo é de Stefan Heck e Matt Rogers, respectivamente professor-consultor do Precourt Institute for...

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A maior parte dos automóveis nos estados unidos é ineficiente: permanece 95% do tempo estacionada e, quando circula, leva menos de duas pessoas. As estradas desse país também são ineficientes: a maioria alcança o pico de uso (ou seja, mais carros por faixa por hora) apenas uma vez ao dia, em um único sentido. Quando o assunto são os serviços públicos, a ineficiência também é enorme. 

A qualquer hora que se escolha medir, só 20% a 40% da capacidade de transmissão e distribuição de energia e 40% da capacidade das usinas geradoras estarão em uso nos EUA. Esses e outros casos de ineficiência crônica não têm as soluções comuns, como a engenharia financeira ou a contratação de mão de obra mais barata de outros países. É necessário produzir e usar os chamados “recursos” de uma sociedade –carros, estradas, energia etc.– de modo mais criativo e eficiente. Isso é tão urgente que a economia mundial pode estar prestes a ser revolucionada por uma série de negócios novos com potencial de trilhões de dólares em lucros.

A economia já assistiu a duas revoluções anteriores, industriais, uma voltada para o trabalho e a outra para o capital. Mas o terceiro fator sugerido por Adam Smith em A Riqueza das Nações, em 1776, “recursos” [o que no século 18 era “terra” para Smith expandiu-se para “recursos”], ainda está por liderar uma revolução. Advogamos que: 

•  É preciso incrementar substancialmente a produtividade, combinando tecnologia da informação (TI) com ciência de materiais em nanoescala, biologia e tecnologia industrial. 

•  Deve-se alcançar crescimento com alta produtividade no mundo em desenvolvimento, para apoiar os 2,5 bilhões de novos membros da classe média, o que é a maior oportunidade de criação de riqueza em cem anos. 

•  O aproveitamento dessa oportunidade requer novas abordagens de gestão, porque, em vez de buscar os tradicionais 2% de aumento anual em produtividade de recursos, os líderes terão de entregar ganhos de cerca de 50% a cada poucos anos [na figura abaixo, veja o aumento projetado já para o futuro próximo]. O eixo da terceira revolução industrial tende a ser o ganho de produtividade de recursos, e este artigo destaca modos de consegui-lo.

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/f7c66b74-d962-46d5-bdd6-bb09f98b5804.jpeg)

**ABORDAGENS  JÁ TESTADAS**

Empresas como Tesla Motors, Zipcar, C3 Energy, SolarCity, Creek Foods e Nest Labs, todas norte-americanas, já vêm lançando mão de diferentes abordagens voltadas para o aumento da produtividade dos recursos. Assim, aumentam seu potencial de derrubar concorrentes tradicionais e de criar modelos de negócio inimagináveis [veja quadro na página ao lado]. Exploramos, a seguir, três dessas abordagens: substituição, otimização e virtualização.

**Substituição de recursos**

Nesse caso, materiais escassos, inadequados e caros são substituídos por outros mais baratos. O princípio básico aqui é analisar cada recurso utilizado pela empresa em seus produtos principais e cada recurso que os clientes usam ou consomem e, então, procurar materiais de melhor desempenho e mais baratos, menos arriscados ou menos escassos, que possam ser seus substitutos. E não basta que sejam mais baratos; devem proporcionar à empresa um desempenho superior como um todo. Por exemplo, as fibras de carbono não só são econômicas por serem mais leves, mas também viabilizam carros (ou aviões) mais silenciosos, eficientes, confortáveis e bonitos. Outro exemplo, mais novo, é o vidro que é programado para capturar a luz do sol no inverno e bloquear o sol em dias quentes, reduzindo a necessidade de usar aquecedor ou ar-condicionado em determinado ambiente.

**Otimização de recursos**

Essa abordagem diz respeito a incorporar software em equipamentos de indústrias com uso intensivo de recursos para aperfeiçoar radicalmente o modo como produzem e fazem uso de recursos escassos. Além do software, a otimização pode vir com o fornecimento de equipamentos como serviços. A General Electric (GE) serve de ilustração dessa abordagem. Ela equipa seus motores com softwares avançados e sensores que fornecem dados em tempo real sobre a manutenção [veja reportagem na página 94]. Com tais motores, as aeronaves transmitem sua necessidade de peças e serviços antes mesmo que aterrissem. Como a GE cobra pela manutenção por hora de voo, antecipar e dinamizar as atividades de manutenção é crucial para a produtividade de um negócio. Por sua vez, a Komatsu, fabricante de máquinas industriais, permite que seus clientes as aluguem uns dos outros, evitando que fiquem ociosas. 

E a UPS reduziu o consumo de combustível e aperfeiçoou a segurança e a velocidade ao reorganizar a rota de seus caminhões a fim de evitar conversões à esquerda. Para otimizar recursos, as perguntas-guia devem ser: que ativos caros podem incorporar softwares e sensores? Que peças são usadas apenas por uma pequena parcela do tempo? Qual equipamento que consome muita energia permanece ativo sem realizar função? 

**Virtualização de recursos**

Nessa abordagem, os processos saem do mundo físico –e alguns deixam de existir, pois são automatizados. Para as empresas, é duro adotar a virtualização, porque ela pode implicar menos vendas geradas. Por exemplo, as montadoras de automóveis não querem que as pessoas dirijam menos, mas é algo que está acontecendo no mundo desenvolvido. Um dos fatores que contribuem para tanto é o fato de as pessoas estarem fazendo virtualmente coisas que antes exigiam locomoção, como compras. Também o trabalho está se tornando mais virtual; as pessoas usam mais os meios online para se conectar produtivamente, sem precisar de um escritório físico. 

A Nest Labs, startup comprada pelo Google, dá uma pista do que é possível. Ela criou uma plataforma digital que fornece energia dinamicamente, conforme o consumo, assim como serviços de segurança (e, um dia, poderá fornecer entretenimento, serviços de saúde etc. da mesma forma). Anos atrás, um despertador virtual seria impensável. O que está por vir? Chaves e dinheiro desaparecerão também? Drones [como os que estão em teste pela Amazon] realizarão todas as entregas? O supercomputador Watson, da IBM, e outros sistemas especializados darão os alertas de manutenção dos ambientes industriais?

**DIFICULDADE INICIAL E TRÊS INICIATIVAS PARA AS EMPRESAS**

Extrair o melhor de qualquer uma dessas abordagens representa enorme mudança na maneira de as companhias operarem. Para grande parte delas, a maior dificuldade inicial será integrar sistemas –como incorporar softwares em equipamentos industriais. A necessidade de integração de sistemas não é novidade, mas a maioria das empresas não é boa em gerir um ecossistema dinâmico. Há três iniciativas que as companhias podem tomar hoje e que aumentarão sua probabilidade de sucesso para elevar a produtividade dos recursos:

**1. Reconhecer o escopo.** 

 Perceber que muitas variáveis interagem simultaneamente é uma vantagem inicial para qualquer empresa. O setor de distribuição de energia dos Estados Unidos é instrutivo. A matriz energética do país envelheceu –o circuito médio tem 40 anos– e tornou-se menos confiável e mais onerosa e arriscada. Será necessária uma adaptação ao panorama contemporâneo da energia, que prevê energia elétrica gerada em cada casa, em painéis solares colocados nos telhados, e as empresas precisam descobrir como integrar essa energia caseira ao sistema. A energia dos carros elétricos é outra variável importante. Em tempo real, terão de ser integradas não apenas as atividades da distribuidora de energia, mas também as dos postos de serviços relacionados. Isso requer lidar com uma massa muito maior de dados, o “big data”. A rede elétrica terá de ser recriada.

> **Negócios do AMANHÃ**
> _Quem poderá entregar melhorias drásticas  em produtividade de recursos?_
>
> **• Extratora máxima de petróleo:** por meio de sensores, extrairá  de 60% a 70% do petróleo em cada ponto, quando a marca tradicional  é de 20% a 30%, utilizando redes de sensores e novas técnicas operacionais. 
>
> **• Produtora global de alimentos orgânicos:** uma organização global integrada produzirá alimentos de alta qualidade localmente, usando um décimo da água e energia dos métodos hoje disponíveis. 
>
> **• Plataforma de serviços aos cidadãos:** uma empresa oferecerá plataforma de tecnologia padronizada aos governos, que lhes permitirá entregar serviços personalizados a baixo custo, como emissão de documentos, apoio a planos de aposentadoria e até treinamentos. 
>
> **• Distribuidora de estrutura básica portátil:** com contêineres, fará chegar, a populações menos favorecidas, energia solar, telefonia, carregamento de bateria de telefones celulares, internet, purificação de água.

**2. Ampliar a capacidade de análise da linha de frente.**

As pessoas da linha de frente das operações industriais precisarão aprender a usar grande volume de dados e adquirir competências do trabalhador do conhecimento. Para isso, terão de ser educadas. É o caso das equipes de detecção de vazamento de gás, que deverão tomar decisões sofisticadas com base em análises avançadas, aproveitando a tecnologia para encontrar e consertar vazamentos, em vez de caminhar com uma varinha de localização de água.

**3. Realizar modelagem e testes.**

Com sistemas tão complexos, os testes serão a única maneira de saber se um processo dá certo, mas podem ser realizados por meio de modelos. Quando a ATMI,  empresa de tecnologia de materiais, procurava um modo melhor de extrair ouro do lixo de eletrônicos do que o método do banho de ácidos tóxicos, recorreu à modelagem para combinar químicos. O processo que disso resultou utiliza uma solução à base de água que é segura até para beber e muito mais barata do que métodos tradicionais. 

**OPORTUNIDADE  DO SÉCULO**

A revolução dos recursos representa a maior oportunidade de negócios que vemos em cem anos, mas realmente exige mudanças de gestão radicais. E tão grande quanto a oportunidade é o risco de não fazer nada: apegar-se aos habituais 2% de melhoria anual de produtividade logo tornará seu negócio obsoleto.

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