Algumas pessoas alimentam a ilusão de que um dia estarão nesta terra livres de todos os problemas. Esse pensamento não passa de superstição. Como diz o aforismo contemporâneo de Ida Feldman, “[enquanto você estiver vivo, vai ter louça para lavar](https://www.instagram.com/p/7C699-Gf38/)”.
O vai-e-vem da pandemia, com mutações, variantes e sobreposição de doenças, abalou as perspectivas profissionais de muitas pessoas. Aprender a planejar, trabalhar e liderar equipes em meio à instabilidade é uma competência crucial em sociedades cada vez mais complexas.
O economista e analista de geopolítica Joshua Cooper Ramo foi um dos primeiros autores a abordar o tema na obra [*A Era do Inconcebível*](https://www.amazon.com.br/era-inconceb%C3%ADvel-Joshua-Cooper-Ramo/dp/8535916547), em 2009. Aplicando a Teoria do Caos ao comportamento organizacional, Ramo anteviu há mais de uma década que as organizações públicas e privadas em todo o mundo precisariam desenvolver capacidades adaptativas para mudanças drásticas que poderiam irromper de uma hora para a outra, como ataques terroristas, catástrofes ambientais e pandemias. Como o cenário global no início dos anos 2020 revela, aprender a conviver com o caos é importante para instituições e para pessoas.
Para gerenciarmos nossa resposta à instabilidade, precisamos compreender com mais clareza o que está em jogo quando enfrentamos situações caóticas. O economista Frank H. Knight explica que a incerteza que sentimos quando somos confrontados com a instabilidade ocorre porque não temos informações suficientes sobre a situação em questão. Ou seja, sentimos certa agonia porque há um descompasso entre a quantidade de informações que temos no momento em relação à quantidade de informação que gostaríamos de ter para tomar decisões.
Psicólogos apresentam abordagens semelhantes, contrapondo o caos à ordem. Enquanto a ordem é representada por um terreno conhecido, o caos é simbolizado pelo território desconhecido. Desse modo, não é difícil perceber que estabilidade e instabilidade são inevitáveis na jornada humana.
Certo grau de instabilidade não é um problema na vida, mas um componente intrínseco da própria vida. Assim, lidar com a instabilidade não é uma questão de comportamento pessimista como “resignar-se diante do caos” ou otimista como “abraçar o caos”, é simplesmente compreender um aspecto básico da vida humana. É algo mais cognitivo do que volitivo.
Em filosofia, a questão em si é epistemológica (ou metaética) e não uma questão comportamental (ética propriamente dita). Se você se interessar em aprender mais sobre esse tópico específico, recomendamos, por exemplo, os trabalhos do filósofo analítico Galen Strawson.
Voltando ao chão da existência, uma vez que a instabilidade é desmistificada, compreendemos que o caos nos força a esclarecer o que é realmente importante e o que não é. Conviver com a incerteza é necessário. Qualquer pessoa que atue no campo da orientação vocacional sabe que a autodescoberta profissional e a autorrealização de alguém geralmente ocorre durante momentos de confusão, desordem e complexidade, e não em momentos de bonança.
Os momentos de extrema incerteza podem clarear em nossa mente o que é mais importante em nossas vidas. Desafios aparentemente intransponíveis auxiliam profissionais a compreender o que realmente querem – normalmente algo menos relacionado ao dinheiro e mais aos entes queridos, à boa saúde, à uma vida com significado.
## Insights para a carreira
1. É ilusão pensar que estamos acima da incerteza: perceba que a instabilidade não é apenas um desafio da vida, ela é a vida.
2. Não é a incerteza em si que é ruim, são as condições que a incerteza cria que causam ansiedade e estresse. Encarar a situação racionalmente é crucial. A incerteza pode ser compreendida como uma lacuna de informações: o cérebro tem menos do que gostaria.
3. A nostalgia pode ser uma armadilha. O desenvolvimento da carreira profissional não está relacionado a recriar tempos passados de suposta estabilidade.