Uncategorized

A vida não é um algoritmo

“(...) Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.”
Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Compartilhar:

Não sei a que tipo de obstáculo Drummond se referia nesta que é uma de suas mais conhecidas poesias, mas a pedra que se precipitou, bem no meio do meu caminho, é um vírus. 

Aliás, no caminho da humanidade. Traz muita dor, mas igualmente ensinamentos (se estivermos a fim de aprender). Pra mim, um brutal aprendizado, é que todo planejamento é passível de falha porque, ao contrário do que a nossa empáfia muitas vezes nos faz crer, a vida não é um #algoritmo. 

Dia desses li o livro Inteligência Artificial, escrito por Kai-Fu Lee, um dos criadores da IA como a conhecemos hoje. No subtítulo, ele entrega a mensagem central da obra: “como os robôs estão mudando o mundo, a forma como amamos, nos relacionamos, trabalhamos e vivemos”.

Kai-fu é o cara. Nascido em Taiwan e radicado na China Continental, já foi presidente do Google China e é considerado um dos maiores especialistas em inovação tecnológica no mundo. E, do alto de seu conhecimento, refuta a tese que a Inteligência Artificial vai acabar com o trabalho humano. 

Vai apenas (se é que se pode dizer apenas nessa situação) mudar a nossa relação com o trabalho, afirma. O futuro que ele prevê tem jornadas menores, mais qualidade de vida e novos campos para o emprego da inteligência e energia humana. 

Tenho certas coisas em comum com Kai-fu, a começar pelo otimismo sobre a relação futura entre homem e máquina. De resto, guardando as devidas proporções, algumas experiências nos aproximam. 

Estudamos Ciência da Computação nos EUA, fora das nossas terras natal mais ou menos na mesma época; trabalhamos em multinacionais; temos uma trajetória acadêmica como pesquisadores e professores; publicamos artigos, pesquisas e livros, e somos investidores-anjo.

Ambos fomos treinados para resolver problemas por meio de algoritmos. E “chegamos lá” porque adotamos um algoritmo para decifrar e otimizar o mundo (ou crack the code – você vai se lembrar que já usei essa expressão por aqui antes). Adotamos uma #estratégia semelhante que nos foi confortável e bem-sucedida por muito tempo.

Se formos analisar por alguns parâmetros do mundo corporativo é inegável que cada um à sua maneira foi bem-sucedido. Por outro lado, uma parte do mundo pode olhar tanto pra mim quanto pra ele e achar que somos seres humanos mal-sucedidos. Isso porque a definição de #sucesso não segue fórmula. A vida não é um algoritmo e, portanto, não espere nada parecido com:

V(s) = Max(∑(Exp)x2 – ∑(d)y + n), onde V= vida, s= sucesso, Exp=experiências e d=dissabores

Acontece que  no meio do caminho de Kai-fu também tinha uma pedra. Um câncer descoberto em estágio avançado, que fez com que ele revisse a relação com o trabalho e questionasse o propósito maior da tecnologia, que deveria estar mais a serviço de nossos problemões, como a miséria e a desigualdade. 

Kai-fu se deu conta de que a vida não é um algoritmo. Sem ter que passar por um baque tão grande quanto o dele, eu também me dei conta disso. Sempre racionalizando tudo, planejando em detalhes. E a vida não é assim. A vida tem surpresas, vide o #Coronavírus. 

A pandemia, sem aviso e sem dó, pôs por terra todo o planejamento do meu período sabático: bagunçou a escola dos meus filhos; eventos, aulas e cursos que eu estava organizando foram cancelados; o trabalho sumiu (não estou de home office, estou em distanciamento social #nãogostodisso); assim como o curso que faria na França (logo onde!). 

Não vai rolar nada disso. E vai demorar pra voltar ao normal. Será que algum dia voltará ao normal? Ou é hora do novo normal como tanto gostamos de repetir? O recado foi claro pra mim: Marcelo, a vida não é um algoritmo e ela não está nem aí para os seus planos, cara pálida. #beijinhonoombro

O ponto é que, às vezes, a gente briga para alcançar determinada posição, usando o subterfúgio de “querer impactar o mundo”. E tudo é apenas desculpa para uma boa massagem de ego, que nos cobra caro, ao dedicarmos tempo mínimo ao que realmente importa, faz sentido ou traz valor. #chegademimimi

Se a imprevisibilidade do mundo sempre dá um jeito de nos surpreender, o importante então é saber lidar com isso. 

Lembro de ter trabalhado com um coach, durante meu tempo na British Petroleum, entre 2006 e 2008, que alertava: não confunda upsets e breakdowns.

 Upsets são pequenos “soluços”, chateações. Breakdowns, sim, são coisas realmente sérias, que te tiram do prumo, requerem reavaliações e dedicação para encontrar a melhor forma de contorná-las. 

Tenho sorte, a consequência do #Coronavírus na minha vida é um upset – ou pelo menos, é assim que devo encará-la. Redirecionar, reacomodar! E seguir, espera-se, com um pouquinho mais de resiliência e versatilidade na bagagem para lidar com as pedras do caminho. Mas confesso que pedi time out pra dar uma refletida.

Então, não faça como eu e o Kai-fu. Não perca tempo levando a vida como se fosse um algoritmo.

Compartilhar:

Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados

O futuro dos eventos: conexões que transformam

Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura