Se nas mais estáveis corporações montar uma pequena equipe já é um processo arriscado, por conta de choques de personalidade e visões conflitantes, imagine em uma startup. Quando a empresa inteira se resume a essa equipe, uma única contratação equivocada pode colocar a casa abaixo.
Lindred Leura Greer, professora de comportamento organizacional da escola de negócios de Stanford, pesquisa e ensina a arte de formar equipes há 12 anos, com foco crescente nas empresas iniciantes e muita experiência prática. Suas principais lições são apresentadas a seguir, organizadas em tópicos.
**PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE STARTUPS E EMPRESAS MADURAS**
“Primeiro, há a intensidade das interações. Se você faz parte de um time de projeto em uma grande companhia, não está exatamente ‘casado’ com seus colegas. Mas, se você está iniciando um novo negócio, escolhendo parceiros, contratando os primeiros funcionários, esse será um dos mais intensos relacionamentos que terá em todo a sua vida. É algo bem parecido com o casamento.
Nas startups, além disso, há pouco espaço para erros. A contratação é quase uma situação de vida ou morte ali. Questões relacionadas com poder e justiça têm maior repercussão nas startups também, porque a vida de todos está, muito provavelmente, intimamente ligada ao negócio. Com tanto em jogo, mesmo pequenos obstáculos podem ser difíceis de superar.”
**DIFERENÇAS DE MATURIDADE NA HORA DE CONTRATAR**
“Logo nas primeiras etapas de contratação, é fundamental assegurar que a pessoa que contrata e a equipe de fundadores possuam uma visão alinhada, para que fique claro quem se encaixa, ou não, na cultura da empresa. Um dos aspectos que realmente podem prejudicar uma equipe em seu período inicial é a inclusão de uma pessoa errada, sem que se saiba como dispensá-la depois.
Pode ser como um grande acidente de trânsito, principalmente se houver questões de equidade envolvidas. Lembre que talvez você não conte com o apoio de um time de recursos humanos e terá de fazer isso sozinho, sem ter sido treinado para a tarefa.”
**“TIME DOS SONHOS”**
“Certamente, você não quer depender dos profissionais que aparecerem, mas ser ativo nessa busca. Essa é uma de minhas principais recomendações: seja ativo em relação às pessoas, assim como é em relação a seu produto. Ser ativo implica olhar tudo.
Faça uma lista de suas competências. Em que você é melhor? Qual o conjunto de habilidades de outras pessoas de que você precisa? E, igualmente importante, que valores em comum você busca?
Valores são coisas que calam fundo em seu coração, das quais você não está disposto a abrir mão em uma situação de conflito. O melhor sistema de valores de uma startup está diretamente ligado ao produto dela.
Uma empresa que conheci, especializada em impressoras 3D, tinha o seguinte sistema de valores: ‘Amamos construir coisas e compartilhar o que construímos’. Ou seja, os valores eram a paixão por construir coisas e um senso comunitário.
Você deve se perguntar: ‘Estou nisso apenas por mim mesmo, para ganhar meu primeiro milhão, ou para transformar o mundo em um lugar melhor?’. Essa é uma decisão relevante, porque a resposta pode se converter em um valor central, e você vai querer pessoas alinhadas com esse valor, estimuladas pela missão da empresa, seja ela ‘fazer as famílias felizes’, como a da Disney, ou ‘ser competitiva’, como a da Adidas.”
**FILTROS PREFERIDOS**
“Sugiro ao gestor da startup aplicar primeiro um filtro de habilidades, selecionar cinco candidatos e, então, filtrá-los com base nos valores da empresa. É mais fácil assim; para as habilidades, ele pode usar os currículos. Na entrevista é que se pensa em valores e cultura. É a hora de responder a perguntas como ‘Essa pessoa vai ser feliz aqui?’ e ‘Essa pessoa vai combinar com a gente?’.
Você pode acabar contratando alguém que não seja o mais talentoso, mas tenha sintonia cultural. Tudo bem, isso compensa. Só faço um alerta: as pessoas que você contrata não precisam se tornar seus melhores amigos. É necessário contar com diversidade de personalidades, mesmo em startups. Aversão ou propensão a risco, por exemplo, é questão de personalidade, mais do que um valor.”