Empreendedorismo

A sobrevivência das empresas familiares

Para sobreviver no mundo pós-pandemia, as corporações, em especial as de origem familiar, estão tendo de enfrentar o desafio de pensar fora da caixa como forma de garantir a perenidade do negócio
É sócio-proprietário da Cedar Tree Family Business Advisors e da Consilium Family Office Advisros. Graduado em gestão de recursos humanos e mestrado em consulting and coaching for change pela INSEAD Business School, na França, trabalhou por mais de 20 anos como executivo no conglomerado de empresas de sua família. Especialista em governança Familiar e no desenvolvimento da família empresária, cursou diversos programas como parceria para o desenvolvimento do acionista-PDA e desenvolvimento de conselheiros-PDC, pela Fundação Dom Cabral-FDC. É certificado internacionalmente em Family Business advisor pelo Family Firm Institute-FFI, de Boston (USA). É fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.

Compartilhar:

Aparentemente, o término da pandemia começa a aparecer no horizonte. Nesse contexto, as corporações, em especial as de origem familiar, estão se deparando com uma realidade bastante diferente em seus ambientes de negócios, regida por novas prioridades, novos hábitos de consumo e novas mentalidades. Enfim, por uma nova ordem, que chegou repentinamente.

As disrupções e as transformações que já vinham obrigando as corporações a partirem para a inovação ganharam intensidade, ampliando o grau de letalidade entre diversos segmentos da economia. Mudanças de hábitos bruscas e profundas, determinadas pela pandemia, como a própria obrigatoriedade de isolamento social, selaram o destino de muitos negócios.

Marcadas por culturas empresariais muitas vezes construídas por diferentes gerações, as empresas familiares se viram diante de um grande desafio: como equacionar um legado sedimentado na forma de profundo conhecimento dos negócios e mercados, bem como de reputações solidamente construídas, com a necessidade extrema de se aventurar e abrir novos caminhos?

## Rumo a uma nova ordem

Segundo os especialistas que se dedicam a estudar os movimentos que conduzem a humanidade ao longo de sua existência, as mudanças fazem parte de uma transição entre dois mundos, que têm como divisor a pandemia. Para eles, a humanidade está abandonando o [mundo VUCA](https://www.revistahsm.com.br/post/do-agil-ao-antifragil) e partindo para o mundo BANI.

Criado a partir das iniciais das palavras volatility, uncertainty, complexity e ambiguity, o termo VUCA explicita os traços principais dessa ordem que predominou desde os anos 1990. O termo foi utilizado inicialmente por militares para designar o cenário que surgiu após a queda do mundo de Berlim, que tornou as relações mais complexas.

O planeta em que vivemos não é mais o mesmo e está fazendo a transição para o mundo BANI, expressão criada pelo antropólogo, autor e futurista norte-americano Jamais Cascio a partir das iniciais de brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible. A fragilidade do termo tem como exemplo os próprios meses em que o mundo esteve sob a pandemia.

O BANI sintetiza ainda possibilidade de tudo mudar instantaneamente. A ansiedade, por exemplo, é fruto da expectativa permanente de mudanças. Por esse conceito, o mundo é não-linear, com tudo mudando ao mesmo tempo. O mundo também é incompreensível, numa referência, por exemplo, sobre a mudança de hábitos das pessoas o tempo todo, o que torna muitas vezes infrutífero o esforço das empresas em buscarem, com o auxílio de dados, as respostas para as suas inquietações.

A transição parece estar longe de [conduzir as empresas familiares](https://www.revistahsm.com.br/post/licoes-para-as-proximas-geracoes-das-empresas-familiares) a um porto seguro. As incertezas adicionais trazidas pelo cenário pós-pandêmico vêm sendo tratadas com a ajuda de um novo profissional: o futurista. Devido à habilidade em detectar tendências e antever movimentos futuros, cabe a esse profissional definir as estratégias das empresas.

## Fazendo a lição de casa

Como revelam pesquisas realizadas por diferentes consultorias, a maioria das empresas familiares soube fazer a lição de casa e responder aos desafios impostos pela pandemia. A inovação se transformou em pilar de sustentação de muitas companhias, assim como a digitalização também foi assimilada rapidamente, transformando-se em instrumento de sobrevivência para vários setores ao estabelecerem um canal seguro com a clientela.

As companhias familiares buscaram também modernizar sua governança. A profissionalização da alta gestão dos negócios familiares tem sido uma das práticas mais recorrentes nessa frente. As pesquisas têm mostrado que aumentou a predisposição das empresas de origem familiar a instituir conselhos de administração, por exemplo.

Os processos sucessórios passaram a ser geridos pela necessidade de colocar à frente das companhias jovens da geração millennials, mais familiarizados com as novas tecnologias, mais dispostos a adotar os novos modelos de negócios e mais abertos à necessidade de incrementar a governança das companhias. Assim, os millennials vêm ganhando espaços, dando fôlego novo com sua maior adaptabilidade ao desenvolvimento tecnológico. Eles pensam fora da caixa e são capazes de transformar as empresas familiares em organizações exponenciais.

A pandemia contribuiu ainda para que os grupos familiares se unissem na tentativa de entender esse novo momento. As companhias familiares mostraram alto nível de resiliência para enfrentar a crise. A Fundação Dom Cabral e a PwC Consultoria captaram essa resposta diferenciada, em pesquisa realizada com 282 companhias no Brasil, entre 2.600 ouvidas em vários países. Nas empresas familiares brasileiras o impacto foi menor em termos de lucratividade: 39% ante 51% na média global.

Esses números mostram que as empresas familiares brasileiras souberam incorporar questões que movem as transformações da sociedade, como a diversidade, e absorveram com rapidez o trabalho remoto, entre outras mudanças importantes. Nessa nova ordem mundial, a perenidade dos negócios familiares, e das organizações de modo geral, depende de agilidade e da capacidade de adaptação, habilidades que fazem parte da essência das companhias familiares.

*Gostou do artigo de estreia do Nelson Cury Filho como colunista digital da HSM Management? Confira conteúdos sobre gestão de empresas familiares assinando [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
5 de dezembro de 2025
Em um mundo exausto, emoção deixa de ser fragilidade e se torna vantagem competitiva: até 2027, lideranças que integram sensibilidade, análise e coragem serão as que sustentam confiança, inovação e resultados.

Lisia Prado - Consultora e sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Finanças
4 de dezembro de 2025

Antonio de Pádua Parente Filho - Diretor Jurídico, Compliance, Risco e Operações no Braza Bank S.A.

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
3 de dezembro de 2025
A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Gabriel Andrade - Aluno da Anhembi Morumbi e integrante do LAB Jornalismo e Fernanda Iarossi - Professora da Universidade Anhembi Morumbi e Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
2 de dezembro de 2025
Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.

Diego Nogare - Executive Consultant in AI & ML

4 minutos min de leitura
Estratégia
1º de dezembro de 2025
Em ambientes complexos, planos lineares não bastam. O Estuarine Mapping propõe uma abordagem adaptativa para avaliar a viabilidade de mudanças, substituindo o “wishful thinking” por estratégias ancoradas em energia, tempo e contexto.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

10 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
29 de novembro de 2025
Por trás das negociações brilhantes e decisões estratégicas, Suits revela algo essencial: liderança é feita de pessoas - com virtudes, vulnerabilidades e escolhas que moldam não só organizações, mas relações de confiança.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança